ONU acusa Israel de 'atos genocidas' por ataques à saúde reprodutiva em Gaza
A comissão acusa as autoridades israelenses pela 'destruição parcial da capacidade reprodutiva dos palestinos em Gaza'
Uma investigação das Nações Unidas concluiu que Israel efetuou “atos genocidas” na Faixa de Gaza com a destruição sistemática de instalações de saúde sexual e reprodutiva.
A Comissão de Investigação da ONU afirma que Israel “atacou e destruiu de maneira intencional” o principal centro de fertilidade do território palestino. Além disso, bloqueou a entrada de medicação necessária para a gravidez, parto e cuidados neonatais.
A comissão acusa as autoridades israelenses pela “destruição parcial da capacidade reprodutiva dos palestinos em Gaza como grupo através da destruição sistemática do sistema de saúde sexual e reprodutiva”.
Segundo os investigadores, a prática se enquadra em duas das cinco categorias definidas pela Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio: a “submissão intencional do grupo a condições de existência que acarretem sua destruição física, total ou parcial” e a imposição de “medidas destinadas a impedir nascimentos no grupo”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou o relatório, que chamou de “falso e absurdo”.
“O circo anti-israelense conhecido como Conselho de Direitos Humanos da ONU (...) opta novamente por atacar o Estado de Israel com acusações falsas, incluindo afirmações absurdas” de destruição de instalações de atendimento de saúde sexual e reprodutiva em Gaza, afirma um comunicado divulgado pelo gabinete de Netanyahu.
A comissão de investigação foi criada em maio de 2021 para apurar as supostas violações do direito internacional em Israel e nos Territórios Palestinos.
Ela é presidida por Navi Pillay, ex-comissária da ONU para os Direitos Humanos, que já foi juíza no Tribunal Penal Internacional e presidiu o Tribunal Penal Internacional para Ruanda.
Israel acusa o painel de três investigadores de trabalhar “com uma agenda política tendenciosa e pré-determinada (...) em uma tentativa sem vergonha de incriminar as Forças de Defesa de Israel”.
- Destruição de 4.000 embriões -
O porta-voz do movimento islamista palestino Hamas, Hazem Qassem, declarou à AFP que o relatório “confirma o que aconteceu no terreno: um genocídio e violações de todas as normas humanitárias e jurídicas”.
O Hamas, que governa Gaza desde 2007, pediu que os líderes israelenses compareçam perante o Tribunal Penal Internacional (TPI) o mais rápido possível.
O relatório afirma que os hospitais e departamentos de maternidade em Gaza foram sistematicamente destruídos, assim como a principal clínica de fertilização in vitro do território, bombardeada em dezembro de 2023.
A comissão acredita que o ataque foi intencional e não encontrou nenhuma evidência confiável de uso militar da clínica, que armazenava 4.000 embriões.
Assim, a comissão conclui que a destruição “foi uma medida direcionada a impedir os nascimentos de palestinos em Gaza, o que é um ato genocida”.
O relatório aborda o uso sistemático de violência sexual, reprodutiva e de gênero pelo exército israelense desde o início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.
Durante a semana, a comissão organizou audiências públicas em Genebra para ouvir vítimas e testemunhas de violência sexual.
A investigação conclui que Israel estabeleceu mulheres e meninas civis como alvos diretos, atos que constituem crimes de guerra e contra a humanidade.
Também estabelece que mulheres e meninas morreram vítimas de complicações vinculadas à gravidez e ao parto devido ao impacto na saúde reprodutiva das condições impostas pelas autoridades israelenses, “atos que representam um crime contra a humanidade de extermínio”.
A comissão acrescentou que forçar as mulheres a se despirem em público, o assédio sexual e as ameaças de estupro fazem parte “dos procedimentos operacionais habituais” das forças israelenses em relação às palestinas.