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Campanha solidária oferece apoio a quilombolas de Moju

Comunidade Oxalá de Jacunday sofre com falta de estrutura e assistência médica e projeto busca apoio

Redação Integrada

Como seria se você fosse membro de uma comunidade negra na zona rural distante da sede de um município paraense, em que a assistência médica na área da sua e de outras 14 comunidades tivesse apenas um médico que está no posto de saúde duas vezes por semana e os moradores não tivessem recebido nenhum serviço de prevenção contra a covid-19? Pois esse é o cenário na Comunidade Oxalá de Jacunday, no Município de Moju, no Nordeste do Pará. Lá, moradores tomaram a iniciativa de promover uma campanha de enfrentamento do novo coronavírus ao mesmo tempo em que gritam por socorro para o Poder Público e a sociedade como um todo.

A decisão de proteger os quilombolas partiu dos integrantes do projeto “Perpetuar - Identidades, Ancestralidades e Territorialidades Quilombolas”. Eles idealizaram a Campanha Proteja o Quilombo na Comunidade Oxalá de Jacunday. Desde a terça-feira (26), o projeto garante a distribuição de 120 kits de higiente pessoal para as 120 famílias da área. Os kits abrangem álcool em gel, máscaras, água sanitária, sabão e detergente. São também repassados kits para as crianças, que têm, inclusive, um livro para colorir sobre a prevenção ao coronavírus. As 120 famílias envolvem 400 pessoas.

A psicóloga Samilly Valadares, 25 anos, é membro de Oxalá de Jacunday e coordena o projeto. Ela informou que a campanha é viabilizada com a parceria do Fundo Baobá e do projeto Desenvolvimento Rural e Inovação Sociotécnica (DRIS) da Universidade Federal do Pará (UFPA). “O projeto Perpetuar é uma iniciativa coletiva da comunidade com foco na preservação da nossa história e garantia da cidadania do povo negro”, destacou. 

Quilombolas são cidadãos descendentes de pessoas que foram escravizadas. O Quilombo - A Comunidade Oxalá de Jacunday é uma das 15 comunidades que compõem o Território Quilombola de Jambuaçu. Foi demarcada em 2002 (ano de fundação da Associação), após muita luta por reconhecimento e recebeu sua titulação definitiva no ano de 2006.

Grito de socorro

Essas 15 comunidades contam com um posto de saúde no território Nossa Senhora das Graças, com atendimento de médico apenas duas vezes por semana. “Nossos quilombos, desde sempre existem e resistem na contramão de todas as opressões. Nesse momento de tantas crises e pandemia, ações como essa que estamos promovendo são essenciais e urgentes. As comunidades tradicionais gritam por socorro e ninguém está ouvindo, estamos adoecendo, morrendo, mas estamos reagindo. Cuidado é resistência e seguimos nesse aquilombamento”, enfatiza Samilly Valadares. A comunidade não tem recebido ações governamentais.

No esforço da comunidade para se proteger do novo coronavírus, 500 máscaras foram confeccionadas por costureiras em Oxalá de Jacunday. Por morarem distante 42 quilômetros da sede e Moju e cerca de 80 quilômetros de Belém, as famílias quilombolas praticamente não dispõem de informações sobre medidas preventivas à covid-19.

“Precisamos do material básico  e de assistência médica para nos proteger contra a covid-19; a invisibilidade do povo negro na sociedade fica mais latente no  contexto atual, mas não desistiremos”, ressaltou Samilly Valadares.

Informações e contribuições com a campanha Proteja o Quilombo: 98395-1076.

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