Dom Azcona, Bispo Emérito do Marajó, morre aos 84 anos, em Belém
Dom Azcona tinha 84 anos de idade e estava internado em cuidados paliativos no Hospital Porto Dias, em Belém.
O Bispo Emérito, Dom José Luís Azcona Hermoso, de 84 anos, morreu na manhã desta quarta-feira (20/11), em Belém. O falecimento foi comunicado pela Prelazia do Marajó. Dom Azcona, como era carinhosamente chamado, estava internado em cuidados paliativos no Hospital Porto Dias.
“Nesse momento, nossa Prelazia do Marajó enlutada louva a Deus pela vida e ministério de nosso bispo emérito e pede ao Senhor Bom Pastor, que o acolha em sua misericórdia e lhe conceda o descanso eterno”, escreveram no instagram.
O corpo de Dom Azcona será velado em Belém, na noite de hoje, das 21h à meia-noite, na Paróquia São José de Queluz, localizada na avenida Cipriano Santos, 311, no bairro de Canudos.
Na quinta-feira, 21, a igreja será aberta às 5h30 para a continuação das últimas homenagens até o horário da Missa de Corpo Presente, marcada para 7h. Às 9h, o corpo de Dom Azcona sairá do local para ser trasladado até Soure, no Marajó. A viagem deve acontecer entre 10h30 e 11h.
Ainda não está confirmada como será a programação de despedida do bispo em Soure, entretanto, Dom Azcona deverá ser sepultado na Catedral Nossa Senhora da Consolação.
Câncer
Bispo Azcona foi trazido a Belém no dia 16 de junho deste ano. Segundo o padre Casimiro Antoni Skorski, administrador diocesano da prelazia do Marajó, inicialmente o bispo Azcona foi internado devido a um distúrbio metabólico do sódio. No dia 16 de junho, o bispo Azcona foi internado em um hospital particular em Belém, para o tratamento médico. Três dias depois, já em 19 de junho, foi constatada uma lesão no pâncreas que necessitava de melhor investigação.
A informação sobre o diagnóstico do câncer no pâncreas foi divulgada no dia 27 de junho, após o recebimento do boletim médico, enviado à igreja na quinta-feira (26/06). Conforme divulgado na época, se tratava de Neoplasia maligna, quando há a proliferação anormal de células com estrutura diferente do tecido original e possibilidade de metástase.
No dia 6 de agosto o bispo Azcona iniciou o primeiro ciclo de quimioterapia. Azcona também chegou a mostrar melhora no quadro de saúde. A informação foi confirmada pelo Chanceler da Prelazia do Marajó, padre Rafael Guedes, por meio de nota divulgada nas redes sociais.
No dia 28 de agosto, o bispo Azcona recebeu alta do hospital e retornou para casa. Sete dias depois, já em 4 de setembro, ele retornou para o ambulatório de oncologia, para realizar um novo ciclo de quimioterapia. Após o retorno ao hospital, o bispo permaneceu internado recebendo cuidados paliativos relativos à doença. Conforme divulgado pela Prelazia do Marajó, a saúde estava estável.
O último boletim médico divulgado pela Prelazia do Marajó foi no dia 13 de novembro, quando informaram que Dom Azcona estava “conversando e consciente da realidade”. O comunicado foi assinado pelo Bispo Dom José Ionilton de Oliveira e pelo Chanceler Padre Raimundo Rafael de Souza Guedes.
Trajetória
Dom José Luiz Azcona nasceu em Pamplona, na Espanha, em 28 de março de 1940. Foi para o Seminário Menor aos dez anos de idade na cidade de São Sebastião (Espanha). Professou os votos simples em 1958 e os votos solenes em 1961. Foi ordenado sacerdote por Dom Giovanni Canestri, na Basílica de São João de Latrão, em Roma, em pleno Concílio Vaticano II. Em 1964 concluiu a teologia e cursou o doutorado em teologia moral no Instituto Alfonsiano dos padres redentoristas em Roma. Foi premiado em 2022 com a Ordem do Mérito Princesa Isabel
Em 21 de dezembro de 1963, foi ordenado padre na Ordem dos Agostinianos Recoletos na basílica de São João de Latrão, em Roma, em pleno Concílio Vaticano II. Em 1964 concluiu a teologia e cursou o doutorado em teologia moral no Instituto Alfonsiano dos padres redentoristas em Roma. Foi premiado em 2022 com a Ordem do Mérito Princesa Isabel. Em 1985, chegou ao Brasil.
