Pará registra 13 casos e duas mortes por Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica
A doença soma 117 casos em nove estados do Brasil. Em cinco deles, já ocorreram nove mortes. Sociedade Brasileira de Pediatria faz alerta sobre a doença, que pode ter relação com a covid-19
O estado do Pará já registrou 13 casos e duas mortes confirmadas por Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) em crianças e adolescentes, até a última sexta-feira (14). A SIM-P pode ter relação com a covid-19, doença ocasionada pelo novo coronavírus (Síndrome Respiratória Aguda Grave - Sars-Cov-2). No Pará, dos 13 casos confirmados, sete ocorreram com crianças de 0 a 4 anos; três, com crianças entre 5 e 9 anos; e outros três casos, de 10 a 14 anos. Já as duas mortes, foram com crianças na faixa etária de 0 a 4 anos. Ainda segundo informações do Ministério da Saúde (MS), na manhã desta sexta-feira (14), o Brasil já soma 117 casos da síndrome em nove estados. Em cinco deles, já ocorreram o total de nove mortes.
Além do Pará, há casos confirmados da SIM-P no Ceará (41 casos), Rio de Janeiro (22), São Paulo (14), Bahia (11), Pernambuco (5), Rio Grande do Norte (4), Distrito Federal (4) e Piauí (3 casos). Os demais óbitos informados pelo MS foram em São Paulo (1 morte, na faixa etária de 0 a 4 anos); na Bahia (1 óbito, na faixa etária de 5 a 9 anos), no Rio de Janeiro (3 óbitos na faixa etária de 0 a 4 anos) e Ceará (2 óbitos na faixa etária de 10 a 14 anos).
No entanto, os dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) divergem. Em nota corrigida enviada na tarde de sexta (14), a Sespa afirmou que o Pará registrou três casos da SIM-P ocorridos em Belém (1 caso), Alenquer (1) e Xinguara (1), e que os dados são do sistema oficial de notificação do MS. Deste total, ainda segundo a Sespa, um é do sexo feminino e dois do sexo masculino, sendo que os pacientes têm idades de 1 ano, 4 anos e 11 anos. A Sespa diz ainda que, no Pará, "não há mortes entre os casos suspeitos e todos são monitorados e investigados pela Vigilância Epidemiológica do Estado".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu alerta mundial aos pediatras relatando a identificação da nova condição clínica, possivelmente associada à covid-19, com manifestações clínicas similares à síndrome de Kawasaki típica, Kawasaki incompleta ou síndrome do choque tóxico. Devido à multiplicação dos episódios de SIM-P no Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que acompanha os casos desde o início, divulgou também nota de alerta para comunicar aos especialistas sobre a obrigatoriedade da notificação desses casos ao MS.
A SBP ressalta que a síndrome tem grave repercussão no organismo de crianças e adolescentes e pode levar à morte. Destaca, ainda, que ela está provavelmente associada à covid-19, uma vez que acontece em dias ou semanas após a infecção pelo novo coronavírus.
Segundo o MS, o Brasil iniciou o monitoramento dos casos em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, com objetivo de caracterizar a relação com a infecção pelo Sars-Cov-2, além de avaliar a dimensão da ocorrência no país e consequente impacto pela covid-19.
"Desde o início da pandemia da covid-19, o Ministério da Saúde acompanha os estudos desenvolvidos acerca da doença e avaliando suas consequências e implantou a vigilância a SIM-P em território nacional, reforçou a comunicação junto às Secretarias de Estado da Saúde, do Distrito Federal e das Secretarias Municipais, em comunicação direta e por meio do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), e Sociedades Brasileiras de Pediatria, Reumatologia e Cardiologia", frisa o MS.
A recomendação do MS é para que se "mantenham as medidas de prevenção contra a covid-19 - já amplamente divulgadas pelo órgão federal – e para que os pacientes busquem orientação médica imediata nos primeiros sintomas".
Sespa emite alerta epidemiológico aos municípios e hospitais no Pará sobre a síndrome
A Sespa afirma que emitiu um alerta epidemiológico para os municípios e hospitais no Pará, assim que foi comunicada pelo Ministério da Saúde sobre a possível relação da SIM-P como complicação da covid-19 em pessoas de 0 a 19 anos.
A Sespa informa, ainda, que instituiu o Centro de Operações de Emergências da Saúde (COE) para monitorar os casos de SIM-P no Estado, com representantes do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde do Pará (Cievs), Vigilância Epidemiológicas, Diretoria de Políticas de Atenção Integral à Saúde (Dpais) e Instituto Evandro Chagas.
Para facilitar o monitoramento e acompanhar a notificação dos casos, a Sespa frisa que vai disponibilizar aos municípios um formulário online com objetivo de coletar mais informações acerca da doença. Além disso, a Secretaria já emitiu a Nota Técnica nº 16/2020-CGPNI/DEIDT/SVS/MS, orientando os municípios para a detecção e manejo dos casos de maneira oportuna, a fim de evitar a mortalidade desses casos.
