Ciência: após queda de artigos científicos no Brasil, pesquisas devem se intensificar na Amazônia
Essa é a expectativa de técnicos de instituições que atuam na região e conseguiram se manter atividades apesar da pandemia e poucos investimentos
Essa é a expectativa de técnicos de instituições que atuam na região e conseguiram se manter atividades apesar da pandemia e poucos investimentos
A arrancada do Brasil para sediar o maior evento sobre meio ambiente, a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), a ocorrer em Belém do Pará em 2025, tem pela frente promover o aumento da produção de artigos científicos no país. Dados do relatório da Elsevier-Bori, que analisou 51 países que publicaram mais de 10 mil artigos científicos, foram divulgados no dia 23 último e indicam que, pela primeira vez, o Brasil registrou queda (7,4%) na produção desse tipo de material em 2022, na comparação com 2021. No entanto, dirigentes e técnicos de instituições nacionais, que, inclusive, atuam na Amazônia, sede da COP30, acreditam que a partir de 2023 novos horizontes serão concretizados para a pesquisa em solo brasileiro. Nesse sentido, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) já começa a investir nessa direção positiva.
Também outros 23 países tiveram redução na ciência, segundo a pesquisa. Os motivos para a situação verificada no ano passado, no Brasil, envolvem, basicamente, a pandemia da covid-19 e a redução de investimentos. Porém, entre os dirigentes e técnicos de instituições no Pará, existe a expectativa de maiores investimentos, como se verifica no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPE) e na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
O diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, explica que a produção de artigos científicos na instituição tem dois momentos em 2022: “Se levarmos em consideração apenas os pesquisadores e tecnologistas efetivos, o quantitativo de publicações sofreu uma redução quase insignificante, em torno de 2,36%, pois foram 127 artigos publicados em 2021 e 124 em 2022. Por outro lado, ao considerarmos a publicação científica envolvendo toda a comunidade goeldiana, ou seja, envolvendo bolsistas de programas de pós-graduação, pós-doc, do Programa de Capacitação Institucional (PCI) e de Iniciação Científica (PIBIC), além de pesquisadores voluntários, em 2022 houve um acréscimo de 42%”.
Em contraste às limitações impostas pela pandemia, pesquisadores do Museu Goeldi se superaram e, então, “houve um incremento dos esforços do quadro de especialistas para a produção de artigos científicos que haviam sido reprimidos em 2020 e 2021”,como assinala Gabas Júnior.
Os dados do MPEG são: 2021 – 209 artigos / 2022 – 297 artigos - incluindo toda a comunidade científica da instituição, principalmente os bolsistas; 2021 - 127 artigos / 2022 - 124 artigos – considerando exclusivamente os pesquisadores e tecnologistas do quadro de pessoal do Museu Goeldi. Em 2020 e em 2021, muitos pesquisadores, ainda que sem acesso a pesquisas de campo, laboratórios e coleções científicas, conseguiram produzir artigos com os dados científicos que haviam sido coletados em anos anteriores.
A pequena redução na produção de artigos científicos na instituição deveu-se, principalmente, à redução no quadro de pesquisadores por aposentadoria, às restrições orçamentárias que reduziram a oferta de editais de fomento à pesquisa, e também aos reflexos indiretos em decorrência das ações restritivas impostas pela pandemia, como suspensão de atividades em laboratórios, em coleções científicas e trabalhos de campo, como pontua o diretor.
A alta da produção científica qualificada está fortemente alicerçada na produção dos pesquisadores efetivos, mas conta com a colaboração fundamental de bolsistas vinculados aos programas de pós-graduação (mestrado e doutorado), assim como dos bolsistas do Programa de Capacitação Institucional (PCI). Em 2021, os bolsistas responderam por 42,47% da publicação científica institucional; em 2022, esse percentual passou a ser de 51,85%.
Gabas Júnior constata um desequilíbrio grave para ser resolvido: na equipe de pesquisadores o Museu Goeldi conta hoje com mais bolsistas do que servidores, e é preciso inverter essa situação. “Para isso, é necessário criar um mecanismo semelhante ao das universidades federais de reposição automática das vagas abertas na instituição por aposentadoria ou falecimento. Passar décadas sem concursos para novos especialistas afeta diretamente linhas de pesquisa (manutenção e criação), gera sobrecarga de trabalho, impacta a capacidade de cooperação e intercâmbio científico, reduz as possibilidades de contribuição institucional com análises das questões amazônicas, sugestões para políticas públicas e a oferta de processos e produtos”.
No que pese a valorização da ciência, a partir da troca de governo, o aumento do orçamento em Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) com o fim do contingenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), em 2023, em termos orçamentários, a perspectiva aponta para um ano de grande otimismo para o Museu Goeldi, como frisa Gabas Júnior.
“O anúncio, por parte do Governo Federal, de abertura de concurso público no âmbito do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) para pesquisadores e tecnologistas, o aumento do valor das bolsas (IC, mestrado e doutorado), a maior disponibilidade de vagas nos programas de pós-graduação, e a retomada de editais de fomento à pesquisa científica, tecnológica e de inovação, aumentam também a expectativa de que nos próximos anos teremos um panorama de evolução e retomada da produção científica brasileira”, destaca o diretor do MPEG.
