Março Lilás: Pará pode ter 780 novos casos de câncer do colo uterino em 2023, prevê Inca
A doença é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina, atingindo mais de 17 mil mulheres por ano no Brasil
Se pudesse dar alguns conselhos a todas as mulheres, a paraense Lienni Cruz, 33 anos, as aconselharia a não deixar de procurar um profissional ginecologista e fazer o exame preventivo do câncer do colo do útero. Excetuando o câncer de pele não melanoma, a doença é o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina (atrás de câncer de mama e do colorretal), atingindo mais de 17 mil mulheres por ano no Brasil (estimativa de novos casos por ano no triênio 2023/2025). 780 novos casos da enfermidade podem ser registrados no Pará e 110 em Belém em 2023. Os dados mencionados são do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Neste mês, a campanha Março Lilás visa conscientizar a população sobre o tema e ajudar no enfrentamento da patologia.
Lienni Cruz começou a sentir dores após o nascimento do filho, mas tratava como cólicas. Em 2018, as dores aumentaram, mas sempre que ia à emergência, tratavam como dor na coluna, por Lienni estar acima do peso. O sinal de alerta disparou com a visita de uma amiga. Ela estava em tratamento contra câncer de colo de útero e se identificou com os sintomas que a colega relatou. Inicialmente, não acreditava na possibilidade de também estar com câncer. Mas, em junho de 2018, começou a ter uma hemorragia – o sangramento durou 40 dias e as dores se intensificaram.
Ela foi internada e os exames feitos não identificaram o tumor. O problema continuou e na segunda internação Lienni foi orientada a retornar com a ginecologista. Só então, no exame clínico, a médica percebeu uma alteração. Novos exames foram solicitados e conseguiram localizar o tumor. A biópsia confirmou o diagnóstico e o tratamento foi iniciado imediatamente, por ser um tumor agressivo e de crescimento muito rápido. “Foi muito difícil receber o diagnóstico, principalmente pela gravidade, mas mantive meu pensamento positivo. Eu sabia que tinha que criar meu filho”, desabou.
Ao todo, foram 30 sessões de radioterapia, seis de quimioterapia e quatro de braquiterapia. “Em meio a um tratamento tão difícil, tive o apoio da minha família e a força do meu marido, que lutou por mim e por nosso filho. Posso dizer que fui muito abençoada por tanto amor e cuidado”. Atualmente, Lienni já concluiu o tratamento e está em remissão, fazendo o acompanhamento e tratando algumas sequelas da radioterapia.
Lienni diz para outras mulheres com diagnóstico positivo que não esmoreçam. “Um diagnóstico não nos define, não devemos nos sentir intimidadas pela doença. Dizem que só nos tornamos fortes quando algo muito ruim acontece, e isso não é verdade. Nossa força está sempre nos acompanhando. E o mais importante, façam os exames periódicos para prevenção. Quanto mais cedo for descoberta da doença, menos difícil é o tratamento e a recuperação. Tenham fé e acreditem na cura. Nossa história pode não ser fácil de viver, mas nos ensina o que ninguém pode: a fé sem certezas, o amor incondicional, a compreensão, que a palavra ameniza a dor e o sofrimento, que o pouco é o essencial e que o impossível não é inatingível”, conclui Lienni.
O que causa a doença e como combatê-la
O câncer de colo de útero é causado pela infecção persistente provocada por alguns tipos do Papilomavírus Humano – o HPV, um vírus bastante comum. Algumas lesões causadas pelo HPV podem se tornar crônicas que, se não forem diagnosticadas precocemente, podem evoluir para o câncer. A vacinação é a principal arma contra o câncer de colo de útero, sendo essa uma das prioridades das diretrizes da Organização Mundial da Saúde para a doença. A OMS reconhece a doença como um problema de saúde pública e estabeleceu que todos os países devem alcançar e manter uma taxa de incidência de menos de 4 novos casos de câncer do colo do útero a cada 100.000 mulheres por ano, até o fim da década.
O HPV é responsável por cerca de 90% dos casos de câncer de colo do útero e a doença pode ser evitada com a vacinação em massa. “O número anual de mortes por câncer de colo de útero é de cerca de 6 mil e 500 mulheres no Brasil. Veja se não é um absurdo total a gente perder tantas vidas por ano para um câncer que é totalmente prevenível”, ressalta a oncologista Paula Sampaio, do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB). “Por isso, o resultado dessa pesquisa é tão importante”, comemora a médica. “Se conseguirmos a vacinação em massa contra o HPV, que as pessoas usem preservativo e que as mulheres com mais de 25 anos façam o papanicolau, anualmente, estaremos no caminho da erradicação do câncer de colo de útero”, resume a médica.
Vacinação X negação
A maioria dos casos de câncer de colo de útero tem o diagnóstico em estágios avançados, o que dificulta o tratamento e a cura. “É angustiante, pois sabemos que é um tumor que poderia ser evitado. Nos países que fazem a vacinação em massa e controle, como a Austrália e o Canadá, por exemplo, o número de casos de câncer de colo de útero é muito pequeno. Eles caminham para a erradicação da doença. No Brasil ainda temos uma incidência enorme, apesar de termos um Programa Nacional de Imunização que é referência no mundo, com as ferramentas necessárias para prevenir a doença”, avalia a médica.
Onde procurar atendimento médico gratuito no Pará
A região Norte é a única no Brasil em que a incidência do câncer de colo de útero supera a do câncer de mama. A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informou que os exames preventivos de câncer de colo de útero são atribuições da Atenção Básica, e devem ser garantidos pelas gestões municipais. Conforme a necessidade, os usuários são encaminhados para tratamento com cirurgia, radioterapia ou quimioterapia no Hospital Ophir Loyola (HOL) e nas Unidades de Alta Complexidade do Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA) e Hospital Regional de Tucuruí (HRT), além do atendimento em oncologia do Hospital Universitário João de Barros Barreto, de gestão federal.
Dados de casos notificados no Pará:
Neoplasia maligna de colo do útero:
- 2021: 547 casos
- 2022: 250 casos
Carcinoma in situ do colo do útero (cérvix):
- 2021: 130 casos
- 2022: 284 casos
Fonte: Sespa
Estimativas para 2023
- Pará: 780 novos casos
- Belém: 110 novos casos
Fonte: Inca
Três pilares principais de ação contra a doença:
- Vacinação - com 90% das meninas totalmente vacinadas contra o HPV até os 15 anos de idade.
- Rastreamento – meta de 70% das mulheres rastreadas com exame Papanicolau.
- Tratamento – 90% das mulheres com pré-câncer tratadas e 90% das mulheres com câncer invasivo gerenciadas.
Fonte: OMS
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