Parkinson: tratamento e dança são aliados da qualidade de vida para pacientes no Pará
Parceria entre pacientes e professores garante qualidade de vida para quem supera os efeitos da doença
Ao contrário da primeira impressão de que uma pessoa acometida da Doença de Parkinson, responsável pela limitação de movimentos do corpo e tremores, têm sua vida restrita a partir de então, pacientes em Belém (PA) dão um exemplo de vitalidade e vontade de viver a partir de tratamento no espaço Grupo Parkinson, mantido pela Universidade Federal do Pará (UFPA), no bairro de São Brás, em Belém (PA). Nesse local, eles recebem atendimento fundamentado em atividades físicas específicas, com destaque para a dança, e os resultados, desde 2015, tem sido gratificantes para a equipe multiprofissional e, sobretudo, para os pacientes. "Eu estou aqui há 5 anos. Quando soube que tinha Parkinson, foi muito duro para mim. Não aceitava. No meu caso, é nos braços e nas pernas, mas com o tratamento fui melhorando. Hoje, sinto firmeza para caminhar, pegar as coisas. Gosto, inclusive, de dançar com a turma aqui", declara Valdemir Garcia, 61 anos, que integra uma das turmas no Grupo da Universidade.
Aos 79 anos de idade, a dona de casa Maria de Lourdes Ribeiro da Silva, frequenta o o Grupo Parkinson, da UFPA, após ter sido diagnosticada com a doença nas pernas. "No começo, eu chegava aqui com um andador, mas, agora, venho caminhando junto com um acompanhante. Tenho melhorado bastante", afirma Lourdes. Ela diz que gosta de tudo no espaço, do tratamento, da convivência com outros pacientes. "Eu me sinto muito mais firme, sou muito mais feliz agora", destaca, revelando que sente falta da turma quando deixa de comparecer ao local. "São gente fina", faz questão de dizer.
Interação
Essa interação entre pacientes e instrutores do tratamento é fundamental para o progresso na vida com a doença. Por isso, o processo de renovação de vida é enfatizado ao longo do mês de abril todo ele dedicado à conscientização acerca da Doença de Parkinson, cujo Dia Nacional transcorreu no dia 4 e o Dia Mundial acontecerá no próximo dia 11. Nesta data, ou seja, na próxima quinta-feira, o Grupo vai promover o Colóquio "Parkinson - Pesquisa e Cuidado, na própria sede do espaço.
Lane Viana Krejcová, 42 anos, doutora em Neurociências, professora e pesquisadora da UFPA, atua como coordenadora do Grupo Parkinson. Esse Grupo surgiu em 2015 diante da necessidade de integrar os estudos das neurociências com as artes, e estudando as bases neurais da dança e as áreas cerebrais afetadas pela doença de Parkinson, que são bem semelhantes.
"Temos turmas fixas com uma capacidade de atendimento de cerca de 50 pacientes em três turmas, todas as terças e quintas. O fluxo de entrada é contínuo e não existe prazo de permanência, o paciente participa pelo tempo que puder e quiser" revela a professora Lane. Vinte e oito profissionais formam na equipe no Grupo, contando os professores de dança, de educação física e os profissionais de saúde que fazem o acompanhamento da evolução dos pacientes.
Como explica a professora Lane Krejcová, apesar de conhecida como um distúrbio do movimento, é uma doença multisistêmica que apresenta sintomas motores e não motores, que afetam diretamente o dia a dia do paciente prejudicando a independência nas atividades diárias e reduzindo a qualidade de vida do paciente e da família. Por isso, como ressalta, "toda pessoa com Parkinson precisa fazer tratamento medicamentoso associado a algum tipo de atividade física para retardar a progressão da doença e reduzir a perda das capacidades". "Com a dança adicionamos um elemento mais lúdico e social à atividade física, tornando-a leve e prazerosa, facilitando a manutenção do paciente nas atividades", acrescenta a pesquisadora.
O projeto oferta aos pacientes aulas regulares de dançaterapia pelo método Baila Parkinson, que une elementos da fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, fonoaudiologia, educação fisica e dança em uma sessão terapêutica holística onde o paciente se deixa levar pela atividade ao mesmo tempo em que está estimulando a neuroplasticidade, reduzindo a apresentação de seus sintomas. "Ano que vem faremos dez anos nessa jornada e nossas metas são sempre desenvolver cada vez mais o método, avaliar os resultados positivos deles e, quem sabe, conseguirmos sempre ampliar o atendimento que já fornecemos atualmente às pessoas com DP", assinala Lane Krejcová.
