Setembro Amarelo: conheça os sinais de alerta para prevenção do suicídio
No mês da campanha nacional de conscientização e prevenção, o psicólogo Leivanio Rodrigues orienta que qualquer mudança de comportamento merece atenção especial
O suicídio é um ato de comunicação. Dessa forma, qualquer mudança de comportamento necessita de atenção especial, pois pode representar um pedido de socorro. Quem alerta é o psicólogo e psicanalista Leivanio Rodrigues, que contextualiza a importância da data 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, e do "Setembro Amarelo", campanha nacional da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), junto ao Conselho Federal de Medicina (CFM), que visa conscientizar a população sobre os fatores de risco para o comportamento suicida.
"O suicídio é um fenômeno bastante complexo, de múltiplas deliberações, mas saber reconhecer os sinais de alerta pode ser o primeiro e mais importante passo. Isolamento, mudanças marcantes de hábitos, perda de interesse por atividades de que gostava, vítima de bullying, descuido com aparência, piora do desempenho na escola ou no trabalho, alterações no sono e no apetite, frases como 'preferia estar morto' ou 'quero desaparecer' podem indicar necessidade de ajuda", alertou Leivanio Rodrigues.
"Aquelas frases 'quem se mata não avisa' é mito, alguns avisam sim e não são levados a sério. Muitos órgãos públicos estão preparados para acolher essa demanda, como os CAPS II, Urgências e Emergências que possuem equipes multiprofissionais e em Belém, o Hospital de Clínica Gaspar Viana. Mas a melhor prevenção ainda é falar sobre o que sente, escuta profissional e debater mais e mais sobre o tema suicídio", orientou o psicólogo.
De acordo com Leivanio, o fenômeno é a quarta maior causa de morte entre pessoas de 15 a 35 anos no Brasil. Entre os homens nesta faixa etária, é o terceiro motivo mais comum; entre as mulheres, o oitavo. "Os homens se matam mais, e isso, possivelmente, pode estar ligado à cultura, à exigência de um padrão de comportamento masculino que demanda desses sujeitos do gênero masculino silenciarem o que sentem".
As causas são diversas: patologias mentais, dívidas, término de relacionamento, doenças terminais, bullying, culpa, morte de ente querido, em nome da moral e honra etc. No entanto, de acordo com a ABP, os transtornos mentais representam 96,8% dos casos de morte por suicídio. "Parece que, possivelmente, está ligado à perda de algo, aquilo que desestrutura o sujeito psiquicamente, mas isso é somente um dos gatilhos para uma ideação suicida. Também é importante frisar que nem todo sujeito que comete suicídio possui depressão, embora as patologias mentais sejam as maiores causas de passagem ao ato nesses sujeitos", explicou Leivanio.
Segundo o psicanalista, normalmente quem tem ideação suicida ou já tentou o suicídio não necessariamente quer morrer, mas, sim, acabar com a dor, o peso ou a vergonha ocasionados naquele momento ou naquela situação. "É um sofrimento inominável. O sujeito não consegue uma representação psíquica para aquele sofrimento e pode ter êxito no ato. Então, se houver oferta de intervenção com escuta profissional, tanto psicológica, como psiquiátrica, pode-se salvar uma vida desses sujeitos que só enxergam a morte como única saída", concluiu Leivanio Rodrigues.
Números do Pará
Segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), só entre janeiro e junho deste ano, o Pará registrou 301 internações de indivíduos com diagnóstico de “transtornos de humor (afetivos)”. No decorrer de 2018, o número de internações pelo mesmo motivo chegou a 657. Em relação ao número de mortes, as estatísticas ainda trabalham com evidências de suicídio, com nomenclaturas que variam entre “lesões autoprovocadas” e “autointoxicações”.
Dessa forma, os números mais recentes do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do SUS, registram que, no ano retrasado, 301 pessoas morreram no Estado devido a lesões como enforcamento, uso de objetos cortantes, de explosivos e de armas brancas e de fogo. Além desse quantitativo, outras 6 pessoas foram a óbito devido às autointoxicações.
Recomendações da Sespa
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) recomenda que as Secretarias Municipais de Saúde estejam mobilizadas em relação ao mês mundial de prevenção do suicídio. Em se tratando de saúde pública, a Sespa reforça que os profissionais da Atenção Primária tenham mais visibilidade sobre o tema de forma a contribuir para diminuição da incidência de suicídios nos Estados e para o combate e conscientização das possíveis causas, como o bullying, os transtornos mentais e os problemas familiares e sociais.
"No protocolo do Sistema Único de Saúde (SUS), o suicídio é um fenômeno complexo e multifacetado, que pode afetar indivíduos de diferentes, origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero. Dentre as intervenções universais de prevenção do suicídio, destacam-se as relativas à restrição aos meios de suicídio (controle de armas de fogo e de acesso a agrotóxicos), a redução do uso prejudicial de álcool e outras drogas e a conscientização da mídia para comunicação responsável sobre o tema", destacou a Sespa.
Onde procurar ajuda
As Unidades Básicas de Saúde são a porta de entrada para quem procura ajuda. Os pacientes com suspeita de ideias de suicídio podem ser levados diretamente aos Centros de Atenção Psicossociais (Caps), que são locais de referência pública para tratamento de transtornos de humor e doenças mentais. O Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, referência em Psiquiatria no Pará, mantém atendimentos em casos de urgência e emergência e para ocorrências mais severas
A Sespa também lembra que pessoas que sofrem com a depressão e não conseguem buscar ajuda de profissional de saúde ou, mesmo aquelas com risco de suicídio, podem buscar apoio em conversas com os voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188. Pelo serviço, que passou a ser feito em parceria com o SUS, os cidadãos recebem apoio em momentos de crise e ajuda para prevenção ao suicídio.
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