Um mês de guerra: com demora na resolução, ONU tem imagem enfraquecida, diz especialista
Hamas x Israel: Entidade tem o papel de promover a cooperação internacional e restaurar a paz em conflitos armados
Hamas x Israel: Entidade tem o papel de promover a cooperação internacional e restaurar a paz em conflitos armados
A demora da Organização das Nações Unidas (ONU) em resolver o confronto entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que chega ao primeiro mês nesta terça-feira (7), tem sido criticada ao redor do mundo e deixou a imagem da entidade enfraquecida. É o que diz o doutor em relações internacionais João Cauby, que defende mais diálogo e transparência nos interesses das nações na guerra.
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Para o especialista, embora a ONU tenha buscado saídas, o excesso de burocracia atrapalha a capacidade de pôr fim ao conflito no Oriente Médio. “Existem vários interesses das nações em confrontos, nós sabemos disso, interesses econômicos, territoriais, o que muitas vezes trava esse processo de diálogo e de paz, e a ONU tem buscado saídas. O Brasil teve uma atuação importante na busca da construção de algumas resoluções para tentar pôr fim ao conflito ou pelo menos para estabelecer uma pausa humanitária, mas, infelizmente, a ONU não teve sucesso ainda”, comenta.
Cauby diz que confia no poder do diálogo e na diplomacia e que é preciso envolver outros países e regiões na busca pela resolução. Por exemplo, o doutor em relações internacionais cita que a União Europeia tem “papel fundamental” nesse processo de paz, assim como países do Oriente Médio. Mas, sobretudo, segundo ele, a ONU deve ser mais “efetiva” nas próximas tratativas e na busca por diálogo.
“Eu creio que, na história futura, a ONU vai ser muito condenada justamente por não ter tido a capacidade de pôr fim a esse conflito”, avalia. A imagem da ONU já está prejudicada, já está arranhada, justamente pela falta de suas ações. Não que eles não tenham buscado soluções, tanto que você vê o processo de construção e elaboração dessas resoluções de paz ou de pausa humanitária, mas a efetividade e a força da ONU nós precisamos reconhecer que diminuiu ao longo dos anos nessa aproximação de atores importantes do contexto internacional”, declara.
Durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, no dia 24 de outubro, para discutir a guerra entre Israel e o Hamas, o secretário-geral da organização, António Guterres, disse que os ataques do grupo terrorista em 7 de outubro não aconteceram "no vácuo", fazendo referência aos "56 anos de ocupação" dos palestinos por Israel. O país ocupou os territórios palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia a partir de 1967, após a chamada Guerra dos Seis Dias.
A fala resultou em um racha que culminou na proibição de Israel a vistos para funcionários das Nações Unidas. O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Gilad Erdan, cobrou a demissão de Guterres, dizendo que ele "não está apto para liderar a ONU". E o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, disse que cancelaria sua reunião com o chefe da entidade. Afirmou ainda que “não pode haver motivo para tal massacre”.
Já no dia 27 do mês passado, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma proposta de resolução da Jordânia e dos países árabes sobre o conflito entre Israel e o Hamas. O texto pedia uma “trégua humanitária imediata” na guerra e reuniu 120 votos a favor, 14 contra e 45 abstenções. Mesmo assim, Israel optou por rejeitar a resolução, já que a votação não cria obrigações legais, embora tenha peso moral devido à universalidade dos membros da ONU.
O embaixador israelense na organização, Gilad Erdan, disse que a ONU não tinha mais "nem um pingo de legitimidade ou relevância". Também afirmou que era “um dia sombrio para a ONU e para a humanidade”, prometendo que o seu país usaria “todos os meios” na luta contra o Hamas. A resolução também condena todos os atos de violência contra civis palestinos e israelenses, incluindo “ataques terroristas e indiscriminados”.
Israel já deixou claro que não haverá cessar-fogo enquanto os reféns não forem liberados pelo Hamas, porque isso seria uma “rendição”. O doutor em relações internacionais João Cauby, embora condene as ações do Hamas, diz que a defesa de Israel foi desproporcional. “Foi um ataque terrorista e condenável, a comunidade internacional condena de forma veemente, mas a reação e a defesa, infelizmente, não foram proporcionais do ponto de vista do direito internacional. Essa defesa também tem sido condenada, pelas vidas ceifadas, pelas famílias destruídas, pelo deslocamento em marcha causado por esse tipo de reação”, argumenta.
É possível, ainda, que haja uma escalada do conflito, na opinião de Cauby. Segundo ele, isso é uma “realidade”. O que pode motivar esse crescimento dos confrontos é a entrada de novos atores no conflito, diz. “Alguns grupos extremistas também já estão se movimentando, como o Hezbollah, atacando Israel também a partir do Líbano. Então, esse risco de escalada é grande. Outros países árabes estão se posicionando agora contra Israel e estão condenando agora a forma como Israel está reagindo”. Sendo nações com poder bélico, é possível que o ingresso de novas potências na guerra aumente os danos ainda mais.
O Ministério de Saúde de Gaza, controlado pelo grupo terrorista Hamas, afirmou neste domingo (5) que a contagem de mortos subiu para 9.770. Em Israel, foram 1,4 mil mortos desde 7 de outubro. E, segundo a ONU, a guerra já deixou 23 mil feridos que necessitam de tratamento imediato.
Até agora, cerca de 2.700 estrangeiros, de um total de 7.500, cruzaram a fronteira para sair da Faixa de Gaza pelo Egito - é lá que fica a passagem de Rafah, a única saída de Gaza que não é controlada por Israel. O Brasil tem 34 pessoas inscritas na lista de liberação de estrangeiros na Faixa de Gaza: 24 delas brasileiras, 7 palestinas em processo de imigração e 3, parentes próximos desses árabes.