MENU

BUSCA

Primeira quilombola promotora de Justiça do Brasil atua no Pará

Do Quilombo Jutaí, em Monção, município maranhense com pouco mais de trinta mil habitantes, Karoline Maia, que passou a atuar na função no município paraense de Senador José Porfírio este ano, foi a entrevistada da reportagem de o Liberal desta semana

Igor Wilson

A nomeação da maranhense Karoline Bezerra Maia como promotora de Justiça do Ministério Público do Estado do Pará, se tornando a primeira quilombola a ocupar o cargo na história do Brasil, é uma das notícias mais marcantes do ano em todo o País. Do Quilombo Jutaí, em Monção, município maranhense com pouco mais de trinta mil habitantes, Karoline Maia, que passou a atuar na função no município paraense de Senador José Porfírio este ano, foi a entrevistada da reportagem de o Liberal desta semana, contando os detalhes de sua trajetória até aqui, além de deixar um recado a todas que desejam uma melhora de vida.

VEJA MAIS

1. Karoline, sua trajetória é um exemplo inspirador de resiliência e determinação. Como você manteve sua motivação ao longo de tantos desafios, especialmente quando enfrentou momentos em que parecia impossível alcançar seus objetivos?

A minha motivação veio principalmente da minha fé em Deus. Eu acreditava que, com a ajuda divina, seria possível superar qualquer obstáculo. Além disso, sempre tive a convicção de que a educação era a única maneira de transformar a minha vida e alcançar uma condição melhor. Acreditava profundamente que a educação tem o poder de libertar e abrir portas que, de outra forma, permaneceriam fechadas. Essa combinação de fé e crença no poder transformador da educação foi o que me manteve firme nos momentos mais difíceis, quando tudo parecia impossível."

2. Qual foi o maior desafio que você enfrentou em sua jornada até se tornar promotora de Justiça e como superou esse obstáculo? E qual conquista pessoal ou profissional você considera a mais significativa até agora?

"Os maiores desafios foram problemas financeiros e a incerteza se um dia daria certo. A conquista mais significativa até agora é ter alcançado a posição de promotora de Justiça, superando todas as adversidades."

3. Você é a única de sua família a possuir um diploma universitário e valoriza a educação. Quais são suas visões sobre a melhoria da educação em comunidades quilombolas e rurais, e como o Ministério Público pode contribuir para essas melhorias?

A melhoria da educação em comunidades quilombolas e rurais passa por um maior investimento em infraestrutura, formação de professores e políticas públicas inclusivas. O Ministério Público pode contribuir fiscalizando a aplicação dessas políticas e garantindo que os direitos dessas comunidades sejam respeitados.

4. Você nasceu e foi criada em São Luís porque seu município não tinha maternidade nem condições estruturais. Como você fez para manter as raízes?

Tive que nascer na capital maranhense porque não tinha maternidade na minha cidade, além de outros tipos de estruturas. Na época, como ainda hoje, era normal. Então meus pais, vendo que na capital poderiam me dar melhores oportunidades, decidiram viver em São Luís, onde consegui acesso a uma boa educação, estudando na rede pública e depois sendo bolsista de uma rede de educação privada.

5. A perda de seu pai anos antes de assumir o cargo de promotora lhe marcou de qual forma?

Meu pai sempre teve muito orgulho de mim, sempre me incentivou a estudar, adorava dizer que tinha uma filha doutora depois que me formei. Vê-lo partir foi doloroso, mas antes de morrer ele fez eu prometer que seguiria lutando pelos meus sonhos. Aquilo foi marcante, ali decidi que iria entrar para o Ministério Público, que foi o que sempre quis”. 

6. Como você vê seu papel na promoção da justiça social e dos direitos das minorias na região de José Porfírio? Há projetos específicos que você já está desenvolvendo?

O papel de diferença na sociedade é inerente a todo e qualquer promotor, pois o Ministério Público é responsável pela promoção dos direitos sociais e direitos coletivos. Os projetos que eu desenvolvi foram os constantes no plano de atuação

7. Você se considera preparada para enfrentar muitas vezes interesses alheios que podem vir de dentro do Estado? Tem medo?

A atuação do Ministério Público é bem complexa, ela não é limitada, é muito diversa, e não há como ter uma cartilha com todos os procedimentos. Como minha colega Camila, no dia da nossa posse, mencionou, ser promotor requer duas coisas: indignação e coragem. Então, é na prática que iremos aprender como lidar com determinada situação

8. Como é seu dia a dia como promotora de Justiça em uma comarca interiorana do Pará? Quais são os maiores desafios que você enfrenta?

Meu dia a dia envolve uma série de atividades, desde a análise de processos e atendimento ao público até a participação em audiências e inspeções. Os maiores desafios são a limitação dos recursos humanos e a necessidade de atender a uma demanda crescente com uma estrutura limitada

9. Quais conselhos você daria para aquelas jovens que se inspiram em você e que sonham em seguir uma carreira na Justiça ou em outras áreas tradicionalmente dominadas por homens brancos de classe média?

Acreditem em si mesmas e no poder transformador da educação. Não deixem que os obstáculos desviem vocês de seus sonhos. Busquem apoio, mantenham-se firmes em seus objetivos e lembrem-se de que a representatividade importa. Vocês são capazes de alcançar qualquer posição que desejarem.

Pará