Dia de lutar pelo amor e pela liberdade da população LGBTI+
O IBGE aponta que cerca de 16,5% da população no Brasil é LGBTI+
O 17 de maio é o Dia Internacional Contra a LGBTIfobia. Foi nesse dia, em 1990, que a Organização Mundial da Saúde (OMS) deixou de considerar a homossexualidade uma doença ou distúrbio. Já se passaram 29 anos e a população LGBTI+ do planeta ainda enfrenta o preconceito e o ódio diariamente. Muitas vezes, dentro de casa, da escola e do trabalho. No Brasil, a data terá um foco na cobrança da criminalização da LGBTIfobia pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
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"Eu sou um homem cis, gay, sem trejeitos. Não corro tantos riscos. Mas não posso andar de mãos dadas com meu namorado, olhar ele de forma carinhosa, fazer um carinho que serei interrompido. Isso acontece todos os dias com muitas pessoas. Pessoas são interrompidas ew privadas de sua liberdade", diz Gleyson.No próximo dia 23 de maio, o STF volta a discutir o tema. Inicialmente, a ideia é equiparar a LGBTIfobia ao crime de racismo. Em seguida, dar prazos ao legislativo para que sejam criadas leis específicas. O ideal para a população LGBTI+ era de que não fossem necessárias leis para fazer as pessoas respeitarem. Mas enquanto a educação não transforma essa realidade, a punição para o ódio e a violência são medidas emergenciais para frear a quantidade de crimes que fazem do Brasil o país que mais mata LGBTIs no mundo. Por enquanto, quatro ministros já votaram a favor.
Dados cruzados de entidades e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que cerca de 16,5% da população é LGBTI+, sendo 10% gays, 6% lésbicas e 0,5% trans. Mas esses dados até hoje não têm base sólida e confiável. Acredita-se que muita gente nem esteja representada, já que faltam também bissexuais e intersexos. E muitas pessoas podem nem querer se identificar como LGBTI+ por medo ou preconceitos consigo mesmos. Uma das razões para ainda ser necessário um Dia Internacional Contra a LGBTIfobia.
A LGBTIfobia cria vítimas todos os dias, afirma Gleyson Oliveira, presidente da ONG Olívia, que funciona na Universidade Federal do Pará. Nesta quinta-feira (16), ele recebeu a notícia de um estupro de um rapaz trans pelo padastro, em Belém. E com base em mais esse registro de violência, ressalta que as pessoas trans são as principais vítimas da violência. Isso porque há mais sinais visuais que despertam o ódio e o preconceito.
Diante de tanta violência, a ONG pretende organizar um curso de defesa pessoal para LGBTIs, com foco para pessoas trans. "Infelizmente, isso está se tornando cada vez mais necessário", diz o presidente da Olívia, que atua desde 2016, inicialmente com o objetivo de cuidar do bem-estar social da população LGBTI+.
Mas não basta só enfrentar a violência. É preciso garantir os direitos e criar sempre novas políticas públicas de reparação e inclusão. Assim, a desigualdade vai diminuir e, consequentemente, a violência.
"Infelizmente, na academia, ainda comemoramos quando uma pessoa trans passa no vestibular. Temos muitos gays e lésbicas na academia, mas pessoas trans ainda têm dificuldade. Então estamos pensando em criar um cursinho preparatório para LGBTIs", adianta o presidente da ONG.
Famílias devem ser a primeiras a combater a LGBTIfobia
E uma outra forma do enfrentamento da LGBTIfobia é estruturação das famílias. O amparo na aceitação, na conciliação e na informação. O apoio familiar é uma importante forma de proteção de LGBTIs. Um dos trabalhos da ONG é ajudar as famílias que estão descobrindo pessoas LGBTIs. E assim, evitar separações bruscas ou compreensões tardias, que costumam ocorrer após a morte de um LGBTI+.
Gelyson cita um caso emblemático: Lucas Fortuna, jornalista goiano, gay e ativista político. Sempre teve um relacionamento muito difícil com o pai, que chegava a deixá-lo sem comida como castigo para algo que nunca foi errado. Lucas foi assassinado em 2012, em Pernambuco. O pai, só depois de perder o filho, percebeu que não tinha mais tempo para aceitar e resolveu iniciar um grupo de apoio psicológico para famílias de LGBTIs.
"Ou os pais dizem hoje que amam seus filhos ou eles podem ser assassinados e não vai ter como dizer depois. E um caso muito emocionante. Tivemos um caso de sucesso em Mosqueiro. Fomos dar uma palestra numa escola. E depois fomos contatados, pela fan page, que um jovem, de 16 anos, estava querendo se matar. Conversei com ele, em particular. Pedi que a escola chamasse a mãe dele. Mostrei a conversa que tivemos e ela chorou por não saber que o filho estava sofrendo tanto dentro de casa. Eles estão muito bem e se respeitando", conta Gleyson.
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