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Ação militar da Rússia contra Ucrânia deve repercutir na economia paraense

Perspectivas e cenários são projetados por entidades como Faepa e Fiepa. Especialista vê a possbilidade de o Brasil se tornar um País atrativo e migratório de ativos

Sérgio Chêne

Um dos aspectos relacionados ao conflito na área de Donbass, na Ucrânia, o econômico, tem gerando grande impacto em escala mundial. A ofensiva russa deve provocar o efeito cascata e atingir as relações comerciais entre os países, de forma amena alguns, em outros mais impactante. No Brasil, as luzes foram jogadas sobre o movimento de importação e exportação de um conjunto de produtos, dentre eles soja, trigo, milho, fertilizantes, carne e, como não poderia deixar de ser, o petróleo e derivados, que deve interferir no dia a dia da economia. 

“Embora distante, a crise pode, e deve atingir em cheio o bolso do brasileiro. A guerra pode trazer pressões inflacionárias vindas do dólar. A moeda americana vinha sendo negociada no menor patamar em sete meses com apetite do investidor estrangeiro por ativos brasileiros, trazendo bilhões em divisas para a Bolsa. A tendência é que a procura por dólar aumente, o investidor compra dólares para adquirir produtos mais seguros no exterior”, avalia o professor universitário e doutor Roberto de Alcântara, atual presidente do Conselho Regional de Economia da 9ª Região (Pará/Amapá).  

Alcântara chama atenção e diz que “os combustíveis são os componentes de maior peso do nosso principal índice de inflação, o IPCA”. Na consequência do “efeito dominó”, ele lembra que a Rússia se destaca com exportador de gás natural e hidrocarboneto, enquanto a Ucrânia é uma das principais fornecedoras de trigo do mundo, e devido as sanções, deve possibilitar novas relações comerciais. “Juntas, Ucrânia e Rússia respondem por quase um terço das exportações globais de trigo (28%)”, adverte o docente. Outra possibilidade é o Brasil “se tornar um país atrativo” e migratório de ativos” como mercado “mais seguro”. “Um possível fornecedor substituto para alguns dos bens agrícolas produzidos na Rússia e na Ucrânia”. 

Para se ter uma ideia do que estar em jogo, e segundo o site Comércio Exterior do Brasil (comexstat.mdc.gov.br), em dados reunidos pelo Centro Internacional de Negócios (CIN), da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), a balança comercial entre Brasil e Rússia, em 2020, foi de US$ 4,2 bilhões, atingindo US$ 7,2 bilhões de janeiro a dezembro de 2021, numa variação de 70,59%. Tanto no ano passado quanto em 2020, a importação se sobressaiu com US$ 5,6 bilhões. 

No Pará, a balança comercial nos 12 meses de 2021 atingiu um volume de negócios de US$ 166,5 milhões na relação com o país russo. Desse volume, US$ 123 milhões foram de importação de produtos e US$ 42 milhões de exportação, números que posicionaram o Estado paraense, respectivamente, em o 8º e 13º lugares nos rankings das unidades de Federação Exportadoras e Importadoras para a Rússia no ano passado. 

A mexida no mercado global por conta do conflito entre russos e ucranianos, a depender da continuidade da ação militar em parte dos continentes europeu e asiático, pode trazer a alta nos preços de produtos em supermercados e padarias, no litro dos combustíveis e na cadeia do agronegócio, isso quando se destaca apenas alguns segmentos da Economia.  

Para se ter uma ideia do que pode estar em jogo e das possíveis perdas, em 2021 a soja representou 99,84% (US$ 42,9 milhões) da pauta de exportação paraense para o fornecimento à demanda da Rússia. Por outro lado, e assim como no restante do país, produtos usados como fertilizante, ganharam relevância. No caso do Pará, o cloreto de potássio e o didrogênio-ortofosfato de amônio, juntos, representaram US$ 80 milhões das importações de um total de US$ 123,5 milhões comercializados com a Rússia, 64,8% na participação da pauta. 

Oportunidade 

Ao mesmo tempo que desestabiliza o mercado financeiro, o conflito pode gerar oportunidades de negócios, é o que vislumbra a coordenadora do CIN da Fiepa, Cassandra Lobato. “Todo esse contexto de insegurança e que a guerra traz, afeta toda a cadeia, e dentro dessa cadeia está o nosso Estado, que pode sentir de maneira interna a sua economia. Porém, todavia, no quesito das importações, acompanhando o cenário brasileiro, a gente acredita que as exportações podem aumentar, porque o Brasil pode atender a demanda de outros países ‘clientes’ da Rússia, principalmente na questão dos grãos e minérios”, explica.  

Quanto à pauta dos produtos comercializados pelo empresariado paraense e o mercado russo e os que possam merecer maior atenção por conta da instabilidade que se desenha, Cassandra aponta. “Eu citaria os grãos, pode haver um aumento devido à questão dos fertilizantes, que a gente importa muito da Rússia, isso pode trazer o aumento dos preços de produtos do agronegócio. Com certeza vai influenciar na inflação que chega hoje a 10%”, analisa a coordenadora.  

Atenta às implicações na produção rural e no agronegócio, a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa) está alinhada às ações do sistema da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). “Entendemos que passado o impacto inicial, com a recomposição das bolsas de valores Internacionais, haverá um alinhamento geral, pois ambos os países precisam manter ativos os canais de comércio internacional”, acredita o vice-presidente da entidade, Vilson João Schuber.

Sobre a escassez de fertilizantes no mercado brasileiro diante dos prováveis embargos comerciais direcionados à Rússia, o representante da Faepa afirmou, que a produção já sentia a falta do produto. “É uma possibilidade real, pois há alguns meses notamos a redução da oferta desses insumos, atrasando inclusive o plantio de grãos em várias regiões do Centro-Oeste do Brasil e, do Pará, naturalmente”, destaca.

Um dos produtos que tende a reagir em cadeia, o petróleo deve pautar seus derivados e interferir no dia a dia das pessoas, a depender do prolongamento do conflito militar. Na última sexta-feira, 25, o preço do barril do petróleo foi cotado em mais de US$ 100 dólares. No Pará, o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural, Biocombustíveis e Lojas de Conveniência do Estado do Pará (Sindcombustíveis/Pa) emitiu uma nota. “O preço do combustível na refinaria no Brasil segue o mercado internacional. Sempre que há elevação do dólar ou do preço do barril do petróleo, ele acaba sofrendo elevação. O preço do barril do petróleo hoje atingiu o maior preço nos últimos 7 anos. Portanto, é possível que ocorra elevação natural dos preços neste cenário”, disse o comunicado.

Pará