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'Porta do inferno' cresce em ritmo acelerado e preocupa cientistas; entenda

Cratera na Sibéria, descoberta em 1991 por meio de imagens de satélite, vem sofrendo impactos das mudanças climáticas

Gabriel Bentes

A cratera de Batagaika, na Sibéria, popularmente conhecida como "porta do inferno", vem se expandindo de maneira preocupante de até um milhão de metros cúbicos por ano em razão do derretimento do permafrost - uma camada de gelo, rocha e sedimentos.

Localizado na remota República de Sakha, na região oriental da Rússia, o fenômeno natural com um quilômetro de extensão foi descoberto em 1991 por meio de imagens de satélite. A descoberta ocorreu após o colapso de uma encosta nas terras altas de Yana, ao norte de Yakutia.

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Esse fenômeno expôs uma camada de permafrost, que consiste em gelo, rocha e sedimentos, que permanecera congelada por 650 mil anos. Segundo o portal científico "Live Science", este é o mais antigo permafrost da Sibéria e o segundo mais antigo do mundo.

Impacto das mudanças climáticas

O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) explica que essas fendas ocorrem quando a rocha subterrânea, composta de calcário, carbonato e outros sais solúveis, entra em contato com a água e se dissolve.

Essa depressão termocárstica é um evidente impacto das mudanças climáticas, uma vez que as altas temperaturas derretem o "cimento gelado" que mantêm a solidez da terra, debilitando sua estrutura. Conforme o solo congelado libera calor, a cratera aumenta de tamanho de forma significativa.

Pesquisadores da Universidade Estatal de Lomosonov, em Moscou, e do Instituto Melnikov para o Permafrost, em colaboração com cientistas alemães, fizeram uso de um modelo geológico em 3D para analisar a cratera e concluíram que a parede da encosta está retrocedendo cerca de 12 metros por ano. A seção colapsada, que atualmente alcança 55 metros abaixo da borda, também vem derretendo em ritmo acelerado.

Segundo o estudo publicado no jornal científico "Geomorphology", a "porta do inferno" cresceu 200 metros desde 2014, chegando a 990 metros de largura. Apesar de os cientistas já terem conhecimento do aumento anual da cratera, a expansão desta vez foi a primeira vez em que se possibilitou quantificar o volume de gelo em derretimento.

Cientistas se preocupam

Embora a cratera Batagaika esteja longe de qualquer grande cidade na Rússia, seu acelerado crescimento indica um crítico aquecimento do permafrost subjacente, conforme o portal "Interesting Engineering".

A cada degelo, a matéria orgânica retida no permafrost é decomposta e dióxido de carbono é lançado na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Por ano, o Batagaika libera cerca de 5 mil toneladas de carbono a cada descongelamento.

Desde a década de 1970 até 2023, estima-se que apenas essa cratera liberou 169,5 mil toneladas de carbono orgânico, conforme afirmam os pesquisadores.

A situação torna-se ainda mais preocupante devido à possibilidade de o sumidouro potencialmente liberar na atmosfera antigos micróbios perigosos, para os quais a humanidade não está preparada.

 

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