Dançar
A professora de dança, Gabriela Fernandes, explica que quando é aplicada essa prática aos pacientes com Parkinson é com a intenção de mostrar a eles que podem fazer isso. "A gente faz a dança no ritmo deles. A pessoa com DP tem um ritmo, então, a gente usa desse ritmo dela para dançar. Geralmente, uma pessoa,, como a gente conta dentro da dança, ela dança é 1-2-3-4-5-6-7-8, e a pessoa com Parkinson dança em 4, vamos dizer assim. A gente segue o ritmo deles, e, conforme vai passando o tempo, e eles vão assimilando a proposta, a gente vai aumentando esse ritmo. Assim como a gente dança em pé, consegue dançar sentado. A gente começa fazendo os movimentos com eles sentados e, depois, os movimentos em pé, de acordo com cada pessoa", relata a professora.
O projeto atua por meio de roteiros. Escolhe-se uma história e a destrincha dentro dos sintomas tanto tanto motores quanto não motores do Parkinson e aí se trabalha a dança. Um dos temas trabalhados com os pacientes foi "Romeu e Julieta", de William Shakespeare. Foi organizado um baile de máscaras, e se trabalha uma dança de época com suas características, para que o paciente se torne o próprio artista, o inventor da sua própria história, como frisa a professora Gabriela.
Ao iniciarem o tratamento e terem contato com a dança e outras atividades no Grupo Parkinson, os pacientes usufruem de benefícios. No caso da dança, como explica Gabriela Fernandes, "muitos deles chegam aqui com a autoestima lá embaixo, porque não conhecem muito bem aspectos da doença. Além da dança, a gente fala para eles como acontece tudo, o processo. E a dança traz para eles uma melhor qualidade de vida, evita quedas, nós temos alunos que relatam que chegaram aqui depressivos e hoje não são mais, porque eles tiveram esse cuidado. É muito diferente você estar em um lugar onde você não se depara com ninguém, ninguém te conhece, e estar em um outro lugar em que todo mundo te entende, que sabe do teu problema e sabe que está ali para te ajudar. É isso o que eles encontram aqui, conversam um com o outro, e, então, o social deles aumenta bastante, e eles criam laços, criam amigos e a autoestima deles vai lá em cima", pondera Gabriela.
Nesse espaço, os pacientes desenvolvem atividades relacionadas à dança, musculação e preparação física, basicamente. São orientados que se pode conviver com a doença, no jeito e no tempo de cada pessoa. "Tem pessoas aqui que voltaram a andar de bicicleta, que correm, que vão em passeios com a família, então, não são limitados, eles conseguem fazer, só que de uma maneira adaptada para eles, eles conseguem viver normalmente", pontua a professora Gabriela Fernandes. Informações sobre o Grupo Parkinson, da UFPA, podem ser obtidas em: www.grupoparkinson.org / e-mail: parkinsonlab1@gmail.com/Contato: (91) 98987-2966.
Em Castanhal, pesquisa é com ritmos regionais
O programa Parkinson Pai D´Égua, da UFPA Campus Castanhal, conta com um ano e meio de atividades e tem como foco pesquisas com exercícios físicos para o bem-estar e melhora da qualidade de vida de pessoas com a doença. O programa é coordenado pela dra. Elren Passos, com 15 anos de pesquisa sobre o DP e conta com mestrandos do Grupo de Pesquisa Pendulum. No programa, são ofertadas gratuitamente aulas de danças regionais (carimbó, brega e retumbão), além de caminhada nórdica (Nordic Walking) e corrida de velocidade, bem como danças amazônicas para pessoas com Parkinson. Neste semestre, o grupo está envolvido comizando a pesquisa de Doutorado do professor Carlos Guzzo, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), que faz seu doutorado na Universidade Federa do Rio Grande do Sul (UFRGS). Esta parceria entre a UFPA e a UFRGS, e é financiada pelo Global Health Institute, com a Cordenação da professora doutora Aline Haas (UFRGS) e professora doutora Elren Passos (UFPA).
Objetivo da pesquisa é avaliar os efeitos das danças amazônicas sobre a saúde do cérebro de pessoas com o diagnóstico da doença de Parkinson, no Pará e no Rio Grande do Sul. Esta é a segunda etapa da pesquisa com os ritmos amazônicos. "Na primeira etapa, tivemos o mestrado da mestranda Carla Luana Alves, na qual avaliamos os efeitos das danças sobre os parâmetros não motores, mobilidade funcional e qualidade de vida. Após 12 semanas de aulas, tivemos a melhora de parâmetros de função executiva, e os voluntários melhoraram a mobilidade funcional e a qualidade de vida. Na etapa da pesquisa dois, estamos investigando a cognição, a memória, a fala e a linguagem, que envolvem além dos ritmos amazônicos, as lendas culturais amazônicas. Esperamos que a dança possa melhorar estes parâmetros", explica a professora Elren.Contatos do programa:
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