Pará tem maior índice de mortalidade por agravos de Aids do Brasil
Em 2019, o índice do estado foi de 7,7 óbitos por 100 mil habitantes, superior à média nacional, de 4,1 óbitos por 100 mil habitantes
Em 2019, o Pará apresentou o maior coeficiente de mortalidade pelos agravos da Aids entre as unidades federativas do Brasil. O índice do estado foi de 7,7 óbitos por 100 mil habitantes, superior à média nacional, de 4,1 óbitos por 100 mil habitantes. Os números estão no “Boletim Epidemiológico HIV/Aids”, divulgado em dezembro do ano passado, pelo Ministério da Saúde.
O boletim também mostra que Belém ficou em segundo lugar entre as capitais brasileiras com maior coeficiente de mortalidade pelos agravos da Aids neste mesmo ano, com o índice de 16,5 óbitos por 100 mil habitantes. A capital paraense ficou atrás apenas de Porto Alegre (RS), que registrou o índice de 22,0 óbitos por 100 mil habitantes.
Quando analisadas as taxas de detecção de Aids em menores de cinco anos, entre as capitais em 2019, Belém aparece em primeiro lugar com 8,3 detecções por 100 mil habitantes. Em segundo lugar, aparece Recife, com 7,5 por 100 mil habitantes e, em terceiro, Porto Velho, com 7,4 por 100 mil habitantes.
Coeficiente de mortalidade pelo agravamento da Aids (por 100 mil hab.)
Unidade Federativa / 2019:
1. Pará (7,7)
2. Rio Grande do Sul (7,6)
3. Rio de Janeiro (7,1)
4. Amazonas (6,4)
5. Amapá (5,8)
6. Roraima (5,8)
7. Maranhão (5,7)
8. Mato Grosso do Sul (5,3)
9. Santa Catarina (4,7)
10. Mato Grosso (4,4)
11. Pernambuco (4,4)
FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE
Coeficiente de mortalidade pelo agravamento da Aids (por 100 mil hab.)
Capital / 2019:
1. Porto Alegre (22,0)
2. Belém (16,5)
3. Manaus (10,5)
4. São Luís (10,0)
5. Campo Grande (9,3)
6. Rio de Janeiro (9,3)
FONTE: MINISTÉRIO DA SAÚDE
Estabilidade
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informou que, apesar desse índice ainda estar acima da média nacional, o Pará tem registrado uma estabilidade no coeficiente de mortalidade por Aids, pois foram 7,6 óbitos por 100 mil habitantes em 2017, 7,7 óbitos por 100 mil habitantes em 2018, e 7,7 óbitos por 100 mil habitantes em 2019.
"Esse cenário se deve, principalmente, ao acesso tardio ao diagnóstico e tratamento, inequidade no acesso aos serviços de saúde e impacto da coinfecção com a tuberculose. Para mudar essa situação e reduzir a mortalidade por HIV/Aids, a Sespa, por meio da Coordenação Estadual de IST/aids, vem desenvolvendo estratégias para a implementar a rede de cuidados em IST/HIV/Aids, na qual as ações são construídas com a Atenção Primária, Centros Regionais de Saúde, Centro de Testagem e Aconselhamento, Serviços de Atenção Especializada, Universidades, sociedade civil, visando a fortalecer a rede de cuidados, com ações e serviços nas de Promoção, Prevenção, Diagnóstico e Tratamento", detalhou.
A secretaria acrescentou que, além de ampliar o acesso ao diagnóstico, o objetivo é disponibilizar à população e às pessoas vivendo com HIV/Aids maior acesso aos testes rápidos e aos insumos de prevenção (preservativos), aos antirretrovirais e aos medicamentos para infecções oportunistas. "A Sespa informa, por fim, que o Pará conta, atualmente, com 84 Centros de Testagem e Aconselhamento (CTAs) e 32 Serviços de Atenção Especializada (SAEs)".
Enfrentamento
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), por meio do projeto Viva Melhor Sabendo Jovem (VMSJ), em parceria o Instituto Peabiru, Prefeitura de Belém e diversas organizações sociais, vai realizar, na segunda quinzena de abril, de forma gratuita, na capital, a segunda etapa de distribuição de autotestes de HIV e aconselhamento para adolescentes e jovens.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), a meta é ampliar a disponibilização do autoteste para pessoas de 15 a 29 anos. "Já foram disponibilizados 90 autotestes entre janeiro e fevereiro (fase 1). E, agora, a meta é alcançar mais 170 adolescentes e jovens, totalizando 260 autotestes entregues (fase 2), facilitando o diagnóstico oportuno do HIV nessa população", pontuou.
"Todo esse processo também visibiliza o debate sobre a temática da prevenção combinada às Infecções Sexualmente Transmissíveis, especialmente o HIV, junto à população de 15 a 29 anos de Belém, cujos indicadores sociais mostram que a incidência de HIV entre os jovens vem aumentando", detalhou a Sesma.
Independentemente da ação, a Sesma informou que continuará disponibilizando autotestes para todas as faixas etárias no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), localizado na avenida Almirante Tamandaré, no bairro da Campina.
O VMSJ também tem distribuição contínua dos autotestes. A solicitação é gratuita, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, por meio do telefone (91) 9 9197-0299 (Whatsapp ou ligação). Também é possível interagir e seguir o projeto via Facebook (@vivamelhorbelem) e Instagram (@vmsjbelem).
“O autoteste é um método simples e intuitivo feito pela própria pessoa. Ele funciona da mesma forma que os testes rápidos utilizados nos serviços de saúde. Desde a triagem ao pós-teste, o adolescente e jovem recebe esclarecimentos, com informações relevantes como sobre janela imunológica, a importância e orientações em relação ao uso de preservativos e prevenção combinada”, explicou Edgar Barra, articulador social do projeto.
Esclarecimento
Ainda há muito desconhecimento sobre a diferença entre HIV e Aids, conforme alertou o especialista em saúde e HIV do Unicef na Amazônia, Antônio Carlos Cabral. "Não são sinônimos. HIV é o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, mas a pessoa infectada pode viver muito tempo sem desenvolver nenhum sintoma da doença causada pelo vírus, que é a Aids", explicou.
"A doença é o estádio mais avançado da infecção. Quando a pessoa começa a apresentar infecções oportunistas, que aparecem diante da baixa imunidade ocasionada pelo vírus. Pode acometer pulmões, cérebro e outros órgãos. As infecções mais comuns são tuberculose e pneumonia", detalhou o especialista, que disse que a infecção continua a apresentar tendências de crescimento no Brasil, principalmente entre adolescentes e jovens.
Sérgio Henrique, de 22 anos, é mobilizador do projeto Viva Melhor Sabendo Jovem, do Unicef, e conta que aprendeu a ressignificar a experiência com o HIV. Ele citou que a principal transformação foi não sentir mais vergonha da condição de jovem vivendo com HIV.
"Vivi muitos estigmas e lamentáveis episódios que me marcaram e tiraram de mim o prazer em ser quem eu sou, reduzindo-me a um diagnóstico inicial. Hoje, a vergonha e a carga viral são indetectáveis (risos), e sei que posso viver melhor sabendo que tenho direito de viver, amar, me divertir e interagir com todos, assim como qualquer outra pessoa”, relatou
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