Vila colorida na 14 de Abril: conheça seu Carleo, idoso que pinta e alegra a vida dos moradores

José Vicente Carleo, conhecido por todos como 'Seu Carleo', é um modesto pintor. Aposentado, ele dedica seus dias à fazer arte no muro da vila onde mora com lembranças afetivas

Hannah Franco
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Quem anda com pressa pelas ruas de Belém nem imagina que exista uma pequena vila tão cheia de cores e vida. A vila 14 de abril é um lugar é repleto de pinturas, das paredes até o chão. O autor da arte é modesto e passa a maior parte de seus dias na companhia das tintas, sempre pensando no próximo desenho para preencher os muros de sua casa.

José Vicente Carleo, de 84 anos, mora na mesma vila há 53 anos e todos os dias dedica um tempo para pintar as paredes do lugar com imagens que vem à sua mente. Apesar da idade, Seu Carleo procura sempre estar ativo, fazendo alguma atividade. "A minha rotina é normal de uma pessoa de 84 anos, mas nunca olhei para essa idade como um descanso", disse.

Seu Carleo sempre desenhou, brincou com papel, fez coisas para escolas... Mas o hobby veio depois. Aposentado há 35 anos, começou a pintar quando se viu em casa sem fazer nada e percebeu que o muro, que tinha apenas uma cor, precisava ganhar vida. Hoje em dia, a vila é toda pintada, desde as paredes, o chão e até o banquinho que tem no meio do local que ele diz ser a 'praça' da vila.

imageCarleo mostra sua devoção através das pinturas, com decorações do Círio de Nazaré. (Foto: Elyene Coldetti)

Com três netas e um bisneto, o idoso sempre teve contato com as atividades lúdicas deles. Bonecas, revistas de colorir, desenhos animados, sempre foram fontes de inspiração para Carleo pintar os muros. Sua neta do meio, Elyene Coldetti, admira o hobby do avô.

"Ele decora a vila para o Natal, Copa do Mundo, Círio e quando o Paysandu ganha", disse orgulhosa. "Na rua, todo mundo conhece ele, é amigo de todos. Isso também o inspira, já que muitas crianças estão pintadas no muro da vila, com formas e cores únicas", disse.

imageA fachada antiga do Cinema Olympia, na Avenida Presidente Vargas, também serve de inspiração para o idoso. (Foto: Elyene Colodetti)

As imagens que ele colore são inspiradas em tudo que lhe vem na mente, registrando as suas melhores memórias afetivas. "A criatividade vem espontaneamente. Por exemplo, ao olha para o Ver-o-Peso, eu cismei e fiz o Ver-o-Peso. Ou a Igreja de Pedra, em Vigia, que eu assisti uma reportagem e pintei. Então, eu penso e faço", diz Seu Carleo.

"Quando eu era garoto e estudava na Avenida Presidente Vargas, eu assistia muito filme no Cinema Olympia. Então, como está na minha memória, eu peguei e desenhei como era antigamente, não como é atual", diz nostálgico. "E assim fui fazendo, isso pra mim é uma brincadeira, eu faço por intuição", concluiu.

image Seu Carleo durante as pinturas na vila  (Foto: Elyene Coldetti)

Com muita modéstia, Seu Carleo não se considera um artista e até se surpreende quando alguém admira seus desenhos. "Uma vez uma moça passou e disse que eu era um artista. Eu respondi que não, que eu sou bandido", disse com bom humor.

"Outro dia eu me surpreendi com um senhor que pegou a filha e pediu licença para olhar. Depois desse dia, toda vez que eles passam, a filha pede para entrar na vila e ver os desenhos", contou.

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Um hobby cheio de benefícios

Seja em um muro ou uma folha de papel, a pintura é uma ferramenta terapêutica que reduz o estresse e a ansiedade, já que ajuda a tirar da cabeça os problemas e situações difíceis do dia a dia. "Pintar me acalma demais! Me faz não pensar nas coisas da vida", disse Carleo sobre o que sente quando está com as tintas. "Mas isso aí, você toma um cerveja gelada e as coisas também vão desparecendo", brincou.

Além dos benefícios para a saúde mental, a pintura também pode favorecer o cérebro. Segundo o experimento do artista americano Neil Kerman, que também desenvolve um trabalho de terapia com o uso da arte, a pintura retarda a progressão do Alzheimer. O pincel e a tinta mostraram ajudar na melhora do comportamento social, autoestima, concentração, e a resgatar memórias. Apesar de não existir estudos científicos comprovando a eficácia da atividade para a doença, é inquestionável os progressos apresentados no experimento do artista.

"Aposentado que não faz nada 'tá lascado' na vida, vai pensar em despesas, coisas ruins", diz o idoso ainda sobre o bem que a atividade lhe faz. "Morrer todo mundo vai, só não sabe o dia, mas a esperança é que a gente viva", conclui. O fato é que, para Seu Carleo, sair toda a manhã com o banquinho e as tintas, para pintar ou repintar as artes, tem feito muito bem pra ele em todos esses anos.

(*Hannah Franco estagiária sob supervisão do editor executivo de OLiberal.com, Carlos Fellip)

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