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VÍDEO: Muçulmanos no Pará vivenciam período sagrado do Ramadã

Nono mês do calendário islâmico começou no dia 12 de abril e segue até 12 de maio

João Thiago Dias e Thiago Gomes

Jejum e muitas orações com a cabeça prostrada sobre um tapete marcam, anualmente, durante um mês, em vários países do mundo, o Ramadã, período sagrado para os muçulmanos. É o nono mês do calendário islâmico, que varia de acordo com o posicionamento da lua. É quando é recordado o momento em que Alá (Deus) revelou o texto do Alcorão (livro sagrado do islamismo) ao profeta Maomé. E é quando a comunidade muçulmana se esforça ainda mais para realizar ações de bondade e evitar o pecado.

Em 2021, o Ramadã começou no dia 12 de abril e segue até 12 de maio. Os primeiros dez dias são dedicados à misericórdia. Os segundos dez dias são voltados ao perdão. Já os dez últimos são para salvação do inferno com orações intensificadas. Durante este período, são cumpridos cinco horários de orações diárias em casa (5h, 12h30, 15h30, 18h30 e 20h), que duram cerca de dez minutos cada. Antes disso, por volta das 4h30, é feito um lanche rápido para sustentar o corpo ao longo dia em jejum.

Esse ato de fé está bastante presente em Belém. Quem explica é o primeiro paraense a se converter ao Islã, Hussein ibn Damasceno, de 78 anos. Ele é presidente e fundador da Associação Islâmica de Belém, que conta com cerca de 40 participantes, dentre brasileiros, africanos, egípcios, marroquinos, tunisianos e paquistaneses. "Ainda não tem mesquita [local de culto dos seguidores da fé islâmica] no Pará. A mais próxima fica em Manaus. Fazemos as orações na mussala [sala de reuniões], que funciona na minha casa, no Jurunas", contou.

No entanto, por conta da pandemia da covid-19, a tradição sofreu algumas adaptações na capital. "Em alguns países do Oriente Médio, onde a pandemia já melhorou, já tem muçulmano indo rezar nas mussalas. Como o Pará ainda estava no bandeiramento vermelho, não queremos arriscar a saúde da comunidade. Cada um fica restrito orando na sua casa, inclusive às sextas-feiras, quando seria a oração coletiva na mussala. Mas ficam se comunicando comigo por telefone, pedindo orientações e cumprindo o jejum", relatou Hussein.

"Em alguns países do Oriente Médio, onde a pandemia já melhorou, já há muçulmanos indo rezar nas mussalas. Como o Pará ainda estava no bandeiramento, não queremos arriscar a saúde da comunidade. Cada um fica restrito orando na sua casa. Mas ficam se comunicando comigo por telefone, pedindo orientações e cumprindo o jejum", conta Hussein ibn Damasceno

O Ramadã não é obrigatório quando a pessoa tem uma doença sem cura, é muito idosa, está menstruada, lactante, grávida ou está viajando ou passando por alguma enfermidade que a impeça de jejuar. "E também temos que nos abster de tomar remédio com água. Se realmente precisar, o fiel terá que pagar esse dia quebrado em outra época do ano", detalhou o líder da Associação Islâmica de Belém.

Provas de amor


O jejum é avaliado como uma das maiores provas de amor a Deus. "Nos primeiros dias, é muito difícil. A gente come bem cedinho, um lanche e umas frutas também. Bebe água e pronto. Tem que ficar sem comer nem beber o restante do dia. Nem ter relações sexuais. É a maior prova de amor a Deus. Um sacrifício muito grande. E sacrifício é prova de amor", explicou Hussein.

"Nos primeiros dias, é muito difícil. A gente come bem cedinho, um lanche e umas frutas também. Bebe água e pronto. Tem que ficar sem comer nem beber o restante do dia. Nem ter relações sexuais. É a maior prova de amor a Deus. Um sacrifício muito grande. E sacrifício é prova de amor", explica Hussein

A forma prostrada de orar é uma marca bastante simbólica entre os muçulmanos. O fiel se inclina para a frente, em sinal de respeito a Alá. A testa toca o tapete especial. "A nossa religião diz que só podemos rezar prostrados, porque Jesus orava assim. Dependendo da necessidade da oração, você pode orar entre cinco e dez minutos. Mas a oração das 20h pode ser mais longa, mas sem passar da meia-noite", lembra Hussein.

São cinco as ocasiões obrigatórias de oração ao longo dos dias, e isso também se mantém no Ramadã. E ao contrário do que muitos pensam, não é em direção ao Sol que a oração ocorre. E nem é isso obrigatório, mesmo em algumas ocasiões, seja ao nascer do astro, seja ao pôr do sol. Em alguns casos, se assim for desejado, o Sol é usado apenas como um indicador para que se posicione na posição certa, onde quer que se esteja. Lembremos: é em direção a Meca, em especial à Kaaba, aquele cubo preto que fica no centro dessa cidade, que todos os corações ao redor do mundo se voltam. E que assim seja por muitos anos outros a manterem essa rica tradição.

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