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Paracetamol: medicamento é a principal causa de falência do fígado, aponta pesquisa

As overdoses de paracetamol foram a principal causa de falência hepática aguda nos Estados Unidos entre 1998 e 2003, de acordo com a Food and Drug Administration (FDA)

O Liberal

As overdoses de paracetamol foram a principal causa de falência hepática aguda nos Estados Unidos entre 1998 e 2003, de acordo com a Food and Drug Administration (FDA), a agência regulatória dos Estados Unidos. Em 48% dos casos, a overdose foi acidental, pois as vítimas sequer sabiam que tinham ultrapassado o limite diário, ainda segundo o levantamento do órgão.

Um estudo de 2007 do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano estima que a overdose por esse medicamento leva a 56 mil visitas ao pronto-socorro, 26 mil hospitalizações e 458 mortes por ano. Disponível livremente em farmácias, sem necessidade de receita médica, o paracetamol está entre os remédios mais consumidos de todo o mundo.

No Brasil, o paracetamol sempre aparece no topo da lista de remédios isentos de prescrição mais vendidos — seja como molécula única ou conjugada com outros fármacos. “O uso do medicamento deve ser feito com cautela, sempre observando a dose máxima diária e o intervalo entre as doses, conforme as recomendações contidas na bula, para cada faixa etária”, orienta a agência em comunicado de 2021.

Apesar de ser conhecido há mais de um século, o paracetamol ainda está cercado de mistérios: o mecanismo de ação dele ainda não foi completamente desvendado pelos cientistas. 

As evidências sobre a eficácia dessa medicação para diversos incômodos também variam — em alguns casos, como a dor na lombar, os efeitos do comprimido ou das gotas não são superiores aos do placebo, uma substância que não tem efeito terapêutico algum. Por trás desse cenário, está a alta disponibilidade dos comprimidos e a falta de orientações sobre os limites de consumo.

Risco de eventos adversos

O problema principal está na dosagem: as agências de saúde estipulam um limite de 4 gramas (ou 4 mil miligramas) por dia para os adultos. Em crianças de 2 a 11 anos, a dose de paracetamol depende do peso corporal (são de 55 a 75 mg por quilo em um dia). Já abaixo dos 2 anos, é sempre necessário consultar o médico antes de dar o remédio.

Como os comprimidos comumente trazem 500 miligramas ou 1 grama desse princípio ativo, isso significa que um adulto não pode ultrapassar as quatro ou oito unidades (a depender da dosagem) a cada 24 horas.

Entretanto, o problema é ainda mais complexo. Muitos remédios trazem o paracetamol na composição junto de outras substâncias — com isso, uma pessoa que está gripada ou resfriada, por exemplo, acaba ingerindo diversos fármacos para lidar com os sintomas (dor, febre, nariz entupido) e pode ultrapassar sem querer esse limite.

O principal problema aqui acontece no fígado, responsável por metabolizar o fármaco. Cerca de 5% do remédio se transforma em quinoneimina, uma substância tóxica para o corpo.

Alerta

Para a médica hepatologista Natalia Rodrigues Eugenio, membro titular da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH), em Belém, o paracetamol é uma droga sabidamente hepatotóxica (droga que causa lesão hepática). Ela observa que o acetaminofeno (paracetamol) é um analgésico e antipirético amplamente utilizado sem receita médica para dor e febre leves a moderadas. 

"Inofensivo em doses baixas, o acetaminofeno tem potencial hepatotóxico direto quando tomado em overdose e pode causar lesão hepática aguda e morte por insuficiência hepática aguda. Mesmo em doses terapêuticas, o paracetamol pode causar elevações transitórias de TGO e TGP (exames de sangue sobre lesoões hepáticas). Ela causa um quadro que chamamos de DILI, que seriam lesões hepáticas causadas por drogas", assinala.
 
A DILI é incomum, mas desafiadora, diz Natália. O diagnóstico de lesão hepática induzida por drogas é particularmente desafiador, uma vez que se baseia amplamente na exclusão de outras causas. Embora o acetaminofeno tenha poucos efeitos colaterais quando usado em doses terapêuticas, relatórios recentes sugerem que seu uso padrão pode resultar em reações graves de hipersensibilidade, incluindo síndrome de Stevens Johnson (SSJ) e necrólise epidérmica tóxica (NET, doença na pele). Ambas as síndromes podem ser fatais e ambas podem ser acompanhadas por evidências de lesão hepática, como repassa a médica.

Atenção

Como saber se o uso do remédio é excessivo? "Normalmente pode ser um quadro clínico totalmente assintomático (sem sintomas), porém pode progredir com amarelidão (icterícia) e desorientação. E podemos observar elevação laboratorial de TGO, TGO, bilirrubinas e até alteração no coagulograma (exame de sangue)", orienta a médica.

Natália Eugênio recomenda não utilizar essa medicação sem prescrição médica. Mas, principalmente evitar ultrapassar a quantidade sabidamente segura por dia. "A dose oral recomendada é de 660 a 1000 mg a cada 4 a 6 horas, mas não deve exceder 3 gramas por dia. As formulações líquidas para crianças estão disponíveis em concentrações que variam de 15 a 100 mg/mL; a dosagem em crianças deve ser cuidadosamente escolhida e mantida abaixo de 75 mg/kg/dia", completa.

 

 

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