Indígena passa 12 anos em hospital psiquiátrico por não conhecerem sua língua
A história de Rita Patiño Quintero está retratada no documentário de Santiago Esteinou, “La Mujer de Estrellas y Montañas” (”A Mulher de Estrelas e Montanhas”, em tradução livre ao português)
Rita Patiño Quintero, indígena Rarámuri, passou 12 anos em hospital psiquiátrico por não conhecerem sua língua. Natural de Chihuahua, no norte do México, ela estava refugiada em Manter, no Kansas (Estados Unidos). Rita foi levada pela polícia em 8 de junho de 1983, após ser encontrada por um pastor da igreja metodista onde estava escondida.
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Toria Mroz foi a advogada responsável pelo caso de Rita. “Uma das primeiras coisas que fizemos foi consultar seus registros médicos. Logo no início da documentação, havia uma referência ao fato de que ela havia indicado que era de Chihuahua e que era indígena Tarahumara”, disse a especialista ao documentário. Toria declarou que, mesmo com os dados na documentação, o hospital permaneceu afirmando que não sabia de onde a paciente era.
O hospital foi processado por advogados da organização e outras 30 pessoas do quadro de funcionários, com pedido de US$ 10 milhões (aproximadamente R$ 53 milhões) por danos. Em 1995, Rita recebeu alta e voltou ao México. De 1996 a 2001, firmou-se um acordo de indenização de US$ 90 mil (por volta de R$ 476 mil), sendo US$ 32.641 (cerca de R$ 170 mil) para a ONG que auxiliou e aos advogados. O restante do valor era para auxiliar a mulher a voltar ao seu país.
Beatriz Zapata, uma freira, foi designada pela organização para cuidar do dinheiro de Rita. Entretanto, a mulher sumiu com grande parte da quantia. Mesmo com ordem judicial para devolver o dobro, o valor completo nunca foi repassado à indígena.
Rita morreu em 2018 e teve uma festa de despedida em sua comunidade. Conforme a cultura rarámuri, a celebração da morte ajuda o falecido a passar para o próximo plano, no mesmo lugar de origem — as estrelas sobre as montanhas da Serra Tarahumara. A mulher foi cuidada pela sobrinha, Juanita.
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O documentário ainda não está disponível para assistir on-line.
(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão da coordenadora de Oliberal.com, Heloá Canali)