Leptospirose: Saiba os riscos de tomar banho em canais durante períodos chuvosos
Fevereiro começou com fortes chuvas em Belém, e, com isso, vídeos de pessoas nadando em canais urbanos viralizaram nas redes sociais, mas essa prática pode ser perigosa
Fevereiro começou com fortes chuvas em Belém, e, com isso, vídeos de pessoas nadando em canais urbanos viralizaram nas redes sociais. O que muitos não sabem é que essa prática aumenta o risco de contrair leptospirose, uma infecção bacteriana que pode levar à morte. Transmitida pela urina de roedores, especialmente ratos, a doença tem maior incidência em locais com saneamento precário ou em situações de alagamento, é o que explica o infectologista Alessandre Guimarães.
Segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), em 2024, foram registrados 117 casos de leptospirose, com 14 óbitos no estado do Pará. No primeiro mês de 2025, houve um caso confirmado e nenhuma morte.
Belém registrou 44 casos da doença, em 2024, resultando em 10 óbitos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma). Já em 2025, até o momento, foram identificados 4 casos, sem registros de mortes na capital paraense.
O especialista afirma que a doença é transmitida pela contato direto da urina do animal com a pele humana ou mucosa, como olho e genital, ou por águas contaminadas. Mas para isso, a pele precisa conter pequenos ferimentos que facilitem a entrada da bactéria, a exemplo de cortes que podem passar despercebidos. O médico ressalta que nadar em canais urbanos oferece um alto risco para contrair a doença.
"O risco é altíssimo pela quantidade de bactérias que podem existir nesses ambientes de baixo saneamento básico. Ela é considerada uma doença de veiculação hídrica, ou seja, transmitida pela água contaminada", explica.
Sintomas
Febre, geralmente elevada, prostração (cansaço extremo) e dor no corpo são os primeiros sintomas que costumam aparecer no período, em média, de uma a duas semanas. Ele reforça que um sinal comum é sentir dor na região da panturrilha sob o toque físico.
Nas formas graves, a manifestação clássica da leptospirose é a síndrome de Weil, levando ao aparecimento de uma pele amarelada, urina escura, insuficiência renal e hemorragia, mais comumente pulmonar. "Essa forma requer internação hospitalar na UTI e diálise precoce. A leptospirose pode levar à morte. Ela evolui para óbito de 50 a 70% dos casos. A mortalidade é alta", alerta.
Prevenção
De acordo com o infectologista, o uso de qualquer tipo de proteção para evitar o contato com a água é essencial, como sacolas de alta gramatura, pois sacos de supermercado não são eficazes. Para aqueles que trabalham em áreas com canais ou propensas a alagamentos, como a Avenida Doca de Souza Franco e a Avenida Almirante Tamandaré, o recomendado é o uso de botas ou vestimentas de proteção.
Tratamento
Uma unidade de saúde deve ser procurada sempre que o paciente apresentar febre alta, de origem aguda, com baixo controle após antitérmicos usuais, acompanhada de muita dor no corpo. E, principalmente, se houver histórico de contato com essas águas ou ambientes que possam veicular urina de roedores, explica Alessandre Guimarães. Também é recomendada a profilaxia com antibióticos contra a doença para quem teve contato prolongado com a água de enchentes.
"Os tratamentos indicados são analgésicos, hidratação e antibióticos, que devem ser iniciados o mais precocemente possível. Daí a importância de conjugar o quadro clínico com os antecedentes epidemiológicos, ou seja, se houve contato com ambiente de baixo saneamento básico ou locais de enchentes e alagamentos", conclui.
Combate à leptospirose em Belém
A Sesma informou, nesta segunda-feira (3), que a Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) está desenvolvendo um programa de controle de roedores, com ações periódicas em diversos locais da cidade, como feiras, mercados, praças públicas, escolas, unidades de saúde e vias públicas.
"O intuito dessas ações é controlar a população de roedores e minimizar a transmissão da leptospirose, doença transmitida por meio do contato com a urina de roedores contaminados", explicou a Sesma.
De acordo com a Secretaria, quando casos suspeitos são identificados, a UVZ realiza investigações detalhadas para localizar a fonte de infecção e acompanha a evolução dos pacientes, além de monitorar a ocorrência de novos casos. Quando a doença é confirmada, são realizadas ações específicas de controle de foco, como desratização nas áreas afetadas e nas imediações.
A Sesma ainda orientou a população a manter os terrenos limpos e acondicionar corretamente o lixo doméstico, para evitar que atraiam roedores. Em caso de grande proliferação de roedores em locais públicos, a UVZ pode ser acionada pelo número (91) 98585-8322.
Por fim, a Secretaria reforça que, ao apresentarem sintomas suspeitos de leptospirose, como febre, dor muscular e cansaço excessivo, as pessoas devem procurar atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), nas Unidades de Pronto Atendimento (Upas) ou nos Prontos-Socorros da rede pública de Belém.
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