Invasão russa na Ucrânia completa 3 anos agora sob um novo fator: Trump
O futuro da guerra na Ucrânia, que completa três anos de invasão total nesta segunda-feira (24/2), ainda é incerto, mas será decidido nas mesas de negociações entre Estados Unidos e Rússia nos próximos meses. Desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca, o governo ucraniano vive o seu momento mais sensível, sob ameaças diretas do presidente americano, que excluiu os ucranianos e os aliados europeus das negociações.
A mudança de comportamento é inédita no conflito. Os Estados Unidos apoiam a Ucrânia desde o início dos protestos em 2013 e, durante o governo Biden, o governo americano se tornou o principal apoiador da resistência ucraniana desde o início da invasão russa. De acordo com o International Economic Review (IEW), Washington já transferiu cerca de 114 bilhões de dólares para ajudar a Ucrânia nos últimos três anos.
Durante a semana, Donald Trump usou suas redes sociais para criticar Zelensky reiteradas vezes, acusando-o de ser “incompetente” e de atuar como “ditador” por não convocar novas eleições presidenciais na Ucrânia. Na última sexta-feira, 21, o presidente americano disse em discurso que está “farto” de Zelensky, enquanto se aproxima cada vez mais de Vladimir Putin, prometendo um encontro com o líder russo ainda no mês de março.
As falas provocaram indignação da União Europeia, que reagiu com um pronunciamento do porta-voz da Comissão Europeia, Stefan de Keersmaecker: "Zelensky foi eleito de maneira legítima em eleições livres, justas e democráticas. A Ucrânia é uma democracia, a Rússia de Putin não".
Protestos em 2013 acabaram por derrubar governo
Em novembro de 2013, o então presidente ucraniano Viktor Yanukovych tomou a decisão de suspender o acordo de associação com a União Europeia, uma ação que gerou protestos massivos em Kiev. As manifestações, que se tornaram conhecidas como Euromaidan, clamavam por uma maior aproximação com a Europa e a derrubada do governo de Yanukovych. Durante meses, as tensões aumentaram na capital ucraniana, resultando em violentos confrontos entre manifestantes e forças de segurança.
Em fevereiro de 2014, após uma escalada nos protestos e uma repressão violenta que resultou na morte de 26 pessoas nas ruas de Kiev, Yanukovych foi destituído do cargo e se exilou na Rússia. Esse evento gerou uma forte reação do governo russo, que considerou a mudança de governo em Kiev como um golpe apoiado pelo Ocidente, particularmente pelos Estados Unidos e pela União Europeia. A Rússia, então, iniciou uma série de ações para garantir sua influência sobre a Ucrânia e conter o que via como uma ameaça à sua segurança e domínio geopolítico.
A resposta imediata da Rússia foi a anexação da Crimeia em março de 2014. A península, que na época fazia parte da Ucrânia, foi ocupada por forças russas e, em um referendo amplamente contestado, a maioria da população votou a favor de aderir à Federação Russa. A comunidade internacional, incluindo a ONU, condenou a anexação, mas a Rússia manteve sua posição, alegando que a proteção da população de língua russa na região era uma prioridade estratégica.
Simultaneamente, o leste da Ucrânia, composto pelas regiões de Donetsk e Luhansk, entrou em uma espiral de violência. Separatistas pró-russos, com apoio implícito da Rússia, proclamaram independência e iniciaram uma guerra contra o governo de Kiev.
Em 24 de fevereiro de 2022, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou o início de uma "operação militar especial" na Ucrânia. O objetivo declarado era a "desnazificação" e a "desmilitarização" do país vizinho, além de proteger as populações de língua russa no leste da Ucrânia. As forças russas atacaram simultaneamente várias cidades ucranianas, incluindo Kiev, Kharkiv e Mariupol, marcando o início de uma invasão em grande escala.
A comunidade internacional reagiu com rapidez, impondo duras sanções econômicas à Rússia e fornecendo assistência militar substancial à Ucrânia. O apoio militar ocidental, incluindo armas, treinamento e inteligência, foi essencial para que as forças ucranianas resistissem ao avanço russo. Mesmo com o avanço das tropas russas no início da guerra, a resistência ucraniana, especialmente em Kiev e outras grandes cidades, foi mais forte do que o esperado, levando à retirada das forças russas de várias áreas no final de 2022.
Ao longo de 2023, o conflito entrou em uma fase de estagnação, com os combates concentrados nas regiões do leste e sul da Ucrânia. Hoje, as forças russas controlam a Crimeia, a maior parte da região do Donbass e cidades no sul do país. Em termos diplomáticos, houve tentativas esporádicas de negociações de paz, mas as posições dos dois lados permaneceram distantes. A Rússia continuou a insistir na “proteção das populações russas” e na “desnazificação”, enquanto a Ucrânia mantinha a posição de que seu território deveria ser restaurado sem concessões, com o apoio contínuo do Ocidente.
Agora no poder, Trump argumenta que o envolvimento contínuo dos EUA na guerra é prejudicial para os interesses americanos e que a Rússia, sob a liderança de Putin, deveria ser tratada de forma mais pragmática. Durante a eleição, Trump afirmou que a guerra “nunca teria acontecido” se ele fosse presidente e que terminaria o conflito em “24 horas”, o que não aconteceu desde a sua volta ao poder.
Do lado russo, as exigências de Moscou para uma resolução do conflito permanecem consistentes: a garantia de que a Ucrânia não se integrará à OTAN, a demarcação de novas fronteiras e uma nova eleição presidencial no país. Apesar da repentina mudança de comportamento do governo americano, o Kremlin mantém cautela nas negociações, temendo que a abertura de Washington seja momentânea e possa afastar Moscou de sua aliança com Pequim.