Afonso Gallindo é velado no Margarida Schivasappa, em Belém
Amigos e companheiros de carreira falam do legado do cineasta, inclusive do último filme escrito e gravado por ele que deve ser lançado em breve
Na manhã desta quinta-feira (12), dia do aniversário de Belém, foi velado o corpo do jornalista Afonso Gallindo, um dos maiores nomes do cinema paraense. Amigos e admiradores se reuniram no hall do teatro Margarida Schivasappa, no Centro Cultural e Turístico Tancredo Neves (Centur), Sede Fundação Cultural do Pará (FCP), para prestar homenagens a Afonso. O corpo será cremado em um crematório em Marituba, na Região Metropolitana de Belém, ainda nesta quinta, por volta de 15h30.
VEJA MAIS
Afonso Gallindo morreu, na noite desta quarta-feira (11), aos 53 anos, por falência multipla dos órgãos. Ele lutava contra um linfoma, um segundo câncer, que atinge as células responsáveis por proteger o corpo de infecções. Ele estava internado no Hospital Porto Dias desde dezembro.
Em 2021, Gallindo foi diagnosticado com câncer de pulmão. Chegou a fazer tratamento com auxílio de quimioterapia e ficou curado. Mas, no final do ano passado, foi descoberto o linfoma. Afonso sofreu uma queda em casa, devido à fragilidade do corpo, foi internado e teve complicações no hospital.
Jornalista de formação, Gallindo foi alvo de uma nota de pesar do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor).
Confira a nota na íntegra:
O Sindicato de Jornalistas no Estado do Pará (Sinjor-PA) vem com profundo pesar solidarizar-se com os amigos, amigas e familiares do jornalista Afonso Gallindo, falecido na noite desta quarta-feira, dia 11. A diretoria do Sindicato, em nome de todas e todos os jornalistas do Pará, agradece profundamente às imensas contribuições de Afonso para a categoria, para a Amazônia e para o Brasil.
O velório do jornalista e cineasta acontece até 15h desta quinta (12), no Cine Líbero Luxardo, no Centur, na avenida Gentil Bittencourt, 650, entre Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa, em Nazaré, em Belém.
Afonso, que era servidor público da Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa), foi um guerreiro, sempre participativo nas ações sindicais com seus imensos conhecimentos. Mesmo durante tratamento médico, participou da idealização e organização do projeto Ver-O-Peso da Imagem criado em 2021, sendo o responsável pela criação do site do projeto. A iniciativa do Sinjor-PA, conjuntamente com colegas de Afonso, conseguiu arrecadar mais de R$ 11 mil, que foram distribuídos para jornalistas desempregados atingidos pela covid-19.
Além de grande referência profissional no jornalismo, Gallindo também era cineasta e publicitário. No audiovisual, foi presidente da Associação Brasileira de Documentarista e Curta-Metragistas – Seção Pará e representante da Regional Norte da ABD Nacional. Reconhecido como grande lutador pelo incentivo ao audiovisual na Amazônia e no Norte, participou da formatação da Lei do Curta, da implementação do Núcleo de Produção do Pará, antigo IAP, e foi um dos responsáveis pelas primeiras emendas para efetivar o Curso de Cinema da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Gallindo deixa um legado de solidariedade, humildade, companheirismo e combatividade por um mundo e uma Amazônia mais igualitária, justa e fraterna. Por onde passou, sempre esteve ao lado do povo oprimido.
O Sinjor-PA, todas e todos os jornalistas paraenses agradecem às suas lutas e contribuições.
Afonso Gallindo, presente!
Legado permanece vivo
Amigos próximos, que trabalharam e conviveram com Afonso Gallindo estiveram no teatro Margarida Schivasappa lamentando a perda. Um deles foi o diretor de artes cênicas Adriano Barroso, da Secretaria de Estado de Cultura (Secult).
“Ele está sendo velado aqui porque ele lutou muito pelo audiovisual paraense. Para nós, ele é uma das figuras mais emblemáticas que tem. Se essa geração hoje filma, a gente tem que agradecer bastante ao Gallindo. As lutas dele sempre foram políticas, então se hoje a gente tem uma cota nos editais do MinC [Ministério da Cultura], foi muita disputa feita por ele. Com isso, 30% dos editais vieram para o Norte. Isso é um legado que vai ficar para essa geração”, relembra.
Outro amigo do cineasta presente no velório foi o presidente da associação dos críticos de cinema, Marco Antônio Moreira, que foi programador do Cinema Olympia. Ele relembra a importância da atuação de Gallindo para que o Cinema Olympia permanecesse de pé.
“Ele sempre foi militante do audiovisual, em uma época em que tudo era muito mais difícil. Se havia uma causa em prol do cinema, ele estava lá. O Olympia foi uma das causas. Foi naquele período em que o cinema ia ser vendido, em 2006, e ele foi um dos principais nomes que conseguiu evitar que o Olympia virasse loja de departamento. Lamento que ele tenha nos deixado tão novo. Poderia ter ficado um pouco mais com a gente”, diz o amigo.
Filme póstumo deve ser lançado
Sem nunca deixar a paixão pela sétima arte, Afonso Gallindo deixou pronto um último roteiro de um curta-metragem que pretendia dar continuidade ainda este ano. ‘Zuleika’ é o nome da obra que, agora, será levada à frente por amigos e profissionais do cinema que desejam honrar a memória do cineasta.
“O Afonso tinha filmado um projeto dele, de roteiro e direção dele, chamado Zuleika. É muito poético o filme que conta a história de uma mulher solitária. Só que veio a pandemia e ele não conseguiu finalizar. Agora, com novos ares, pós pandemia, eu tinha me proposto em fazer a produção para que ele ficasse só com a parte criativa. Ele chegou a conversar com uma equipe, então a gente já sabe, mais ou menos, quem vai fazer e a ideia é lançar esse filme”, explica a amiga de Gallindo e cineasta Jorane Castro.
Ela conta que a produção deve ter entre quinze e vinte minutos e deve ser inscrito em festivais. O lançamento, por enquanto, está sendo projetado para o dia do aniversário de Afonso, em 5 de março. Jorane acredita que é um legado que vai continuar: “Hoje, no Pará, todas as políticas voltadas para o cinema tem um pouco da mão dele, das ideias dele e da luta dele. Ele se foi, mas o legado dele vai permanecer”.