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Setembro Verde: mais de 200 doações de órgãos foram feitas no Pará em 6 meses

Quem ganhou uma nova chance de viver a partir do transplante reforça a importância desse gesto

Camila Guimarães

No Pará, 202 doações de órgãos foram feitas entre janeiro e junho deste ano. O número representa mais da metade (58,8%) do total de 2023, quando 343 doações foram realizadas. Este mês é dedicado à conscientização sobre a importância da doação de órgãos com a campanha 'Setembro Verde'. Quem já precisou de um doador e passou por um transplante enfatiza a necessidade desse gesto de amor ao próximo.

É o caso do aposentado Roberto Campos, de 61 anos, que recebeu um novo fígado em março do ano passado, depois de descobrir um câncer. Ele lembra que tudo começou em 2022, quando procurou um médico para avaliar uma hérnia umbilical. Durante os exames, ele descobriu uma série de complicações no fígado.

"Nos exames foi identificado uma hepatite C com uma carga viral muito alta e uma cirrose em estado avançado. O médico falou que eu teria que correr contra o tempo. Eu fiz o tratamento da hepatite C com medicação. De três em três meses eu voltava para fazer exames. Uns seis meses depois, o médico pediu uma ressonância magnética e foi quando foram identificados dois nódulos no fígado e um deles era cancerígeno, já no estágio mais grave", detalha Roberto.

Devido à gravidade do seu caso, Roberto foi cadastrado na central de transplante como o paciente número um da fila. "As pessoas acham que é questão de dinheiro ou fama, mas na verdade é uma questão de urgência, de prioridade", afirma. Então, começou a espera por um doador compatível. Ele lembra que, após alguns meses de espera, uma doadora foi localizada e, então, tudo aconteceu muito rápido.

"Num belo dia, eu fui acionado por volta de 22h. Soube que a minha doadora foi uma senhora de 50 anos que teve morte encefálica. Aí eu já fui para a Santa Casa para internar. Quando foi 5h, eles informaram que já iam fazer a captação do órgão e marcaram a cirurgia para as 10h da manhã", relata.

Há um ano e seis meses da cirurgia, Roberto descreve que vive uma nova vida. "Na verdade, a sensação de uma nova vida já vem quando você acorda da cirurgia. A gente pensa 'eu nasci de novo', 'foi me dada uma segunda chance'. E aí você pensa muito no doador, na família do doador... Não é fácil. Mas salva vidas".

Como funciona a doação de órgãos

O médico coordenador da Central Estadual de Transplantes, da Secretaria de Estado de Saúde Pública (CET-Sespa), Alfredo Abud, explica que existem dois tipos de doadores de órgãos: os vivos e os falecidos. No caso dos vivos, apenas alguns órgãos podem ser doados, com a condição de não comprometer a saúde do doador, sendo eles um dos rins, parte do pulmão, parte do fígado ou a medula óssea (no caso de tecidos).

Já os doadores falecidos podem doar uma variedade maior de órgãos, como fígado, rins, pulmões, pâncreas, coração, intestino delgado e tecidos. "Para fazer doação de órgãos, basta a pessoa comunicar a sua vontade aos seus familiares. Após o falecimento, a família deve fazer valer a vontade da pessoa", diz Alfredo Abud.

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As doações de pessoas falecidas só acontece com a autorização da família, que, no caso de morte do ente familiar, recebe todo apoio de uma Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (Cidots):

"Só se fala em doação para paciente em óbito após constatar realmente o óbito por morte encefálica, quando o cérebro para de funcionar, mas o organismo mantém as funções vitais com o coração bombeando. Essa comissão acompanha todo o processo de perto e, no momento oportuno, após o diagnóstico da equipe médica com certificação em morte encefálica, a comissão começa a abordar a família sobre as chances de doação", detalha o médico.

Já no caso de doadores vivos, é necessário ter algum grau de parentesco com o receptor ou uma autorização judicial para que o transplante seja feito: "Primeiro, a pessoa precisa ter entre 18 e 60 anos e estar saudável. Depois, ela precisa ser parente em até 4º grau da pessoa que está necessitando de transplante. Se não for, precisa de uma autorização judicial. Além disso, ela passa por uma avaliação médica de compatibilidade com o paciente e de estado de saúde. A comissão médica precisa avaliar se a doação em vida não vai prejudicar o doador".

O médico esclarece que a doação de órgãos em vida não pode ser feita para qualquer pessoa na fila de espera, sendo diferente, por exemplo, da doação de medula óssea, para a qual existe um banco de dados em que as informações de doadores são cruzadas com as de receptores para promover a doação em qualquer parte do país.

Alfredo Abud informa que, no Pará, os números de transplantes vêm crescendo para diferentes órgãos, com destaque especial para o transplante de córnea. "Hoje, o Pará está no 11º lugar nesse tipo de transplante no Brasil e o hospital Ophir Loyola é referência nacional".

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