Imunização de pessoas em situação de rua está com baixa cobertura
Apesar da alta adesão na primeira dose, nem a metade do público compareceu para concluir o ciclo vacinal
A cobertura de primeira dose da população em situação de rua ultrapassou as metas estipuladas, mas a aplicação de segunda dose está com baixa adesão. Os dados do Vacinômetro da Secretaria de Estado da Saúde do Pará (Sespa) estimaram que 1.136 pessoas estavam aptas para a vacinação. Desse quantitativo, um público maior compareceu para a primeira parte do ciclo vacinal: 1.371, chegando a 120,69% do total estimado. Já para a segunda dose, menos da metade se imunizou, sendo 37,24%, ou seja, 423 pessoas com a carteirinha anticovid-19 completa.
Muitos fatores podem ter influenciado esses baixos números. A população em situação de rua é oscilante e deve ser observada pelos órgãos públicos no momento dos registros de vacinação. Para a coordenadora do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) de São Brás, Caroline Ribeiro, o que também contribuiu para essa pouca adesão foram as assistências oferecidas na aplicação da primeira dose.
"O fato de a primeira dose ter acontecido, também em parceria com os Espaços de Acolhimento Emergencial do Estado, fez com que a população em situação de rua se concentrasse em determinados locais fixos, o que facilitou a aplicação da vacina. Isso facilitou a adesão positiva por parte desse público na primeira etapa. Além disso, um grande atrativo para a ampla adesão foi a doação de refeição através da parceria com aplicativos de entrega de refeições, o que contribuiu ainda mais a captação dessas pessoas. Já na segunda dose, algumas dessas parcerias não foram restabelecidas, o que impacta a adesão desse público", observa Caroline.
A Fundação Papa João XXIII (Funpapa), responsável pela gestão da política de assistência social de Belém, aponta que cerca de 900 pessoas vivem hoje em situação de rua em Belém e que a vacinação desse público é indispensável. "É fundamental a imunização por se tratar de pessoas em situação maior de vulnerabilidade social. Grande parte dessa população é acometida por doenças respiratórias, bem como contam com baixa imunidade, agravados pelo consumo de álcool e outras drogas entre a maioria dessas pessoas", conclui a coordenadora de uma das unidades do Centro Pop.
Baixa adesão é registrada em várias cidades
Apesar desse público ter sido incluído entre os grupos prioritários do Plano Nacional de Imunização (PNI) do governo federal, vários municípios apresentaram baixa aplicação da segunda dose. Entre eles, a Sespa informa que Santarém, no oeste do estado, está com um déficit de 68%, Altamira com 50% e Castanhal, registrando apenas 25% de cobertura vacinal.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Castanhal (Sesma) e a Coordenadoria de Vigilância em Saúde do município, informaram que, em parceria com a Secretaria de Assistência Social (Semas), estabeleceram um cronograma de vacinação contra a covid-19 de pessoas em situação de rua, que contou com atendimento tanto nas vias da cidade, quanto em pontos de atendimento específicos. No entanto, a maioria dos vacinados, em função da realidade vivida, não apresentava nenhum tipo de documentação oficial (RG, CPF, Cartão SUS, etc), o que dificultou e, ainda dificulta, o repasse de informações precisas ao sistema do Ministério da Saúde.
Em relação aos documentos, a nota ainda acrescenta que são desenvolvidas iniciativas que oferecem suporte para a emissão de segunda via da documentação para que os dados de vacinação sejam atualizados.
(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)