Professora da UFPA ganha prêmio "Para Mulheres na Ciência" promovido pela Unesco

O objetivo da premiação é de estimular a inclusão e reconhecer trabalhos feitos por mulheres na ciência brasileira

O Liberal
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A ecóloga Thaísa Sala Michelan, professora doutora da Universidade Federal do Pará (UFPA), foi premiada pelo programa "Para Mulheres na Ciência". É uma das muitas formas de incentivo à ciência, que se tornou protagonista neste período pandêmico. O trabalho realizado por milhares de pesquisadores — com cada vez mais participação de mulheres — impacta a vida cotidiana e auxilia em diversas áreas. A premiação da pesquisadora veio da iniciativa privada, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC). Outras seis cientistas foram agraciadas.

A pesquisadora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) foi reconhecida na categoria "Ciências da Vida", pelo estudo das plantas aquáticas da Amazônia, em especial aquelas presentes no Pará. "Eu sou curitibana e quando cheguei ao Pará, o meu foco principal era trabalhar com plantas exóticas e avaliar o impacto dela nos ambientes aquáticos. Isso mudou quando cheguei à capital e vi a relação da população com a água, os rios, riachos, e a falta de conhecimento que nós temos sobre as plantas aquáticas. Ainda há muita coisa para conhecer", explica Thaísa.

Em diversas ocasiões, enquanto realizava o doutorado em outro estado, a docente colaborou com a UFPA, mas somente em setembro de 2016 que ela tornou-se professora da instituição e se dedicou ainda mais ao projeto. O foco da pesquisa é em dois pontos: conhecer a biodiversidade aquática e como os impactos da ação humana, com a introdução de uma espécie exótica, afetam o ambiente. A falta de conhecimento sobre o assunto e o anseio de tentar achar respostas para algumas perguntas ecológicas foi o que instigou a pesquisadora.

Com o avanço da vacinação e diminuição dos impactos da pandemia, a ecóloga planeja iniciar as pesquisas em campo com os discentes do instituto em janeiro de 2022. Ela se prepara para percorrer ambientes aquáticos do estado para identificar novas espécies e entender como as atividades humanas impactam a ocorrência dessas plantas.

"A importância das plantas aquáticas para a população é enorme. Elas são um ótimo indicador da condição da água. Algumas espécies conseguem participar ativamente da filtragem e melhora a qualidade do que chega até a nossa torneira. É o caso do Parque do Utinga, onde temos muitas plantas aquáticas que participam desse processo para melhorar a água que é distribuída para a população", pontua.

 

Cortes em recursos para o Ministério da Ciência poderia impactar na pesquisa

Cada pesquisadora foi contemplada com uma bolsa auxílio de R$50 mil, para desenvolver as pesquisas pelos próximos 12 meses. Para a docente, o prêmio será essencial para ajudar na estrutura e trabalhos que desenvolve no laboratório. 

"A premiação é um estímulo tanto financeiro, quanto psicológico em um momento tão difícil que nós estamos passando. Vai auxiliar na formação dos meus alunos, principalmente nesta conjuntura que estamos sofrendo cortes bruscos dentro da universidade. Sem o recurso da premiação, ficaria mais difícil essas atividades dentro do instituto. A gente ainda conta com ajuda de alguns projetos públicos e algumas empresas privadas que também colaboram para não deixar que a nossa pesquisa morra", desabafa a professora.

image A premiada Thaisa Sala Michelan, curitibana, está no Pará desde 2016 como docente e pesquisadora da UFPA (Ivan Duarte / O Liberal)

Ainda sobre os cortes de quase 95% no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Thaísa Michelan afirma que recebeu a notícia com muita tristeza, principalmente porque cada projeto envolve muitas vidas. Para ela, os impactos dessa retirada de recursos irão ecoar por décadas. 

"Nunca precisei interromper a pesquisa por falta de verba. O que acontece muitas vezes são as "gambiarras" da vida. Quando é mais básico, criamos um equipamento com baixo orçamento, em vez de comprar. Sempre damos um jeito de driblar a falta de recurso, mas está cada vez mais difícil. Temos cada vez mais alunos interessados e fica difícil manter quando não temos muitas verbas disponíveis", afirma

 

Professora acredita que a premiação ajuda a incentivar outras meninas na pesquisa

Durante a trajetória acadêmica, a professora conta que foi orientada por homens que nunca a diferenciaram dentro de um laboratório. Era um local muito saudável para fazer pesquisa, para desenvolver os trabalhos e os direitos eram dados a todos no laboratório da mesma forma. Porém, ressalta que ainda existem dificuldades dentro da academia em relação a isso e que as mulheres lutam diariamente.

Além de contribuir para a igualdade de gênero na área, iniciativas como essas, mostram que as mulheres são capazes de realizar grandes feitos e que os trabalhos realizados por pesquisadores são importantes, ressalta Thaísa. 

"É muito importante mostrar para outras meninas inspirações mulheres. Se a gente fizer algumas análises próprias, muitas vezes, as nossas respostas são machistas. Então iniciativas que premiem mulheres e mostrem o que elas fazem, inspira estudantes para que elas permaneçam dentro da pesquisa, dentro de uma empresa. O lugar da mulher é onde a gente quiser. Não estimula somente a presença da mulher dentro da ciência, como também auxilia as pesquisas científicas nas instituições de ensino", finaliza a pesquisadora.

 

(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)

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