Pesquisadoras da UFPA encontram microplásticos em tartarugas de água doce amazônicas
A pesquisa teve como objetivo principal demonstrar que as tartarugas da Amazônia já estão sendo impactadas pelos plásticos
Um grupo de pesquisadoras vinculadas ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia Aquática e Pesca da UFPA identificou resíduos plásticos em quelônios de rios da Amazônia, uma importante descoberta no campo dos estudos sobre impactos dos microplásticos na fauna aquática. A pesquisa First Report of Plastic and Artificial Cellulose Ingestion by Freshwater Turtles in the Amazon, publicada na Revista internacional Water, Air, & Soil Pollution, teve como objetivo principal demonstrar que as tartarugas da Amazônia já estão sendo impactadas pelos plásticos, uma vez que, até o momento, as pesquisas mais conhecidas acerca do tema tinham abordado somente quelônios marinhos e tartarugas de água doce de outras regiões.
Em entrevista à assessoria da UFPA, Tamires de Oliveira, coautora da pesquisa e doutora pelo PPGEAP (UFPA), afirmou que as descobertas são indicativos de problemas maiores nas comunidades e cidades amazônicas. “Esses resultados podem indicar uma mudança nos hábitos das populações da Amazônia. A gente vai ter um uso muito maior de sacolas plásticas, por exemplo, e uma mudança também no tipo de roupa, porque essas malhas têxteis não são criações antigas, elas são muito recentes”, ressalta Tamires sobre os microplásticos de origem têxtil encontrados no trato digestivo dos quelônios, como a celulose artificial.
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Esse “lixo têxtil” advém, principalmente, da lavagem de roupas de fibras sintéticas como o poliéster e a viscose, que soltam fios microscópicos durante a limpeza. Quando não tratada adequadamente, ou seja, quando o saneamento básico é inexistente ou precário, a água descartada das lavagens é jogada diretamente nos rios, transportando todos os resíduos têxteis junto com ela.
“Isso se torna mais grave se a gente pensar que esses bichos fazem parte da dieta das populações tradicionais na Amazônia. Eles são um recurso alimentar muito importante. Então, falando de insegurança alimentar principalmente, a gente precisa preservar esses animais pensando em como manter também a alimentação dessas populações”, destaca Tamires.
Os quelônios, também conhecidos como “tartarugas” ou “cágados”, habitam não apenas os oceanos mas também os rios. Tracajás, muçuãs e pitiús, por exemplo, são nomes populares de alguns dos quelônios de água doce mais conhecidos (e consumidos) pela população amazônica. “A gente acabou encontrando a presença de polímeros artificiais (celulose artificial e microplástico) em 20% dos tracajás (Podocnemis unifilis) analisados do Rio Iriri, que é um dos principais afluentes do Rio Xingu e é uma área de certa forma bem preservada. Não era esperado a gente encontrar esses polímeros lá. Já nos muçuãs, (Kinosternon scorpioides) encontramos polímeros artificiais em 60% dos indivíduos analisados”, comenta Ana Laura Santos, a primeira autora do estudo, que teve orientação do professor Marcelo Ândrade, do Núcleo de Ecologia Aquática e Pesca da Amazônia (NEAP), explicou a Ascom da UFPA.
Os tracajás estudados por Ana Laura e seus colegas foram encontrados em uma unidade de conservação de proteção integral, a Estação Ecológica Terra do Meio, e, ainda assim, não escaparam da ingestão dos polímeros artificiais. Os muçuãs analisados, por sua vez, vieram do Marajó, de Cachoeira do Arari. Segundo a pesquisadora, a possibilidade é que a maior parte dos polímeros artificiais venha da lavagem de roupas (especialmente a celulose artificial) e de materiais de pesca.