Sempre que a noite avança, é hora do parque gráfico de O Liberal começar os trabalhos. Desde os anos 2000, esse grande salão, que também abriga a redação do jornal, é o último ponto antes que o jornal siga para as mãos dos leitores. Aqui, impressoras de aço gigantes, monitores e painéis de controle formam um espaço com o ar de uma sala de comando de algum filme futurista do século passado. Entre tantos botões, um grupo de velhos conhecidos, que já presenciou tantas transformações no mundo da informação, conduz a impressão com precisão cirúrgica adquirida após décadas de trabalho. Cada exemplar de O Liberal passa pelas mãos deles — e essas mãos são experientes.
Luiz Cláudio, figura emblemática da gráfica, entrou ali como estagiário aos 17 anos. Hoje, aos 54, suas mãos carregam as marcas de uma vida dedicada ao trabalho. "Eu comecei achando que ia ser só uma experiência, mas acabei ficando e aprendendo tudo sobre a profissão. Vi tanta coisa passar por essas máquinas que nem consigo contar", conta ele, observando as chapas de alumínio que esperavam sua vez para entrar na grande impressora.
Luiz é impressor e recebe os arquivos aprovados por Noronha, supervisor da produção e responsável por sincronizar cada etapa do processo. Da redação, ele envia os arquivos para a pré-impressão, onde os diagramadores preparam as páginas do jornal com perfeição. A ordem de chegada dos cadernos está memorizada por todos: Cultura, Esportes, Política e Cidades. Essa sequência quase sagrada é seguida por todos como um ritual, e qualquer ajuste é feito no instante em que a tinta toca o papel.
Trabalho cauteloso
É um trabalho que exige paciência e, acima de tudo, atenção aos detalhes. Ao receber o arquivo digital, ele é impresso em uma chapa de alumínio através de uma máquina laser, e essa chapa, então, é posicionada na impressora para iniciar a reprodução em larga escala. Luiz Cláudio explica, “Cada detalhe tem que estar perfeito, do tom da tinta ao espaçamento das letras. É o nosso compromisso com a qualidade”.
Enquanto as máquinas fazem seu trabalho, o silêncio reina por alguns minutos. Nesse instante, a concentração de todos é máxima. Josué Costa, outro veterano da equipe, olha fixamente para a chapa como se cada linha, cada palavra impressa, tivesse um significado especial. “Eu vim pra cá como motorista, mas sempre fui curioso, sempre tracei objetivos. Fui pedindo pra aprender, fiquei fascinado. Depois, virei impressor. Na época todos queriam trabalhar aqui, bons tempos”, comenta ele, com um sorriso reservado e os cabelos grisalhos que falam de uma longa jornada.
Há uma camaradagem ali, construída ao longo das décadas. “Somos um time, cada um sabe muito bem o que tem que fazer e se respeita, isso faz tudo fluir melhor, por isso gostamos de trabalhar aqui”, acrescenta Josué, evidenciando seu orgulho pelo que faz. Ele se lembra do antigo chefe, apelidado carinhosamente de "Ceará", que foi quem primeiro lhe deu uma oportunidade na gráfica. Josué faz questão de compartilhar esse orgulho com Luiz Cláudio e os outros colegas, como se cada jornal impresso fosse uma extensão da amizade e respeito que nutrem uns pelos outros.
Ritmo
O trabalho na gráfica tem um ritmo próprio. Quando uma nova rodada de impressão é iniciada, todos voltam a se concentrar, conferindo o tom da tinta e a nitidez das imagens, prontos para corrigir qualquer defeito que apareça. Esse é um ambiente em que não há espaço para o erro: cada exemplar precisa estar impecável. A cada detalhe ajustado, eles sabem que contribuem para a história que os leitores encontrarão nas páginas de O Liberal na manhã seguinte.
E assim, por volta das três da manhã, os últimos jornais começam a descer pela esteira. Eles são amarrados e, um a um, empilhados nos veículos que os levarão para as ruas de Belém e para cidades próximas. O cansaço está presente, mas também um sentimento de dever cumprido. “Ver o jornal saindo daqui e indo pro leitor é o que vale a pena”, diz Luiz Cláudio, enquanto ajeita os últimos exemplares. É a última etapa de uma jornada que começou lá na redação, passou pelo olhar atento dos gráficos e, enfim, toma a cidade.
Cada edição carrega as notícias, junto com o empenho e o suor desse pequeno grupo de velhos amigos, unidos pelo mesmo compromisso: fazer com que a informação chegue até quem precisa dela. E, ao fechar as portas da gráfica, eles sabem que, em poucas horas, estarão ali de novo, prontos para dar tinta a mais uma edição de O Liberal, como fazem há tantos e tantos anos.