Foi nomeado bispo por São João Paulo II, em 1987. A sua sagração episcopal ocorreu em 5 de abril de 1987 por Dom Alberto Gaudêncio Ramos, em Belém (Pará). Desde 12 de abril daquele ano permaneceu em Soure, na Ilha de Marajó.
Por sua atuação contra o tráfico humano e a exploração sexual de crianças e adolescentes no Marajó, Dom Azcona sofreu ameaças de morte na região Norte. Ele permaneceu na prelazia marajoara até a renúncia ao governo pastoral, em 2016.
Em 2018, ele foi o pregador do retiro para o episcopado brasileiro reunido na 56ª Assembleia Geral da CNBB. Também participou de reuniões promovidas pela Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da CNBB.
Em 10 de setembro deste ano, Azcona recebeu a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré no leito do hospital onde esteve internado, em Belém.
Combate ao tráfico humano e exploração sexual
Ao longo do tempo em que esteve no Marajó, Dom Azcona foi assíduo denunciante de casos de exploração sexual e até mesmo de tráfico de pessoas, como destacuo a Regional Norte 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em sua nota de pesar:
"Recordando o seu lema episcopal “In Nomine Domini - Em nome do Senhor”, elevamos aos céus as súplicas pelo descanso eterno deste irmão ao retorno a Casa do Pai. Com uma vida dedicada a missão em cuidar do povo do Marajó ao longo de 37 anos no episcopado, Dom Azcona não mediu esforços, e colocou sua vida em risco, ao denunciar a situação miserável em que vive a população do arquipélago, a devastação ambiental e a pesca predatória na região, assim como também denunciou a exploração sexual infantil e o tráfico de mulheres. Na certeza, Dom José Luís Azcona parte deixando em seu legado episcopal a força de lutar pelo povo e para o povo do Arquipélago do Marajó".
A irmã Marie Henriqueta Ferreira Cavalcante, de 64 anos, fundadora e presidente do Instituto Dom Azcona (IDA), conta que, desde 2006, o bispo já vinha acumulando uma série de denúncias que, muitas vezes, chegavam até ele sem esforço: "As pessoas começavam a nos procurar, porque elas diziam que confiavam em nós. Elas sabiam que a gente não ia se calar", detalha Marie Henriqueta.
Um dos grandes marcos na trajetória de enfrentamento a esses crimes aconteceu em março de 2008, quando foi criada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, que buscou reivindicar os resultados das investigações de denúncias já feitas por Azcona. "Ele insistentemente fez com que fosse instalada uma CPI para que fossem investigadas tantas denúncias", declara Marie Henriqueta.
O preço de ocupar o front também era cobrado, relembra a fundadora do IDA: "as ameaças foram explícitas. Chegavam recados. Eu lembro que, há alguns anos atrás, quando ele denunciou um esquema de tráfico de pessoas no Marajó, ele recebeu explicitamente ameaças, através de outras pessoas que o viam nas ruas. Mas ele nunca recuou, sempre enfrentou com muita força e coragem toda denúncia que chegava para nós resolvermos".
Comoção
O governador do Estado do Pará, Helder Barbalho, usou sua rede social no 'X' para manifestar pesar e decretou luto oficial:
"Lamento profundamente a morte de Dom José Luis Azcona Hermoso, bispo emérito da Prelazia do Marajó. Meus sentimentos aos amigos e familiares. Decreto, portanto, luto oficial em todo o Estado".
Semelhantemente, a vice-governadora, Hana Ghassan se manifestou:
"Com tristeza recebi a notícia da morte de Dom José Luís Azcona Hermoso, Bispo Emérito da Prelazia do Marajó. Dom Azcona tinha 84 anos e ao longo da sua vida defendeu os direitos humanos no nosso estado. Meus sentimentos aos familiares e amigos".
Jader Barbalho citou o reconhecimento internacional de Dom Azcona:
O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, também aproveitou a rede social para deixar uma mensagem de lamento:
"O meu pesar pela partida de Dom Luís Azcona Hermoso, bispo emérito do Marajó, defensor da justiça social. Ele lutou incansavelmente pelas crianças e adolescentes do Marajó, protegendo e inspirando muitos. Hoje, choramos, mas fica o exemplo de coragem, amor e fé a ser seguido".
