Dia Mundial sem Tabaco: cigarro eletrônico é risco para a saúde de crianças e jovens

Campanha do Ministério da Saúde e oncologista em Belém alertam para os efeitos nocivos do hábito de fumar

Eduardo Rocha
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A campanha do Ministério da Saúde (MS) e do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o Dia Mundial Sem Tabaco, nesta sexta-feira (31), tem como foco "Proteção das crianças contra a interferência da indústria do tabaco", diante do risco dos cigarros eletrônicos e informações enganosas das empresas do tabaco, o que leva a uma iniciação mais precoce ao tabagismo. Essa preocupação é compartilhada em Belém pelo médico oncologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Luís Eduardo Werneck. "O mais impactante é que não só o cigarro, o tabaco, mas esses cigarros eletrônicos, os vapers, são muito mais nocivos. Eles têm uma duração muito maior, as pessoas passam muito mais tempo utilizando, porque é muito prático, fica muito fácil. Eles têm essências, aromas diferentes, e são aceitos socialmente, por causa do aroma, das fragrâncias (de hortelã, abacaxi), o cigarro tem um cheiro ruim. O grande problema é que 90% dos usuários de cigarros eletrônicos no mundo todo estão abaixo de 30 anos de idade. São pessoas muito jovens", enfatiza o médico.

Com isso, como destaca Werneck, já se percebe um aumento da incidência ou uma tendência do aumento da incidência de cânceres de pulmão, de laringe, de traqueia e de boca em pessoas muito jovens. "Então, a campanha para tentar proteger as crianças é, na realidade, para que as crianças não fumem, é para que elas também não vejam as pessoas fumando. Isso pode ser um exemplo muito nocivo para essas pessoas", destaca o oncologista. Em 24 de abril último, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou a Resolução n° 855, proibindo a fabricação, a importação, a comercialização, a distribuição, o armazenamento, o transporte e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar (DEF). Dados apresentados pelo MS demonstram que crianças e adolescentes que usam cigarros eletrônicos têm pelo menos duas vezes mais probabilidade de fumar cigarros mais tarde na vida.

image Oncologista Luís Eduardo Werneck alerta para os riscos do tabagismo (Foto: Cristino Martins | Arquivo O Liberal)

Como revelou a última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), em 2019, 16,8% dos escolares de 13 a 17 anos já haviam experimentado o cigarro eletrônico, sendo 13,6% nos de 13 a 15 anos e 22,7% nos de 16 e 17 anos. Quanto ao sexo, a experimentação é maior entre os homens (18,1%) do que entre as mulheres (14,6%). A maior experimentação do cigarro eletrônico sendo verificada nas regiões Centro-Oeste (23,7%), Sul (21,0%) e Sudeste (18,4%), ficando menor do que a média nacional na Região Nordeste (10,8%) e Norte (12,3%). A variação quanto ao sexo, demostrou. Uma experimentação maior para os homens (18,1%) do que para as mulheres (14,6%), sendo essa predominância mantida em todas as regiões.

Houve ainda aumento dos escolares de 13 a 17 anos que declararam o consumo de cigarros nos 30 dias anteriores à data da pesquisa, subindo o percentual de 5,6% em 2013, para 6,8% em 2019. Os dados estão disponíveis no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os cigarros eletrônicos apresentam nicotina que provoca dependência e pode afetar negativamente o desenvolvimento cerebral de crianças e adolescentes (aprendizado e saúde mental), além de doenças cardiovasculares e respiratórias e mais de 20 tipos de câncer. De acordo com o INCA, o número estimado de casos novos de câncer de traqueia, brônquios e pulmão para o Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 32.560 casos.

Alerta

"Esqueça o cigarro eletrônico, ele é muito pior que o convencional. Estou com câncer no pulmão, em tratamento, tenho certeza que irei vencer, mas eu convido a toda a sociedade que largue o tabaco, principalmente neste dia mundial de luta contra o tabagismo. Na verdade, eu larguei de fumar há uns 8 anos quando descobri que tinha câncer de intestino. Não foi difícil, pelo contrário. Em primeiro lugar, eu tinha que preservar a minha saúde e eu não pensei duas vezes antes de parar de fumar carteiras de cigarro, o tabaco em si". O alerta é dado pelo administrador José Maria de Lima Segundo, 49 anos, que se encontra em tratamento contra o câncer em Belém.

image José Maria de Lima Segundo: 'Esqueça o cigarro eletrônico!' (Foto: Ivan Duarte | O Liberal)

Ele começou a fumar aos 20 anos de idade, quando foi morar no Japão. Ele parou de fumar ainda jovem, quando retornou ao Brasil, mas, em 2016, aos 42 anos, teve câncer de intestino. Fez tratamento e ficou tudo bem. Mas voltou a fumar há cerca de 2 anos, desta vez, usando o cigarro eletrônico. Começaram, então, problemas de saúde, e, ainda neste mês iniciou tratamento contra câncer de pulmão, metástase daquele câncer de intestino de 2016.

Rastreamento

A Aliança Brasileira de Combate ao Câncer de Pulmão, reunindo entidades da oncologia no país, atua no rastreamento dessa doença que responde pelo diagnóstico de mais de 32 mil pessoas anualmente no Brasil, com 90% desses pacientes (cerca de 30 mil) morrendo em consequência dessa enfermidade. Daí a importância do diagnóstico precoce e a Associação atuar na implantação do Protocolo de Rastreamento (para aumentar o diagnóstico precoce) e o reforço no combate ao tabagismo (principal causa do câncer de pulmão).

Esse trabalho mostrou que o rastreamento pode diminuir a mortalidade de 20% a 24%, graças à possibilidade de identificar o câncer de pulmão no estágio inicial. E quando os pacientes são diagnosticados precocemente e param de fumar, essa redução de mortalidade chega a 38%. Nesse caso, é indicado o exame de Tomografia Computadorizada com Baixa Dose de radiação (TCBD) para um grupo específico de pessoas: pacientes de 50 e 80 anos de idade, tabagistas atuais ou que tenham parado de fumar nos últimos 15 anos, com carga tabágica igual ou superior a 20 anos-maço (cálculo feito a partir da quantidade de cigarros fumados por dia e o número de anos em que o paciente foi fumante).

“Esta recomendação das sociedades médicas é um marco importante na luta contra o câncer de pulmão no Brasil, fornecendo diretrizes abrangentes e atualizadas para orientar práticas clínicas e políticas de saúde.  A expectativa é de que os profissionais de saúde possam identificar precocemente os casos de câncer de pulmão, proporcionando aos pacientes tratamento adequado em estágios mais favoráveis da doença”, explica o cirurgião torácico Iury Burlamaqui, em Belém.

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