Moradores da Ilha do Marajó recebem cestas básicas e navio da Caixa
Em Chaves, beneficiários puderam sacar auxílio em navio atracado
Após uma viagem de dois dias em navio e mais um domingo inteiro para que fossem descarregadas e desinfectadas, começou na tarde desta segunda-feira, 15, a entrega das 16 mil cestas básicas doadas pelo Governo Federal que serão distribuídas a famílias ribeirinhas dos municípios de Chaves e Afuá, na Ilha do Marajó.
A ação é do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH), que foi representado pela titular da pasta, ministra Damares Alves, e faz parte do Programa "Abrace o Marajó, Ação Pão da Vida", coordenado pela paraense Marisa Romão.
Esta é a primeira fase do programa que contempla Chaves e Afuá com a entrega de 8 mil cestas de alimentos para cada município. Os produtos serão entregues às famílias ribeirinhas cadastradas nos programas sociais do governo (CADÚnico) e que se encontram em situação de vulnerabilidade por conta do isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. No decorrer dos meses de junho, julho e agosto, a ação deverá chegar a outras localidades marajoaras.
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos chegou a Afuá no início da tarde. Uma tempestade impediu o avião que levava a comitiva do governo de pousar pela manhã e também forçou o cancelamento das visitas que Damares Alves faria aos municípios de Chaves e Muaná.
Esta foi a primeira vez que a cidade de Afuá recebeu a visita de um ministro de estado. Como não é permitida a circulação de veículos motorizados no local, Damares Alves foi de bicitáxi do aeródromo até o Navio Auxiliar Pará, do Comando do Grupamento de Patrulha do Norte, que saiu de Belém com as cestas básicas no último dia 12.
“Construímos um grande projeto para Chaves e Afuá. O coronavírus apenas interrompeu por um tempo o sonho que temos de transformar o Marajó numa região mais próspera. Estar aqui é uma obrigação do governo federal. Não estamos fazendo politicagem. O projeto ‘Abrace o Marajó’ vem para realizar o sonho desse povo”, enfatizou a ministra em seu discurso, destacando o viés social do programa, que visa melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano da população marajoara.
16 mil cestas para o Marajó. PrevBarco e navio da Caixa atendendo ribeirinhos.
— Damares Alves (@DamaresAlves) June 15, 2020
No #AbraceoMarajo ninguém ficará para trás pic.twitter.com/uDMJGq4Dm9
O município contabiliza 352 casos de covid-19, 309 pessoas já recuperadas e sete óbitos. Segundo o prefeito Mazinho Salomão (PSD-PA), Afuá conta com 13 médicos.
Navio da Caixa
Em Chaves, cidade vizinha a Afuá, está atracado um navio da Caixa Econômica Federal, já que no local não há sequer agências lotéricas, o que impossibilita o saque de qualquer benefício social. Nesta terça, 16, as cestas básicas serão descarregadas pela Marinha no município, que tem o sexto pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil.
Entre 3 e 10 de agosto, um navio do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) chegará a Afuá. Segundo Leonardo Rolim, presidente do instituto, os postos flutuantes do INSS percorrem 11 das 16 cidades da Ilha do Marajó, ficando uma semana em cada uma.
Coletes
Além disso, a capitania dos portos do Amapá fez a entrega de 150 coletes salva-vidas para os barqueiros da região. Item de segurança fundamental, a maioria das rabetas (barcos com motor de popa) circulam pelos trapiches de Afuá sem que ninguém esteja vestindo o colete.
“Um colete dura em torno de dois a três anos, depois tem que trocá-lo, e o preço médio varia de R$ 40 a R$ 80. Eles não compram. Então, além da doação, a Marinha faz a conscientização da importância desse item de segurança”, destacou o capitão-tenente Ícaro de Jesus.
Palafitas
No bairro mais pobre de Afuá, Capim Marinho, bem ao lado do aeródromo, as crianças - sem aulas há três meses por causa da pandemia do novo coronavírus - saltam das pontes para nadar nos igarapés. Brincadeira normal, não fosse o fato de aí também serem lançados os desejos de todas as moradias da área.
A maioria dos 8 mil beneficiários do Bolsa Família da cidade está concentrada neste bairro. Com o dinheiro, os ribeirinhos alugam um cômodo de madeira, que serve de quarto, sala e cozinha, por 350 reais e, todas as casas de um mesmo terreno, dividem o único banheiro. “Aqui é tipo uma invasão, mesmo assim pagamos um horror de energia elétrica. Ainda bem que consegui o auxílio emergencial de 1.200 reais, a cesta básica e um kit de alimentação”, conta Maria Darléia Pantoja, que vive com os três filhos e o marido em uma casa de palafita.
O marido, Abinatal Souza de Freitas, de 35 anos, pegou covid-19. “Já peguei o corona, mas graças a Deus não deu muito forte. Já estava há 15 dias sentindo sintomas, mas continuei trabalhando [numa madeireira] até não aguentar mais”, diz, acrescentando que na casa de um único cômodo, por questões óbvias, não fez isolamento. “Se tiver que pegar, nós já pegamos, não vai ter esse negócio aqui em casa não”, resumiu.
Na região do Brasil onde a produção de açaí, a pesca do camarão, a extração de palmito e as serrarias são as principais atividades econômicas, o povo sonha com a implantação das ações do programa “Abrace o Marajó”, interrompido por uma pandemia que, fora os agentes da prefeitura, ninguém leva muito a sério na cidade.
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