Enfermeira obstetra explica a pré-eclâmpsia e alerta para a importância do pré-natal
Complicação na gravidez pode levar a riscos para mãe e bebê, tema veio à tona após cantora Lexa relatar perda gestacional
A pré-eclâmpsia é uma complicação grave que pode surgir na gravidez e levar a riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. O assunto ganhou destaque recentemente após a cantora Lexa compartilhar com seus seguidores a perda de sua filha, três dias após o nascimento, devido a complicações dessa condição. O caso trouxe à tona a importância do diagnóstico precoce e do acompanhamento adequado no pré-natal.
A enfermagem obstétrica é uma das áreas fundamentais na assistência às gestantes, e a enfermeira obstetra Lorena Saavedra Siqueira, mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Pará, explica que a pré-eclâmpsia é uma doença exclusiva da gravidez e pode surgir a partir da 20ª semana de gestação.
“[A pré-eclâmpsia] se caracteriza por um aumento da pressão arterial associado a sinais como a presença de proteínas na urina (proteinúria), alterações nas enzimas hepáticas, disfunções renais e, em casos mais graves, sintomas neurológicos, como dores de cabeça intensas e distúrbios visuais”, detalha.
Quando a pré-eclâmpsia ocorre e quais são os sintomas?
A pré-eclâmpsia pode se manifestar entre o segundo e terceiro trimestre da gravidez. Quando surge antes da 20ª semana, geralmente está associada a mulheres que já tinham hipertensão crônica antes da gestação. A especialista alerta que a condição também aumenta o risco de parto prematuro.
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Entre os principais sintomas, Lorena destaca a elevação da pressão arterial acima de 140/90 mmHg, podendo ocorrer alteração em apenas um dos valores (sistólico ou diastólico). “Nem sempre a mulher apresenta proteinúria no início, mas alterações na função renal, hepática e sintomas como cefaleia e visão turva podem indicar um quadro preocupante”, pontua.
Nos casos mais graves, a pré-eclâmpsia pode evoluir para eclâmpsia, quando a gestante apresenta convulsões, ou para a Síndrome de Hellp, uma das formas mais severas da doença, caracterizada por hemólise, aumento das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas.
Fatores de risco e dificuldades na prevenção
Lorena explica que algumas mulheres apresentam maior predisposição para desenvolver a pré-eclâmpsia. Os principais fatores de risco incluem:
- Hipertensão crônica prévia;
- Histórico de pré-eclâmpsia em gestações anteriores;
- Trombofilia;
- Idade extrema (muito jovens ou mais velhas);
- Diabetes e obesidade;
- Gravidez de gêmeos.
Sobre a prevenção, a especialista esclarece que há desafios, pois a origem da pré-eclâmpsia está ligada a eventos que ocorrem nos primeiros estágios da gestação, durante a nidação (processo de fixação do embrião no útero). “Não há uma forma definitiva de prevenir a doença, mas podemos identificar precocemente as gestantes de risco e adotar medidas para evitar complicações mais graves”, afirma.
Exames como ultrassonografia com Doppler podem avaliar a resistência das artérias uterinas e indicar a necessidade do uso de ácido acetilsalicílico (AAS) em baixas doses e suplementação de cálcio para reduzir o risco de complicações.
Importância do pré-natal e tratamento da pré-eclâmpsia
O pré-natal adequado é essencial para detectar precocemente alterações na pressão arterial e outros sinais da doença. “A pressão arterial deve ser monitorada em todas as consultas. O primeiro sinal de alerta para a pré-eclâmpsia é o aumento da pressão, e falhas nesse acompanhamento podem atrasar o diagnóstico”, alerta Lorena.
Alerta para gestantes e familiares
O caso de Lexa trouxe visibilidade ao tema e reforçou a necessidade de informação e acompanhamento especializado para evitar desfechos trágicos. “A pré-eclâmpsia é uma condição séria, mas que pode ser gerenciada se identificada a tempo. Por isso, o pré-natal é indispensável para garantir a segurança da mãe e do bebê”, conclui a enfermeira obstetra.
Sesma
A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informa que os casos de pré-eclâmpsia entre as gestantes atendidas na Rede Municipal de Saúde de Belém apresentaram aumento entre os anos de 2023 e 2024, passando de 20 para 24 diagnósticos. Para o ano de 2025, até o momento, ainda não há dados registrados no sistema.
Essa condição, caracterizada pelo aumento da pressão arterial e outros sintomas graves durante a gestação, exige atenção especializada e medidas rápidas para prevenir complicações graves à saúde da mãe e do bebê.
Na Rede Municipal de Saúde de Belém, as gestantes diagnosticadas com pré-eclâmpsia recebem acompanhamento diferenciado durante o pré-natal, com consultas regulares voltadas para o monitoramento da pressão arterial e a realização de exames laboratoriais, como a avaliação de proteínas na urina. Quando identificada, a condição é encaminhada para o pré-natal compartilhado de alto risco, onde as mulheres recebem atendimento especializado de uma equipe multiprofissional composta por obstetras, enfermeiras e outros profissionais de saúde.
Sespa
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que não dispõe de dados sobre diagnóstico de pré-eclâmpsia porque não há local específico para esse tipo de registro nos municípios.
No entanto, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do SUS, em 2023, o Pará registrou 162 internações por pré-eclâmpsia, e 115 em 2024 (até novembro). Os resultados refletem apenas o número de gestantes e puérperas que internaram com esses agravos.
A Sespa orienta os municípios a utilizarem protocolos de estratificação de risco gestacional no pré-natal, a fim de identificar precocemente sinais e sintomas de eclâmpsia e/ou pré-eclâmpsia, considerando a história pregressa da gestante.
Quando identificados precocemente os fatores de risco, com hábitos saudáveis e o uso de medicamentos, é possível reduzir em 50% a incidência de desenvolvimento de hipertensão grave.