Dia Nacional da Mandioca: conheça as curiosidades do vegetal de raiz que tem até museu no Pará
O Dia Nacional da Mandioca é celebrado nesta terça-feira, 22 de abril
Nesta terça-feira, 22 de abril, é comemorado o Dia Nacional da Mandioca - data que celebra um dos símbolos da culinária brasileira, com ênfase bastante influente no Pará. Presente em diversos pratos regionais, desde o beiju, caribé, chibé, tapioca, farinha, até a maniçoba e o pato no tucupi. O vegetal de raiz é tão importante que ganhou o museu da mandioca no Pará.
“A importância da mandioca para os povos amazônidas é tamanha, que transcende a sua competência nutricional, é preciso, antes de tudo, compreender que há aproximadamente oito mil anos antes da colonização, a mandioca já havia sido doméstica pelos indígenas amazônidas, falo de uma civilização, historicamente reconhecida como a civilização da mandioca”, explica o professor e pesquisador Miguel Picanço, que investiga o consumo e a importância cultural da mandioca na região.
A mandioca é a comida mais ancestral da mesa dos paraenses. Nativa da Amazônia, a primeira Constituição brasileira foi nomeada de Constituição da Mandioca. O historiador Câmara Cascudo lhe atribui o epíteto de “a rainha do Brasil”, e recebeu outras denominações, a exemplo de pão da terra e trigo do Novo Mundo.
O pesquisador informa que a mandioca ganhou os brasileiros de Norte ao Sul. “Não à toa, a primeira Constituição brasileira foi denominada de a Constituição da Mandioca, afinal, naquele tempo o direito ao voto era outorgado aqueles que mais possuíam renda advindas da produção de raiz: a mandioca era, supostamente, a raiz de maior valor econômico. Sua importância era tanta, que ajudou a desenhar o protótipo da cozinha brasileira, assim como de nossa brasilidade. Por isso, Câmara Cascudo atribui o epíteto de ‘A rainha do Brasil’, também recebeu qualitativos de ‘pão da terra’, ‘trigo do Novo Mundo’”, detalha Picanço.
De acordo com ele, além de nutrir os brasileiros, a mandioca sustentou a economia nacional por longos anos, constituindo no principal produto econômico do país, ao menos até meados do século XIX. “Recentemente, a ONU a elegeu como o alimento do século XXI, reconhecendo, não somente suas propriedades nutricionais, mas também sua generosidade e capacidade de fomentar variedades alimentares na luta pela superação da fome no mundo”, apontou.
Festival da mandioca é patrimônio no Pará
Além de alimento para o corpo físico, a mandioca segue sustentando e acionando um conjunto de práticas, relações sociais e experiências, cujos conteúdos revelam um elevado valor simbólico para os povos que habitam esses territórios amazônicos, funcionando como linguagem que comunica identidade, pertencimento e ancestralidade.
Na comunidade quilombola Espírito Santo do Itá, localizada em Santa Izabel do Pará, essa raiz genuinamente brasileira é celebrada por meio do Festival da Mandioca que, este ano, será comemorado no dia 4 de maio. A programação já é considerada Patrimônio Cultural e Imaterial de Santa Izabel do Pará desde 2018.
A festividade conta com atrações culturais, feira gastronômica, demonstração de práticas e a venda dos produtos derivados da mandioca elaborados na comunidade. O festival acontece desde 2013, criado pelo casal de pedagogos Antônio e Sigla Freitas, buscando preservar a cultura local e proporcionar mais uma fonte de renda para a comunidade, que tem na mandioca a base de sua economia.
A programação também dá espaço à criatividade, por meio de algumas delícias inovadoras que são servidas durante o Festival da Mandioca, como por exemplo, a Coxinha de Tacacá, criada por Jane Costa, uma das mulheres da comunidade entre tantas que tiveram seu talento culinário revelado pelo evento.
A comunidade Espírito Santo do Itá trabalha em toda a cadeia de processamento da mandioca, desde o plantio até a colheita, e a transformação em vários produtos como farinha, goma, tucupi e maniva pré-cozida, além de beiju e pé de moleque, sendo todos os processos de fabricação artesanal. Apesar de muitos ainda utilizarem técnicas antigas, alguns já estão aderindo a novos tipos de instrumentação para elaborar os produtos.
Museu da mandioca
Para preservar a cultura e seus processos de produção, em 2023, o casal Antônio e Sigla Freitas fundou o Museu da Mandioca da Amazônia. Em seu acervo, há um vasto material que remonta aos primeiros indígenas, que descobriram e dominaram a raiz, e compartilharam este conhecimento com os quilombolas.
Outras peças ressaltam a importância do cultivo da mandioca na formação da identidade e do espaço geográfico da comunidade. Em relação à parte instrumental da atividade, há equipamentos artesanais utilizados na elaboração de produtos, além de descobertas científicas acerca do cultivo da mandioca e utilização na indústria mundial. Após dois anos de atividades em espaços itinerantes, em março de 2025, o Museu da Mandioca ganhou sua sede própria, dentro da comunidade Espírito Santo do Itá.
A fundadora do Museu da Mandioca, Sigla Regina, ressalta a importância do vegetal para as populações amazônicas. “Ela tem uma grande importância histórica, cultural e econômica para as populações amazônicas. Ela é considerada uma planta sagrada. Ela desempenha um papel na segurança alimentar, pois é altamente nutritiva”, destacou. “E para o Brasil ela representa além do simples ato de alimentar, ela representa sustentabilidade para diversas pessoas em várias regiões do país”, disse.
Sigla aponta a mandioca como um dos pilares da cultura brasileira, uma herança indígena que influenciou profundamente a alimentação, desde a descoberta dela pelos indígenas em solo amazônico e a absorção pelas populações que pra cá migraram como europeus e africanos. “Ela não foi introduzida no Brasil, ela é uma planta genuinamente amazônica e brasileira, que foi domesticada a 9 mil na região do Rio Madeira onde hoje é o estado de Rondônia pelo grupo indígena Arawak”.
Festival da Mandioca
Data: 4 de maio
Local: Comunidade Espírito Santo do Itá, município de Santa Izabel