O Ministro das Cidades, Jader Filho, se pronunciou e destacou a vida de Azcona como um exemplo a ser seguido:
"Dom Azcona teve uma vida de exemplo de amor ao próximo. Me solidarizo com todos os fiéis, amigos e familiares. Que sua memória inspire a todos a continuarem trabalhando por um mundo mais justo e fraterno".
A senadora do Distrito Federal, Damares Alves, fez uma extensa publicação em homenagem a Azcona:
"Hoje nos despedimos de um amigo, um líder que ultrapassou todas as barreiras, que enfrentou com todas as forças os poderosos e me inspirou na luta pelo fim da violência sexual contra crianças e adolescentes no arquipélago do Marajó".
Ela também cita o começo do relacionamento com Azcona e a luta contra o abuso sexual infantil no Marajó: "Conheci Dom Ascona ainda no início dos anos 2000. Eu era uma assessora e ativista em defesa das crianças. Ele, uma liderança religiosa do Pará, de voz grave e corajosa, com firmeza para denunciar, em uma CPI da Câmara dos Deputados, todas as barbaridades cometidas contra tantos pequeninos ao longo das últimas décadas na terra onde ele exercia o sacerdócio".
"Sem Dom Ascona jamais existiria Abrace o Marajó. Sem a determinação dele, talvez o Brasil não conhecesse aquela terra e as necessidades daquele povo sofrido e trabalhador", afirma enfaticamente Damares Alves e se despede: "Vá em paz, meu amigo. Aqui nessa terra continuaremos sua luta. Não vamos esquecer as crianças pelas quais o senhor tanto lutou".
Destacando o legado de Azcona na luta contra a exploração sexual infantil no Marajó, a secretária de Cultura do Pará, Úrsula Vidal, publicou:
"Partiu hoje deste plano uma das mais ativas vozes no combate à exploração sexual de crianças e adolescentes no arquipélago do Marajó. Dom José Azcona estava internado em Belém se tratando de um câncer no pâncreas, mas não resistiu, falecendo aos 84 anos de idade. O religioso - homem corajoso e firme em sua luta na Prelazia do Marajó - chegou a ser ameaçado de morte em 2008. Que descanse na paz dos justos e valentes".
A prefeita de Ponta de Pedras, no Marajó, Consuelo Castro, foi mais uma das autoridades a lamentar a morte de Azcona. Ela enfatizou o impacto da vida do religioso na região:
"É com profundo pesar que lamentamos o falecimento de Dom José Luis Azcona, Bispo Emérito do Marajó. Sua dedicação incansável à fé, à justiça e à luta pelos mais necessitados marcou profundamente nossa região e deixou um legado de amor e coragem. Que Deus o acolha em Sua glória eterna e que seu exemplo continue a inspirar a todos nós. Nossas orações e sentimentos aos familiares, amigos e à Diocese do Marajó".
O deputado federal Delegado Éder Mauro também escreveu: "O Marajó perdeu seu grande defensor. Dom Azcona nos deixa, mas o trabalho em defesa da região, principalmente das crianças e dos adolescentes, é um legado para todos nós e deve ser ampliado e fortalecido. Que Deus o receba".
A Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) lamentou a morte de Dom Azcona.
“Lamentamos profundamente o falecimento do Bispo Emérito do Marajó, Dom José Luís Azcona. O líder religioso tinha 84 anos e tratava um câncer no pâncreas diagnosticado este ano. Dom José Luís Azcona era um religioso espanhol da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Foi bispo da prelazia do Marajó de 1987 a 2016 e, mesmo após sua renúncia, continuava vivendo na ilha. Nossos sentimentos a parentes, amigos e a todos que admiravam o trabalho de Dom José Luís Azcona”, escreveu em uma publicação nas redes sociais.
O advogado Jarbas Vasconcelos do Carmo, membro honorário vitalício da OAB e ex presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará também se manifestou nas redes sociais após a morte de Dom Azcona.
“Lamento, profundamente, a morte de Dom José LuÍs Azcona, bispo emérito da Prelazia do Marajó, ocorrida hoje (20). Dom Azcona foi um baluarte na defesa dos direitos humanos das populações mais vulnerabilizadas do nosso arquipélago do Marajó, sobretudo das crianças. Suas denúncias fizeram com que sua vida fosse ameaçada inúmeras vezes, mas ele nunca se calou. Nos deixa um belo exemplo de fé, dignidade, caridade e amor ao próximo. Que siga em paz e que o seu legado continue nos guiando”, escreveu.