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Jovens mostram pouco entusiasmo com eleições nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos o voto não é obrigatório e o público dessa faixa etária tende a não sair para votar

Gustavo Freitas - Especial para O Liberal

As imagens de comícios lotados na campanha presidencial nos Estados Unidos passam a impressão de que todos estão empolgados para decidir os rumos do país no próximo dia 5 de novembro, mas há uma parcela do eleitorado que não costuma seguir a euforia: os mais jovens.

Nos Estados Unidos o voto não é obrigatório e, historicamente, o público dessa faixa etária tende a não sair para votar. Neste ano, a polarização política entre Donald Trump e Joe Biden não tem animado estes eleitores, que embora tenham suas preferências partidárias, muitos gostariam de ver outros nomes na disputa.

A insatisfação com Donald Trump e Joe Biden reflete uma série de fatores que variam desde o estilo de liderança e a gestão de crises até as políticas econômicas e sociais implementadas por ambos. Enquanto Trump é criticado por sua abordagem polarizadora e controversa, Biden enfrenta críticas por questões de competência, desempenho econômico e cumprimento de promessas. Essa insatisfação mútua ilustra a profundidade da divisão política nos Estados Unidos e os desafios que ambos os lados enfrentam para ganhar a confiança e o apoio do eleitorado.

Outra preocupação latente com Joe Biden é sua idade e saúde. Biden é o presidente mais velho a assumir o cargo na história dos Estados Unidos, e sua capacidade de cumprir mais um mandato completo, tem sido questionada. Episódios em que Biden demonstrou lapsos de memória ou dificuldades de expressão alimentaram essas preocupações, levando alguns eleitores a duvidarem de sua aptidão para o cargo.

Embora Biden tenha implementado pacotes de estímulo econômico e promovido investimentos em infraestrutura, muitos críticos argumentam que esses esforços não foram suficientes para combater a inflação crescente e os problemas de custo de vida. O aumento dos preços de bens e serviços essenciais tem afetado negativamente a percepção pública de sua administração, especialmente entre os eleitores que enfrentam dificuldades financeiras.

Jovem critica Joe Biden: dificuldade de liderar

Michael Bade tem 23 anos, vive em Cincinnati, Ohio, e afirma que apesar do pouco entusiasmo para as eleições, é preciso fazer mudanças no país, tecendo severas críticas a Joe Biden: “Nós temos um presidente com claras dificuldades de se apresentar como um líder, causando uma má impressão para o mundo. Mas este não é o único problema, estamos vendo o aumento da insegurança e a economia está estrangulando os mais pobres. Eles dizem que está melhorando, mas ninguém acredita nisso", completou.

Michael viveu a vida inteira no estado de Indiana, um dos mais conservadores do país, e assim como a maioria, se considera um republicano. Apesar de ser um fã declarado de Donald Trump, ele discorda da forma como se comunica com os eleitores: "eu acho que ele poderia falar menos. Às vezes se irrita com os adversários e acaba criando crises desnecessárias, mas ele é assim", disse.

Mesmo com reservas, engenheiro de sotware apoia Biden

Taylor Elson tem 29 anos, trabalha no ramo de tecnologia no Texas e afirma que, para ele, a economia vai bem. “Poderia estar melhor? Sim, é verdade, mas os números são bons. O meu setor vai bem. Acho que as circunstâncias internacionais prejudicaram um pouco, mas não é tão ruim quanto dizem”, afirmou.

O engenheiro de software reconhece que o seu estado é conservador, mas não se identifica com a política adotada pelos partidos nos últimos anos: “na minha família eu sou minoria, não concordo com algumas coisas que Joe Biden faz e até acho que o líder do nosso país poderia ser alguém em melhores condições físicas, mas ele é o nosso presidente e acho que é nosso dever apoiá-lo”, completou.

Os posicionamentos políticos direcionados refletem os efeitos econômicos em diferentes áreas do país. Segundo pesquisa encomendada pela CBS, 67% dos jovens de 18 a 29 anos no país acreditam que a política seria melhor se fossem representados por alguém mais novo.

Metade destes eleitores mais jovens sente que as respectivas idades dos candidatos – o presidente Biden e a do ex-presidente Donald Trump – os deixam distantes dos seus interesses. A outra metade deles afirma que nenhum dos candidatos presidenciais compreende os jovens, e o mais importante, quando sentem isso, é relativamente menos provável que queiram votar.

A mesma pesquisa mostra que apenas 34% dos jovens nesta faixa etária estão interessados na eleição presidencial, enquanto os cidadãos acima dos 65 anos somam 74%. As novas gerações não desenvolveram os mesmos hábitos de participação política e comunitária que os pais e avós, afastando-os do sentimento de ser atuante no processo político.

Outro fator que afasta eleitores mais jovens é a realização da eleição presidencial às terças-feiras. O dia de votação no meio de semana é um dia comum, atrapalhando muitas pessoas que estão trabalhando e não tem condições de ficar horas esperando em filas de votação.

Imigração tem que ser  tratada "de forma mais humana"

Jeffy Jacob nasceu na Índia mas se mudou para o Texas aos 5 anos de idade e hoje trabalha em um hospital no centro de Houston. Ao falar da crise na fronteira no seu estado, ele afirma que as pessoas precisam ter cuidado para não serem manipulados pela mídia.

“Tirando toda a questão política e ideológica do assunto, eu acredito que tem um jeito melhor de tratar deste assunto de forma mais humana. Essas pessoas não estão cruzando a fronteira à toa, nós só precisamos achar uma forma mais adequada de lidar com isso”, disse.

Ao ser questionado sobre a escolha entre Donald Trump e Joe Biden, Jeffy demonstrou sua insatisfação com o estado político do país: “o ego deles é maior que tudo. Todas as dúvidas que o povo americano tem, nunca são respondidas. Eu não sinto que eles sabem o que nós precisamos”.

Tradicionalmente, o voto mais jovem tende a ir em maioria para candidatos democratas por maior proximidade com pautas mais progressistas e modernas. Uma pesquisa do YouGov atestou que 61% dos cidadãos com menos de 30 anos de idade, devem votar em Joe Biden, mas este número pode ser inferior devido às insatisfações políticas com o atual governo.

Apesar do desinteresse histórico na política, a guerra na Faixa de Gaza tem levado diversos universitários às ruas para protestar contra as ações do governo Biden no conflito. Diversas universidades tiveram seus campus lotados de estudantes ocupando os espaços e pedindo um cessar-fogo, causando diversos conflitos com a polícia em todo o país.

No estado do Michigan, considerado um swing state nas eleições de novembro, reside a maior comunidade muçulmana do país. Neste ano, muitos jovens aderiram a um voto de protesto e não saíram para votar em Joe Biden nas primárias do partido Democrata, alegando que o voto ao presidente estava condicionado a uma mudança de comportamento na Faixa de Gaza.

O futuro do país será decidido no próximo dia 5 de novembro, e todos os cenários indicam que os eleitores mais jovens estão cada vez mais decididos a não participar do processo.

 

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