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Internações por epilepsia no Pará aumentam 11% em um ano, aponta Sespa

Para alertar sobre os riscos, o Março Roxo, dedicado à conscientização dessa condição, tem como objetivo promover a importância do diagnóstico precoce e dos cuidados com a saúde cerebral

Eva Pires
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O número de internações por epilepsia no Pará registrou um aumento de 11,2% em um ano, como apontam dados do Sistema de Informações Hospitalares do Ministério da Saúde (SIH/SUS), divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Em 2023, foram contabilizadas 1.319 hospitalizações pela doença, enquanto em 2024 esse número subiu para 1.467. Para alertar sobre os riscos, o Março Roxo, dedicado à conscientização dessa condição, tem como objetivo promover a importância do diagnóstico precoce e dos cuidados com a saúde cerebral.

E ainda, o total de acompanhamento médico relacionado à epilepsia em Belém também registrou um aumento pelo terceiro ano consecutivo, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma). Em 2022, foram registrados 4.153 atendimentos pela doença, número que subiu para 4.442 em 2023 e atingiu 4.629 em 2024. Na capital, o acesso ao atendimento especializado para o quadro de epilepsia ocorre por meio de solicitação via postos de saúde, onde o paciente será encaminhado para consulta na especialidade de neurologia.

Embora essa doença neurológica crônica afete milhões globalmente, ela ainda é envolta em estigmas e desinformação. Frequentemente associada apenas às crises convulsivas, a epilepsia é uma condição mais complexa, representando, para muitos, uma constante busca por inclusão. O neurocirurgião Dr. Francinaldo Lobato Gomes aborda os principais aspectos da doença e ressalta que, apesar dos tratamentos disponíveis no Pará, o acesso a eles é limitado para grande parte da população.

O especialista explica que a epilepsia é uma doença progressiva e caracterizada pelas crises epiléticas. O diagnóstico é realizado com base nos sintomas apresentados e nos exames complementares, como o eletroencefalograma e a ressonância magnética. As crises podem envolver sintomas como perda de consciência, contrações musculares, movimentos involuntários, salivação excessiva, incontinência urinária, mordedura da língua, quedas e até urinar nas roupas.

Ele ressalta que, além do impacto físico, a epilepsia pode ser fatal durante uma crise. "A pessoa afetada pode ter dificuldades para sair de casa sozinha, pois pode sofrer uma queda de pressão no meio da rua", menciona. A condição também afeta a vida profissional, já que uma crise pode ocorrer no trabalho, e os relacionamentos pessoais, pois muitos têm vergonha de compartilhar a doença com os outros.

O tipo mais comum de crise é aquele que envolve perda de consciência, como nas crises de ausência, mas nem todas as crises têm abalos musculares. "Em alguns casos, a pessoa apenas perde a consciência e retorna ao estado normal logo depois", completa.

O que fazer em caso de crise?

O neurocirurgião orienta que, em caso de crise, é fundamental chamar a emergência e pedir uma ambulância. É importante posicionar a pessoa de lado para que a saliva escorra e ela não se afogue. Deve-se retirar objetos próximos que possam causar ferimentos, como garrafas, facas ou vidros.

“Nunca coloque nada na boca da pessoa, como dedos ou panos, pois ela pode morder com força e machucar alguém. Na maioria das vezes, a crise passa sozinha, mas em alguns casos, pode demorar a ceder”, afirma. No pós-crise, a pessoa pode ficar sonolenta, desorientada, sem saber onde está, quem é ou que horas são. Algumas podem sentir dor caso tenha havido contraturas musculares.

Tratamentos

O tratamento da doença é realizado pelo uso de medicamentos convencionais, cirurgias e medicamentos à base de cannabis, considerados pelo especialista um dos maiores avanços. No entanto, ela ressalta que, há pouco conhecimento sobre o uso da cannabis e muito preconceito, por ser um medicamento derivado de uma planta que é considerada uma droga, a maconha. Por parte dos pacientes, existe a dificuldade financeira, pois o custo do tratamento com cannabis é alto, dificultando o acesso e a manutenção do tratamento.

