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Pesquisa revela detalhes sobre a interação entre pescadores e peixes no Pará; confira

Dados podem contribuir para entender e monitorar as mudanças que estão ocorrendo nos ambientes onde as espécies vivem

Andria Almeida / O Liberal

Dados sobre a posição que peixes e predadores ocupam na cadeia alimentar, nos rios Tapajós e Tocantins, podem contribuir para entender e monitorar as mudanças que estão ocorrendo nos ambientes onde vivem. Pesquisa mostrou que o conhecimento dos pescadores sobre a cadeia alimentar de peixes e predadores é de fundamental importância para compreender as interações prejudiciais e produzir dados precisos e eficazes sobre os peixes e os seus principais predadores nos rios Tapajós e Tocantins, na Amazônia brasileira.

De acordo com a pesquisa, ambientes de água doce estão entre os mais alterados e ameaçados do mundo. O estudo revelou ainda fontes de informações desconhecidas da literatura científica sobre animais predadores. A falta de dados e recursos, tanto financeiros quanto humanos, é um problema que afeta a conservação dos recursos naturais.
Informações do conhecimento dos pescadores podem ser incorporadas ao manejo e conservação dos recursos naturais, especialmente em espécies e ecossistemas ameaçados pela atividade humana e que carecem de dados ecológicos. Os estudos comprovam o enorme conhecimento que os pescadores têm sobre os peixes e suas interações ecológicas com outras espécies e todo o ecossistema.

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Para Gustavo Hallwass, professor da Ufopa Campus Oriximiná, um dos participantes da pesquisa, “esse trabalho novamente comprova o enorme conhecimento que os pescadores têm sobre os peixes e suas interações ecológicas com outras espécies e todo o ecossistema. Esse conhecimento tradicional é passado através das gerações e pode ser considerado um patrimônio cultural das populações ribeirinhas amazônicas, devendo ser respeitado, preservado e considerado em políticas públicas relativas ao manejo e conservação dos recursos naturais”.

Uma das pesquisadoras que liderou o estudo, a doutoranda em Ecologia Paula Pereyra, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, explicou que a pesquisa foi realizada a partir de entrevistas com pescadores para tentar compreender quais são os alimentos dos peixes e quem são os organismos que se alimentam deles. “Nós realizamos análises químicas, chamadas de ‘análise de isótopos estáveis’, técnica que mede o nível trófico dos peixes em laboratório, que seria a posição que eles ocupam nas teias alimentares. Além disso, a partir de entrevistas, fizemos cálculos, baseados nas informações do conhecimento dos pescadores, e comparamos com os dados obtidos através das informações das análises realizadas em laboratório”.

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O resultado, segundo a pesquisadora, é que os pescadores têm conhecimento muito detalhado a respeito da biologia dos peixes. “Os dados que os pescadores informaram foram muito próximos ao compararmos com a análise química. Por que é importante conhecermos os níveis tróficos? Porque estão ocorrendo muitas mudanças nos ambientes e, a partir das interações tróficas entre os organismos, nós podemos avaliar e detectar essas mudanças”, afirmou, ao acrescentar que existem pouquíssimos estudos, especialmente sobre os predadores: “Estudos sobre os recursos alimentares de predadores maiores são de difícil obtenção, a exemplo dos botos, ameaçados de extinção”.

A pesquisa, ainda segundo Paula Pereyra, foi uma forma de aprender mais sobre o ambiente e os organismos que o habitam. “A ideia foi avançar no conhecimento a respeito das mudanças ambientais, especialmente em rios da Amazônia que requerem estudos, como o Tocantins, um dos mais modificados por ações antrópicas na bacia Amazônica, e o Tapajós, que já sofre com a ação dos garimpos ilegais, além de projetos de hidrelétricas que estão para serem implementados. Todos esses fatores podem influenciar os peixes, os predadores e consequentemente as populações ribeirinhas que dependem dos peixes para alimentação”, finalizou.

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Além de Paula Pereyra, a pesquisa também foi liderada pelo professor Renato A. M. Silvano, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e contou com a participação do professor Gustavo Hallwass, da Ufopa/Oriximiná, e do professor Mark Poesch, da Universidade de Alberta (Canadá).

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