Prevenção contra a covid-19 pode ter reflexo direto na queda no número de casos de meningite
Pará teve declínio de notificações de meningite em 41,76% em 2020, se comparado com 2019
A pandemia da covid-19, que já levou à morte milhões de brasileiros, pode ter também seus reflexos na diminuição de casos de meningite no Estado. De 2016 a 2019, houve aumento no número de casos de meningite. Porém, teve um declínio de notificações em 41,76% no ano de 2020, ao ser comparado com 2019. As faixas etárias mais atingidas foram pessoas de 15 a 49 anos, pois concentram 56,74% dos casos, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa).
Em uma década, de 2011 a 2020, desde que foi fundada a Unidade de Diagnóstico de Meningite (UDM), em Belém, capital paraense, foram notificados 11.669 casos suspeitos de meningite no estado do Pará. Nesse período, na UDM, foram notificados 9.581 casos suspeitos, sendo 3.058 diagnósticos confirmados, tendo como a mais prevalecente a meningite asséptica ou viral, responsável por 36,5% dos casos.
Os dados são da UDM, do Hospital Universitário João de Barros Barreto, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (UFPA)/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Desde 2011, a UFPA possui a UDM, serviço vinculado à Sespa, que oferece o atendimento de urgência referenciada, diagnóstico e tratamento da doença.
Em relação à queda em 41,76% nos casos de meningite no Estado, de 2019 a 2020, a Sespa diz acreditar que as orientações de medidas de prevenção contra a covid-19, como o distanciamento social e o uso de máscaras, “podem ter influência direta na diminuição da transmissão e, logo, na ocorrência de casos e óbitos da meningite”.
Apesar de mais de um ano da pandemia da covid-19, com mais de 400 mil brasileiros mortos e 14,6 milhões infectados, sendo 13 mil óbitos e 471 mil infectados no Pará, até a última sexta-feira (30), a Sespa declara que, nesse tempo, “não houve nenhum prejuízo ao atendimento e tratamento dos pacientes com meningite no Pará”.
Há cerca de cinco anos, a dona de casa Marleide Braga, 41 anos, foi vítima da meningite e teve que ser socorrida pela irmã para buscar ajuda médica. “No primeiro dia, sentia muitas dores no pescoço, na cabeça e na nuca, e achava que tinha dormido de mal jeito, mas a dor foi aumentando. No terceiro dia, começaram os vômitos e enjoos. No quarto dia, fiquei jogada no chão, não conseguia falar e com a visão muito embaçada. Eu morava só, minha irmã chegou em casa e me levou para o PSM do Guamá”, conta a dona de casa.
Lá no PSM, o médico percebeu rigidez na nuca de Marleide e segundo ela, logo, se alertou, desconfiou ser meningite e a encaminhou, com urgência, para a UDM do Barros Barreto. “Graças a Deus o médico foi atento e tinha leito pro Barros, onde logo também confirmaram, por meio de exame, que era meningite, fui logo medicada e fiquei dois dias no isolamento. Depois, no lugar de 14 dias, fiquei 30 dias na enfermaria, para investigação de cefaléia. Deu tudo certo e saí curada”, agradece.
Marleide, que teve a doença na forma bacteriana, conta ainda que redobrou os cuidados com a casa, incluindo a higiene. “O médico me disse que eu posso ter adquirido a doença por algum ácaro, já que minha casa tinha muitos mofos e infiltrações. Desde que tudo ocorreu, resolvi todos esses problemas em casa e a mantenho sempre sequinha, limpa e ventilada”, afirma a mulher.
A transmissão é de pessoa a pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta
A meningite é uma inflamação das meninges, que são as membranas que envolvem o cérebro. Existem diversos tipos de meningite, e para cada um deles há causa e sintomas específicos.
Segundo a médica infectologista Helena Brígido, ambientes geralmente fechados, sem circulação de ar e insalubre, são propícios à meningite, a qual em geral é transmitida de pessoa a pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta.
"A meningite é uma doença potencialmente grave, porque pode matar e pode ser causada por bactérias, vírus, fungos, parasitas e também por agentes não infecciosos. Nos casos das bacterianas, as mais frequentes e que causam a doença nas formas leve, moderada ou grave são as Pneumocócica, Meningocócica e Haemophilus influenzae”, explica a médica.
Vacinação
A Secretaria frisa ainda que a vacinação é considerada a forma mais eficaz na prevenção da doença. E que as os imunizantes contra a doença estão disponíveis nas Unidades de Saúde, para menores de cinco anos de idade, e para os adolescentes, de 11 a 12 anos de idade.
Em caso de sintomas, onde ir?
A Sespa alerta que quem apresentar sintomas da doença como náuseas, vômitos, crise convulsiva, dores musculares e nas articulações. Além de tonturas e fotofobia deve procurar Unidades de Atendimento de Urgência e Emergência do seu município, tais como as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), hospitais municipais e prontos socorros.
Em caso de suspeita de meningite pelo profissional, a Sespa explica que ele (profissional) referenciará o paciente para a Unidade de Diagnóstico de Meningite (UDM), onde serão realizados os exames para confirmação do diagnóstico. “Dependendo do resultado, o profissional médico institui, o mais precocemente possível, antibioticoterapia específica contra o agente causador”, afirma a Sespa.
“O serviço é de referência estadual e possui leitos de isolamento e leitos clínicos. Caso o paciente apresente os sintomas da doença, ele deve se dirigir a uma das Unidades de Atenção Primária em Saúde, que vai realizar o encaminhamento do paciente à UDM para diagnóstico e tratamento”, completa a Assessoria de Comunicação do Complexo Hospitalar da UFPA.
Doença
A causa da meningite varia de acordo com o tipo. A mais comum das meningites é aquela causada por vírus, mas há casos também da doença provocada por bactérias. Menos comum, a meningite causada por fungos, também pode surgir. A meningite bacteriana é a mais grave de todas.
A bacteriana ocorre geralmente quando a bactéria entra na corrente sanguínea e migra até o cérebro. Pode acontecer, também, de a doença ser desencadeada após uma infecção no ouvido, fratura ou, mais raramente, após alguma cirurgia.
Existe mais de uma bactéria capaz de transmitir a doença: Streptococcus pneumoniae (pneumococo), Haemophilus influenzae, Listeria monocytogenes e Neisseria meningitidis.
Sintomas
Os primeiros sinais de meningite, quando manifestados, são facilmente confundidos com os sintomas típicos da gripe. Eles geralmente aparecem de algumas horas até dois dias após a infecção.
Os sintomas mais comuns da meningite são febre alta repentina, forte dor na cabeça, pescoço rígido, vômitos, náuseas, confusão mental, dificuldade de concentração, convulsões, sonolência, fotossensibilidade, falta de apetite, rachaduras e presença de manchas vermelhas na pele. Diante de qualquer sintoma desses é indicado procurar atendimento médico.
Bebês recém-nascidos portadores de meningite também podem apresentar febre, dor de cabeça, vômitos, confusão, rigidez corporal, moleira tensa ou elevada e inquietação. Às vezes, apenas irritabilidade em crianças ou choro fácil, diferente do normal, pode ser um indício de uma meningite.
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