Abelardo Santos disponibiliza Programa de Diálise Peritoneal
Até o final de julho, a unidade deve alcançar 30 pacientes de vários municípios no Pará
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) oficializou o Programa de Diálise Peritoneal do HRAS, em junho de 2021, após seis meses de projeto piloto. A unidade já atende, dentro da terapia domiciliar, a seis pacientes nos municípios de Viseu, Bragança, Terra Alta, Belém e dos distritos de Icoaraci e Outeiro. A estimativa é de que até o final deste mês de julho, o serviço alcance 30 pacientes com disfunção renal. Para fazer parte do programa, o paciente precisa solicitar o tratamento e ser regulado pela Secretaria de Saúde ao HRAS.
Na prática, assim como a hemodiálise, a diálise peritoneal tem a mesma finalidade de tirar o excesso de água e de substâncias tóxicas que deveriam ser eliminadas por meio da urina do paciente, que por ter insuficiência renal não consegue naturalmente. A diálise peritoneal, portanto, é uma técnica de substituição da função renal alternativa à hemodiálise. O grande diferencial é que essa terapia pode ser feita com o paciente em sua residência, ou seja, é uma terapia domiciliar, sem os desgastes quase diários de ir e vir ao hospital, como ocorre no tratamento convencional.
A Associação Brasileira dos Centros de Diálise e Transplante (ABCDT), a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) e a Federação Nacional dos Pacientes Renais e Transplantados (Fenapar), existem 144 mil pacientes renais crônicos no Brasil e 85% deles recebem o tratamento por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Para minimizar os impactos da hemodiálise tradicional, o Governo do Estado avança na terapia na Rede Estadual de Saúde. Em Belém, o Hospital Regional Dr. Abelardo Santos (HRAS), no distrito de Icoaraci, passou a disponibilizar a diálise peritoneal, que busca maior qualidade de vida e independência para os pacientes durante o tratamento.
“Estava com medo de voltar a fazer hemodiálise, mas a diálise peritoneal é totalmente diferente. Tenho independência, faço tudo em casa, e à noite, passo pelo procedimento. Recuperei a vida”, afirma a dona de casa e moradora de Bragança, no nordeste paraense, Ediane Guedes, 36 anos, que entrou para o programa do Aberlado Santos, em Belém, há dois meses, ainda na fase de testes do novo tratamento. Ela recebeu a máquina e as orientações da equipe multiprofissional do hospital e segue com o tratamento no conforto de casa.
Para o secretário de Estado de Saúde Pública, Rômulo Rodovalho, o tratamento é resultado dos avanços dos serviços oferecidos pelo Governo do Estado na rede de saúde estadual. “A implantação desta opção aos renais crônicos, trata-se de uma evolução que, só quem tem a ganhar são os próprios pacientes. A diálise peritoneal traz qualidade de vida imensurável, por ser um processo que ocorre dentro do corpo do renal crônico. O Hospital Abelardo Santos já possui uma clínica de hemodiálise e é referência em nefrologia, com esse novo passo, a unidade avança no leque de opções de tratamento dentro desta especialidade”, observou o titular da pasta.
“Ofertamos duas modalidades de terapia: Diálise Peritoneal Ambulatorial (DPAC) e Diálise Peritoneal Automatizada (DPA). Atualmente, já temos 20 pacientes cadastrados em avaliação para ingresso no tratamento. A terapia é diferenciada no sentido de oferecer autonomia ao paciente. O tratamento é feito em casa, com o acompanhamento de uma equipe multiprofissional que auxilia a família a como conduzir o processo e dar melhor qualidade de vida ao renal crônico”, destacou o diretor executivo do Abelardo Santos, Marcos Silveira.
Como funciona a Diálise Peritoneal
Na Diálise Peritoneal, o paciente realiza o tratamento em casa. A enfermeira especialista em Nefrologia, Ana Claudia Portal, explica que a escolha deve ser compartilhada entre paciente, a família e o médico. “Cerca de 78 % dos pacientes renais crônicos são elegíveis a realizar a terapia, ou seja, deve ser a primeira escolha de tratamento”, apontou Ana, que é supervisora do Serviço de Diálise Peritoneal do HRAS.
“Um cateter é implantado na região do abdômen na membrana peritoneal que funciona como um filtro natural removendo as toxinas e excesso de líquidos, fazendo o tratamento de forma lenta e contínua. Diariamente este processo trata o sistema renal como o cotidiano dos rins, preservando a função residual”, ressaltou a especialista.
A enfermeira ainda acrescenta os benefícios que este tipo de terapia traz ao paciente. “Assim, o renal crônico segue com qualidade de vida, liberdade, autocuidado, disponibilidade para viagens, lazer, estudos e atividades físicas”, acrescentou. Quando inicia o tratamento, uma equipe do HRAS formada por médico, enfermeiro, assistente social, psicóloga e nutricionista, faz visitas domiciliares para treinar e orientar a família sobre os cuidados e adequações as quais o ambiente deve passar para manter os cuidados necessários para a segurança do paciente.
Após 45 dias internado no Abelardo Santos, morador de Terra Alta, o agricultor Sandro Ikawa, 45 anos, ficou sabendo que era um paciente renal crônico e tinha a possibilidade de trocar a hemodiálise tradicional, para a peritoneal. “No início fiquei em dúvida porque eu não conhecia o procedimento. Então eu pensei, pesquisei e acabei achando a melhor opção. E foi. A gente se sente melhor, se desgasta menos”, contou.
Ikawa foi hospitalizado com sintomas de covid-19, mas para sua surpresa, estava com disfunção nos rins. “Foi um choque, mas hoje, estou recuperando aos poucos minha vida”, acrescentou. Ele precisou de implante no peritônio e o procedimento foi um sucesso. “Quero compartilhar o bem estar que eu sinto. Eu me desgasto menos, porque tinha que ficar com o acesso e isso incomodava. Na diálise peritoneal, não incomoda nada, a vida segue normal no dia a dia. Creio que com esse tratamento, logo voltarei aos trabalhos no campo”, comemorou Ikawa.