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Pesquisa diz que salmão, atum e sardinha são os peixes favoritos do Brasil. O Pará discorda.

Com cerca de 3 mil peixes e culturas alimentares diferentes, paraenses têm gostos na contramão do estudo

A pesquisa “Hábitos alimentares dos brasileiros – preferências, dietas e tendências de consumo”, feita pela Banca do Ramon — uma tradicional loja do Mercado de São de Paulo — aponta que salmão, atum, sardinha e cavalinha são os peixes favoritos dos brasileiros. Mas essa pesquisa, nem de longe, reflete a realidade do Pará e outros estados da região Norte, onde a cultura de consumo de pescado é muito particular.

No maior entreposto pesqueiro do Pará, o Ver-o-Peso, os peixes que a pesquisa aponta como favoritos dos brasileiros, costumam aparecer mais quando encomendados. Semanalmente, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Estado do Pará (Dieese-PA) e a Secretaria Municipal de Economia de Belém (Secon), fazem um levantamento dos 38 tipos de pescado mais consumidos. Comprovam que a realidade paraense é bem diferente. 

"Nosso salmão é o filhote. Os outros pescados mais consumidos são pescada amarela, dourada, piramutaba, pescada gó e pirarucu. Mas há variações culturais regionais, que elevam o consumo de outras espécies. Santarém, por exemplo, consome muito pacu. Cametá consome muito mapará. E há diferenças entre classes sociais. O povão mesmo só consome as espécies que estiverem mais baratas", analisa o economista e supervisor técnico do Dieese-PA, Roberto Sena.

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Sena destaca que na lista dos 38 pescados mais consumidos, salmão e sardinha aparecem, mas nas últimas posições. Atum e cavalinha nem aparecem. "O salmão é algo mais para as classes mais abastadas. Atum e sardinha têm consumo de subprodutos, como patê, filés enlatados, mas não são coisas produzidas aqui", observa o economista. Não há como mensurar o consumo paraense pelo que é vendido nos restaurantes japoneses, que paraenses gostam sim. Afinal, há muitos restaurantes do segmento. Sobretudo na capital.

A gastróloga e economista Giselle Arouck, professora do curso de Gastronomia da Unama, ressalta que a região amazônica, com toda a vasta hidrografia, garante aproximadamente 3 mil espécies de peixes. Ela cita outros entre os favoritos do Pará (ainda sem salmão, sardinha, atum ou cavalinho): robalo, tamuatá e tambaqui. "Quanto a dizer que salmão é um dos preferidos do Brasil, bom, sequer é peixe natural daqui. Nosso salmão é de criatório, de qualidade um pouco inferior. O melhor do que consumimos é do Chile", diz.

Giselle diz que os peixes mais famosos, obviamente, têm valor comercial aumentado e acesso amplo reduzido. Ela reforça ser importante que restaurantes e o próprio consumidor explorem e experimentem várias espécies. E assim, descubram as próprias espécies favoritas e mais acessíveis, dentro de toda a diversidade amazônica.

No dia 25, às 9h, no auditório da Unama, a professora fará uma oficina com o tema "Os peixes da Amazônia. Criando demandas de mercado". O curso é gratuito e aberto à população em geral. As inscrições estão abertas e são feitas pelo site da universidade.

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