A Secretaria ressalta que, dia 10 de agosto deste ano, realizou uma live para profissionais da saúde que atuam nos serviços de saúde dos municípios paraenses, para prestar esclarecimentos sobre a doença.
Para a Sespa, baseada no que o MS apontou à Secretaria, "ainda não é possível confirmar se a síndrome está relacionada com a covid-19 e não há evidências para afirmar se ela possui cura, pois a doença ainda está sendo estudada".
No entanto, a Sespa recomenda aos pais e responsáveis que, em casos de febre alta por até três dias, os cuidadores levem a criança ou o jovem ao serviço de saúde, além de utilizar máscaras, evitar aglomerações e higienizar as mãos.
Síndrome foi descrita na Europa, EUA e, recentemente, América do Sul
A SIM-P é uma síndrome cujos sintomas mais frequentes são febre persistente, acompanhada de um conjunto de sintomas como pressão baixa, conjuntivite, manchas no corpo, diarreia, dor abdominal, náuseas, vômitos, comprometimento respiratório, entre outros. No Brasil, o quadro clínico foi denominado Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), adaptado do termo inglês Multisystem Inflammatory Syndrome in Children (MIS-C), utilizado pelo CDC - Centers for Disease Control and Prevention.
Ainda segundo a SBP, a SIM-P foi primeiramente descrita no Reino Unido, no continente Europeu, no início deste ano. Posteriormente, Espanha, França e Estados Unidos também registraram episódios similares. Mais recentemente ela chegou à América do Sul e ao Brasil. No mundo, há relatos de mais de 300 casos.
“A SIM-P é multissistêmica, pois envolve ao menos dois órgãos e sistemas. Além de febre persistente, um amplo espectro de sintomas, muitos destes potencialmente graves, tem sido referido nos pacientes, entre eles estão alterações cardiovasculares, renais, respiratórias, hematológico, gastrointestinais, mucocutâneo e outras”, cita o documento.
Apesar de estar associada à covid-19, a manifestação da SIM-P não está relacionada à falta de ar
O infectologista Eitan Berezin, membro do Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Infectologia (SBI), destaca que, um pouco diferente da síndrome de Kawasaki, a SIM-P associada à covid-19 afeta, principalmente, crianças com idades em média acima de cinco anos e ela não tem muita manifestação respiratória, como ocorre, em geral, com os pacientes que têm covid-19.
"Apesar de estar associada à covid-19, em crianças e adolescentes, a manifestação da doença não está relacionada à falta de ar. Mas, sim, principalmente, gastrointestinal e a consequência mais aguda é o estado de choque, quando não há fluxo sanguíneo adequado para todo o organismo e isso pode levar à morte. Há relatos de alterações cardíacas e de trombose. É mais comum ter anticorpos que o próprio vírus dessa síndrome e, por isso, ela é caracterizada como uma síndrome pós-infecciosa. Então, é uma associação com o vírus, que não está mais presente e é uma aparição mais recente, é uma nova síndrome que existe e já há casos", frisa o infectologista, que é professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Berezin alerta ainda que a SIM-P ocorre frequentemente com crianças e adolescentes previamente saudáveis. "Aparentemente, é resultante de uma infecção pela covid-19. A criança sente febre persistente, inflamação e distúrbios de um ou mais órgãos, como choque, alteração cardíaca e gastrointestinais. Se o problema for logo identificado e tratado, principalmente o choque, que pode ser sistêmico e é a maior ameaça, o risco de morte é menor. Em geral, o tratamento é feito com reposição em líquidos, como soro fisiológico; imunoglobulina endovenosa e corticosteroides", explica o infectologista, membro do Departamento Científico da SBP e SBI.
Diante dessa variedade de manifestações, a nota de alerta da SBP apresenta uma tabela, na qual estão dispostos os critérios propostos pelo Ministério da Saúde para o adequado diagnóstico da SIM-P. Além disso, doenças como sepse bacteriana, síndrome da pele escaldada (SSS), síndrome de Kawasaki, lúpus eritematoso sistêmico juvenil (LESL) e outras devem ser consideradas na avaliação de diagnóstico diferencial.
De acordo com a publicação, a decisão pela hospitalização do paciente deverá ter como base diversos fatores. A internação está indicada nos casos suspeitos que apresentam sintomas moderados ou graves e naqueles em que existem indícios de risco para complicações, como desconforto respiratório, alteração de sinais vitais, choque, sinais de desidratação, marcadores inflamatórios muito alterados e mais.
A nota de alerta da SBP também traz informações sobre como realizar o diagnóstico e o tratamento da SIM-P. Para acessar o documento, clique aqui.