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Reunião do Brics marca atrito diplomático entre Brasil e Venezuela

Gustavo Freitas - Especial para O Liberal

A cúpula dos BRICS em Kazan, Rússia, realizada entre os dias 22 e 24 de outubro, foi a primeira reunião do grupo desde a inclusão de novos membros neste ano, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Irã e Etiópia. Embora os sauditas não tenham confirmado oficialmente a sua entrada, estiveram presentes no evento. O BRICS se estabeleceu como uma alternativa ao modelo econômico ocidental, atraindo a atenção de potências regionais que buscam diversificar suas economias pelo mundo.

A guerra na Ucrânia e as sanções subsequentes contra a Rússia intensificaram a busca por novas alianças. Para a Rússia e a China, os BRICS representam uma oportunidade de reforçar a cooperação entre países emergentes, reduzindo a dependência dos Estados Unidos e promovendo uma ordem mundial que favoreça suas agendas. Para Moscou, a cúpula foi uma chance de demonstrar que não está isolada, apesar das pressões ocidentais, destacando que muitos países ainda veem valor na colaboração com a Rússia e que a inclusão de novos membros é um indicativo de apoio à sua posição no cenário global.

A relação entre Brasil e Venezuela foi um dos principais pontos de tensão durante a cúpula. O Brasil, representado pelo chanceler Mauro Vieira, se opôs à entrada da Venezuela nos BRICS, citando preocupações sobre a legitimidade do governo venezuelano. Celso Amorim, assessor de relações exteriores do Brasil, afirmou que a "confiança foi quebrada" com a Venezuela, especialmente em relação às eleições presidenciais que ocorreram em julho deste ano, cujos resultados não foram reconhecidos por Brasília e pela imensa maioria dos países da comunidade internacional.

O Brasil tentou mediar um diálogo com a Venezuela, mas a diplomacia brasileira saiu enfraquecida após o governo venezuelano desconsiderar as recomendações da comunidade internacional. Essa negativa em reconhecer o novo governo da Venezuela está ligada à falta de transparência no processo eleitoral, o que gerou desconfiança nas autoridades brasileiras e dificultou uma maior aproximação entre os dois países na cúpula.

Ao ser questionado sobre o ingresso da Venezuela nos BRICS, Vladimir Putin declarou seu apoio ao governo venezuelano. "Nossas posições não correspondem com a do Brasil em relação à Venezuela. Eu falo sobre isso abertamente, nós falamos sobre isso por telefone com o presidente do Brasil, com quem eu tenho uma relação muito boa", disse o presidente russo.

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Maduro viajou até Kazan de surpresa e buscou dialogar com os outros membros para conseguir a entrada da Venezuela, mas prevaleceu a opinião do governo brasileiro. "Nós acreditamos que o Brasil e a Venezuela, em uma discussão bilateral, resolverão suas relações diplomáticas", completou Putin.

Além das discussões entre os BRICS, a cúpula também recebeu a presença de dezenas de observadores de países importantes, como a Turquia, que expressou seu interesse em se juntar ao grupo. A possibilidade de adesão da Turquia ao BRICS seria particularmente significativa, já que o país também é membro da OTAN. A Turquia, sob a liderança de Erdogan, tem buscado diversificar suas alianças internacionais e, ao se aproximar dos BRICS, tenta equilibrar sua posição entre o Ocidente e os blocos emergentes.

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Durante a cúpula, outro tema que ganhou destaque foi a defesa da Palestina, frequentemente relembrada em discursos oficiais. Embora não tenha participado presencialmente, Lula esteve presente na reunião ampliada e discursou por videoconferência, afirmando que "Gaza se tornou o maior cemitério de crianças e mulheres no mundo, e essa insensatez agora se alastra para Cisjordânia e Líbano".

No entanto, a cúpula terminou sem grandes definições, deixando muitas questões em aberto. Embora tenha sido acordado um compromisso para continuar a discussão sobre a criação de um sistema de pagamento alternativo ao dólar e a importância de expandir os BRICS, não foram tomadas decisões concretas sobre a inclusão de novos membros ou uma estratégia clara para avançar nas propostas apresentadas. A falta de consenso em torno de algumas questões-chave mostra a diversidade de interesses e prioridades dos países membros, evidenciando a complexidade da dinâmica do BRICS em um cenário internacional em constante mudança.

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