Agosto Lilás: violência psicológica contra a mulher pode deixar transtornos mentais

Traumas e distúrbios estão entre possíveis consequências da violência psicológica, diz psicóloga

Camila Guimarães
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A violência psicológica contra a mulher é um dos cinco tipos de violência abrangidos pela  Lei Maria da Penha, principal instrumento legal de proteção da mulher que completa 16 anos este mês. Há pouco mais de um ano, a prática também se tornou crime, após sua inclusão no Código Penal, em 29 de julho de 2021. Porém, além do aspecto legal, a violência psicológica também preocupa do ponto de vista da saúde, pois pode desencadear transtornos que afetam a qualidade de vida da mulher por muito mais tempo.

Do ponto de vista da saúde mental, a psicóloga Christiane Macedo explica que a violência psicológica consiste numa relação abusiva em que a mulher é vítima de ameaças, chantagem, humilhação, gritos, constrangimentos, controle excessivo, e uma série de práticas que, aos poucos, vão isolando a vítima e destruindo mecanismos importantes como a autoestima e a auto confiança:

“Quando essas situações acontecem, geralmente a mulher pode ter duas reações: a do enfrentamento direto, que pode inclusive redundar em violência física contra ela, por parte do parceiro; ou a mulher tende a ir acumulando, a reagir de modo mais ‘passivo’, suportando o sofrimento, buscando justificativas para atenuar a ação do agressor, o que é é outro problema”, explica a psicóloga.

Apesar de hoje já ser considerado crime, Christiane ressalta que a violência psicológica é uma prática que já acontece há muito mais tempo, mas que, muitas vezes, passa despercebida pela vítima durante muito tempo - não pela falta do sofrimento, mas pela dificuldade de perceber algumas práticas como abuso:

“Muitas violências ainda são tratadas como brincadeiras. Quando o parceiro faz comparações que diminuem a autoestima da mulher, quando usa xingamentos, manipulações etc. Por muito tempo se naturalizou algumas práticas, mas, quando isso passou a ter um nome, as pessoas começaram a despertar”, comenta.

 

Violência pode desencadear transtornos mentais

Christiane enfatiza que, em casos de violência psicológica, dificilmente a vítima percebe ou denuncia logo no começo. Com isso, a tendência é que a prática se torne recorrente, com o prolongamento da situação de manipulação, isolamento, solidão, vergonha entre outros sentimentos nocivos à saúde mental.

“Conforme isso vai acontecendo com muita frequência, pode desencadear um transtorno bipolar, o transtorno do estresse pós-traumático, ansiedade, distúrbios do sono, pânico. Existem casos em que a mulher passou a se sentir o tempo todo vigiada, perseguida. Então a recorrência da violência psicológica pode, sim, desencadear transtornos mentais”, afirma.


Redes de apoio podem ajudar a sair do ciclo da violência

Christine orienta que uma mulher que passe por qualquer situação de abuso, suspeitando de violência psicológica, busque pelo menos uma pessoa de confiança com a qual possa falar a respeito. Geralmente, esse primeiro contato pode ser buscado entre familiares:

“Quando a gente fala de transtorno mental ou violência, a gente precisa ver quem da nossa família pode servir como rede de apoio, mesmo que seja apenas uma pessoa, mas com a qual você sabe que pode contar, que pode se refugiar. Essa pessoa precisa saber o que está acontecendo”.

Como, em alguns casos, muitas vítimas não têm familiares com que possam contar ou se sentem envergonhadas pelo medo do julgamento, Christiane aponta amigos como a segunda principal rede de apoio: “Pessoas de confiança, que estarão dispostas a acolher, sem julgar”, pontua.

Já a terceira rede de apoio, que muitas vezes é direcionada pelas redes anteriores, seriam as redes de apoio públicas, afirma a psicóloga: “É claro que a gente precisa trabalhar para que essas redes sejam mais humanizadas, mais sensíveis à mulher vítima de violência doméstica, mas elas são muito importantes, porque geralmente oferecem o apoio jurídico, psicológico e de assistência social que colaboram para a saída da mulher daquela situação”.

Por fim, Christine destaca a importância da avaliação psicológica para a mulher que sofreu violência, uma vez que é muito comum que essas mulheres saiam dos relacionamentos abusivos, mas permaneçam com a visão de si mesmas deformada pela visão imposta do abusador, impedindo a reconstrução da autoestima e da autoconfiança:

“É preciso passar por uma avaliação psicológica para perceber se ela adquiriu algum transtorno no processo. Se ela estiver depressiva, ela vai precisar do acompanhamento psiquiátrico, para restaurar esse equilíbrio mental, e também do acompanhamento psicológico, para desenvolver aspectos que foram afetados durante a violência, como a autoestima e a autoconfiança, por exemplo”.

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