Uma das abordagens mais recentes no tratamento da epilepsia é a terapia cetogênica, que se baseia em uma dieta rica em proteínas e gorduras. Além disso, há pesquisas em andamento sobre terapia genética, focada em determinados tipos de epilepsia, e imunoterapia, que utiliza anticorpos para atuar em regiões específicas do cérebro com o objetivo de controlar as crises. No campo cirúrgico, um avanço significativo é o uso de estimuladores cerebrais, conhecidos como marcapassos, para o controle das crises.

No entanto, as terapias genéticas e a imunoterapia ainda não estão amplamente disponíveis, pois necessitam de mais estudos antes de serem liberadas para o uso clínico. O médico ressalta que, no Pará, já estão disponíveis tratamentos com medicamentos, canabidiol e cirurgia de marcapasso. No entanto, apesar dessas opções estarem acessíveis, poucas pessoas na região conseguem ter acesso a elas. "É necessário cobrar das autoridades que esses pacientes recebam os tratamentos adequados", enfatiza.

Estigmas e inclusão

O especialista ressalta que, como sociedade, é essencial compreender que a pessoa com epilepsia é alguém que precisa de tratamento. Muitas vezes, durante as crises, as pessoas não entendem e acabam achando que é um fingimento, ou até associam as crises a uma manifestação espiritual. “A conscientização sobre a doença é fundamental para reduzir a discriminação”, observa.

Apesar do caminho a ser percorrido, ele observa progressos: “Hoje, a epilepsia é muito mais vista como uma condição neurológica do que uma manifestação espiritual. As pessoas estão mais informadas sobre os tratamentos disponíveis e sabem que é possível levar uma vida normal com a doença”, conclui.

A jornalista e pesquisadora Milene Sousa, 35 anos, foi diagnosticada com epilepsia há 11 anos. Para ela, o maior desafio não foi o diagnóstico em si, mas o desconhecimento sobre a doença, tanto por parte da sociedade quanto do próprio meio médico.  “Cada pessoa tem uma epilepsia diferente, e eu precisei me descobrir sozinha. Aprendi mais com outras pessoas do que com os próprios médicos. A crise afetava minha saúde mental, mas hoje conheço muito mais sobre a doença”, afirma.

A epilepsia ainda carrega estigmas, e Milene destaca que um dos principais mitos é a ideia de que todas as pessoas com a condição apresentam convulsões frequentes. “Muitas vezes, a crise convulsiva é a que menos aparece. A epilepsia se manifesta de formas variadas, dependendo da lesão, do tratamento e da gravidade”, explica. Ela também critica a falta de conhecimento sobre os primeiros socorros durante uma crise. “Muitos acham que devem abrir a boca da pessoa ou puxar a língua, mas o cuidado correto é diferente. O ideal é folgar a roupa e, se a crise durar mais de cinco minutos, chamar ajuda médica”, orienta.

Apesar dos desafios, Milene ressalta a importância de uma rede de apoio. “Fui muito acolhida por amigos, familiares e até desconhecidos na rua. Isso faz toda a diferença”, conta. No entanto, ela acredita que a sociedade ainda não está totalmente preparada para incluir pessoas com epilepsia e defende mais informação sobre a doença. “Há movimentos em redes sociais, eventos, aplicativos e camisas personalizadas para conscientização, mas ainda há muito estigma”.

Tratamento

Para dar sequência ao tratamento na rede estadual, o usuário deve procurar uma unidade básica de saúde para consulta inicial e de lá é referenciado para serviços especializados. No Pará, a Sespa conta com 12 unidades que dispõem de consultas em neurologia para adultos e quatro que oferecem neurologia pediátrica. Também na rede municipal, é necessário que o paciente seja encaminhado por um médico clínico geral do posto de saúde - e deve ser feito conforme a indicação do profissional de saúde que realiza o atendimento inicial.

Em Belém, os pacientes com diagnóstico de epilepsia podem ser atendidos nas seguintes unidades de referência conveniadas com o município: Hospital Barros Barreto; Hospital Bettina Ferro; Centro de Especialidades Médicas de Outeiro (Cemo); e CESUPA-CEMEC. O encaminhamento é feito via sistema de regulação municipal.

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