Além disso, como repassa Gabas Júnior, houve um grande investimento no Museu Goeldi de ampliação e aquisição de equipamentos de compactação e segurança das coleções científicas, além do incremento expressivo da capacidade analítica com aparelhamento de laboratórios multidisciplinares, o que torna as condições de trabalho de pesquisadores e tecnologistas cada vez melhor e potencializa nossa capacidade de produção científica.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a partir de informações coletadas na base AINFO, o sistema de gestão do acervo documental e digital dessa organização. informa que “os dados indicam que o total de artigos publicados pelos pesquisadores da Empresa em periódicos científicos teve crescimento anual até o ano de 2019, quando atingiu a marca de 2.819 trabalhos. Nos três anos seguintes houve queda: 2.565 em 2020; 2.405 em 2021 e 2.078 em 2022”. Isso abrangendo dados gerais no Brasil.
Para a empresa, a queda de produção neste período abrangem o reflexo da pandemia e a redução significativa do aporte de orçamento para custeio e investimentos para a programação de PD&I da Embrapa, consequência dos cortes promovidos pelo Governo Federal.
A Embrapa, como dito pela empresa, tem como missão viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura no país e “seus resultados não podem ser medidos apenas pelo total de artigos científicos publicados”.
“Nos últimos anos, foi feito um esforço concentrado para qualificação dos ativos tecnológicos gerados pela programação de PD&I da Empresa. Este indicador mostra aumento nos últimos anos: 587 em 2020, 703 em 2021 e 772 em 2022”, finaliza a Embrapa.
O pró-reitor de Pesquisa e Pós graduação da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Jofre Freitas, destaca que "a avaliação da maior parte da produção científica das IES (Instituições de Ensino Superior), oriunda dos Programas de Pós-Graduação, é realizada de 4 em 4 anos”. “Então, esses dados (da pesquisa recém-divulgada) não obrigatoriamente refletem de forma real a produção científica nacional. De qualquer forma, os dados de diminuição da produção científica do ano de 2021 para 2022 podem ser reflexo tanto da pandemia, como da política de ciência e tecnologia implementada pelo governo anterior”, completou.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) realiza, anualmente, o levantamento da Produção Científica Brasileira, baseado na tabela/indexador Thomson/ISI e Scopus, 1996-2022. “De acordo com os dados, a produção científica brasileira caiu de 94.428 artigos publicados em 2021 para 86.987 em 2022, uma queda de 7.441 artigos ou 7,88% em relação ao ano anterior”, como informa essa pasta.
A fonte de dados utilizada pelo MCTI é a Scopus e que a publicação indexada ocorre de dois a três anos após o artigo ser escrito, como explica o Ministério. “Desta forma, os números apresentados em 2022 possuem forte reflexo da pandemia, além da evasão de talentos sofrida pelo país, do sucateamento das universidades e do congelamento dos valores das bolsas de pesquisa”.
Em menos de sete meses de governo, o MCTI contabiliza um conjunto de entregas: reajustou as bolsas de estudo e pesquisa, beneficiando 258 mil bolsistas da Capes e do CNPq; lançou dois editais de pesquisa no valor de R$ 590 milhões; e anunciou o primeiro concurso público em mais de dez anos.
Duas outras conquistas são estratégicas para recuperar o sistema de fomento à pesquisa e à inovação no País, como destaca o MCIT: a redução dos juros nos financiamentos para inovação nas empresas e a recomposição integral do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Com essa recomposição, o FNDCT passou a dispor de R$ 10 bilhões para investimentos em 2023.
Na abertura da 75ª Reunião Anual da SBPC, a ministra Luciana Santos também anunciou R$ 3,6 bilhões nos próximos dois anos para a recuperação, expansão e atualização da infraestrutura científica e tecnológica do país. Desse total, R$ 600 milhões serão destinados, especificamente, à consolidação e expansão da infraestrutura de pesquisa das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A ministra anunciou a liberação de R$ 50 milhões para a recomposição orçamentária e recuperação da infraestrutura das unidades de pesquisa do MCTI. No total, o Museu Paraense Emílio Goeldi e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) receberam R$ 13,8 milhões para investimentos em obras de reforma e manutenção, segundo o MCIT.
- Relatório Elsevier-Bori indica queda de 7,4% na produção de artigos científicos no Brasil em 2022 em comparação a 2021
- Considerando pesquisadores e tecnologistas efetivos, houve queda em torno de 2,36%, com 127 artigos publicados em 2021 e 124 em 2022. Considerando bolsistas de programas de pós-graduação, pós-doc, do Programa de Capacitação Institucional (PCI) e de Iniciação Científica (PIBIC), além de pesquisadores voluntários, em 2022 houve um acréscimo de 42%.
- Artigos publicados pelos pesquisadores da Empresa em periódicos científicos tiveram crescimento anual até 2019: 2.819 trabalhos. Queda nos três anos seguintes: 2.565 em 2020; 2.405 em 2021 e 2.078 em 2022”.
- Produção científica brasileira caiu de 94.428 artigos publicados em 2021 para 86.987 em 2022, uma queda de 7.441 artigos ou 7,88% em relação ao ano anterior
- Números apresentados em 2022 possuem forte reflexo da pandemia, além da evasão de talentos sofrida pelo país, do sucateamento das universidades e do congelamento dos valores das bolsas de pesquisa
- Redução dos juros nos financiamentos para inovação nas empresas e a recomposição integral do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), dispondo agora de R$ 10 bilhões para investimentos em 2023
- Anunciou R$ 3,6 bilhões para a recuperação, expansão e atualização da infraestrutura científica e tecnológica do país. Desse total, R$ 600 milhões serão destinados à consolidação e expansão da infraestrutura de pesquisa das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
- Anunciou a liberação de R$ 50 milhões para a recomposição orçamentária e recuperação da infraestrutura das unidades de pesquisa do MCTI. No total, o Museu Emílio Goeldi e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) receberam R$ 13,8 milhões para investimentos em obras de reforma e manutenção