Pacientes de câncer encontram dificuldades para seguir tratamento em tempos de 'lockdown'
Problemas para se locomover, falta de exames e medicações têm feito parte da rotina dos pacientes nas últimas semanas
O lockdown no Pará, embora seja necessário, tem prejudicado a vida de muitos pacientes em tratamento do câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e Saúde Complementar, atividade que envolve a operação de planos e seguros privados de assistência médica à saúde, não estão conseguindo chegar em Belém. O lockdown atinge 17 cidades do Estado até o dia 24 de maio. Além disso, os pacientes do SUS enfrentam a falta de todos os exames de imagem e até de sangue. E também a falta da medicação quimioterapia vermelha utilizada na realização da quimioterapia.
Segundo Josiane Damasceno, 47 anos, que é paciente e uma das criadoras do grupo de apoio a pacientes oncológicos "Laços de Amor", essas dificuldades já ocorrem há cerca de duas semanas. Uma delas diz respeito à mobilidade das pacientes para vir a Belém. "Como não há ônibus, as pacientes têm que pagar veículo por aplicativo para vir em Belém, mas fica muito caro, porque têm pacientes de Paragominas, de Cametá, são lugares bem distantes da capital. Elas não têm transporte para vir para Belém e não possuem condições financeiras para pagar transporte particular ou alternativo para se deslocarem".
Algumas chegam a comprar medicação no município onde vivem, inclusive porque têm também medo de pegar a covid-19 nos hospitais de Belém. "Mas quem não tem como pagar pelos produtos onde moram fica sem a medicação. A estrada é liberada, basta apresentar a autorização, a receita, mas elas não conseguem por essa questão. Isso prejudica o tratamento. Sem falar na ansiedade que essa condição ocasiona às pacientes", afirma Josiane, que tem câncer de mama metastático (quando atinge outros órgãos e agora atingiu o pulmão) e faz quimioterapia e exames a cada 21 dias.
Ainda segundo ela, a partir dos relatos no grupo Laços de Amor - que conta com a participação, pelo WhatsApp, de 120 pacientes mulheres com câncer, na maioria de mama e muitas são atendidas pelo SUS - na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), no Guamá, há falta de todos os exames de imagem e até de sangue.
A Unacon do Barros Barreto pertence ao estado e funciona no Hospital Universitário João Barros Barreto (HUJBB). Ele é vinculado ao Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Pará (UFPA)/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
"No Barros a única coisa que está certa é a quimioterapia e a radioterapia. Isso quando não dá problema na máquina. E agora que estão voltando as consultas, porque o médico estava afastado. Agora os exames não estão sendo feitos. Tenho exames para fazer, mas ficaram só para agosto. A maioria dos exames estão parados", reclama uma paciente, em áudio enviado nesta segunda-feira (18) para o grupo Laços de Amor e encaminhado à reportagem.
Já no Hospital Ofir Loyola, do Governo do Estado, em São Brás, há o problema da falta de medicações para a quimioterapia dos pacientes. Hoje está em falta a quimioterapia vermelha. "Isso sempre prejudica o andamento do tratamento do paciente, pois a falta de um medicamento inviabiliza o procedimento", afirma Josiane Damasceno.
Barros Barreto
Em nota, o Complexo Hospitalar da UFPA/Ebserh informa que os atendimentos da Unacon do Barros Barreto "estão acontecendo normalmente durante o período de pandemia. Consultas, cirurgias, quimioterapia e exames, incluindo os de imagem, estão sendo agendados conforme a necessidade dos pacientes". O hospital afirma ainda que "toma o cuidado necessário para não expô-los à contaminação, visto que o Barros Barreto também é referência para atendimento à covid-19", afirma.
Em nota, o Hospital Ophir Loyola disse que, devido à pandemia da Covid-19, algumas empresas fornecedoras de medicamentos estão com dificuldade na logística para entrega. "O hospital trabalha para normalizar o problema o mais rápido possível. O HOL ressalta que dispõe de contraste para a realização de exames de imagem, que estão sendo realizados normalmente, assim como exames laboratoriais. Mesmo durante a pandemia, o HOL também segue realizando atendimentos ambulatoriais e as cirurgias de urgência."
Também em nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) garante que está normal o abastecimento de medicamentos que vêm do Ministério da Saúde para repassar à Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) do HUJBB. "A Sespa enfatiza, ainda, que todos os serviços da Unacon são responsabilidade do HUJBB/Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH)."