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Guerra Ucrânia x Rússia em cenário de incerteza após vitória de Trump

Presidente eleito já expressou admiração pelo presidente russo, Vladimir Putin, ao mesmo tempo em que questionou abertamente os custos do apoio militar dos EUA à Europa

Gustavo Freitas / Especial para O Liberal

Após a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, a guerra na Ucrânia entra em uma fase de incerteza. Trump, que durante seu governo anterior manifestou posições ambivalentes em relação à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e uma postura de aproximação com a Rússia, representa uma mudança substancial em relação à política que foi defendida por Joe Biden. Para a Ucrânia, que desde 2022 enfrenta um conflito em seu território, o futuro do apoio norte-americano é uma questão que ganha novos contornos, e a postura da Casa Branca sob a liderança de Trump poderá determinar as direções da guerra.

Desde o início do conflito, Biden tem sido um aliado central para a Ucrânia. Sua administração destinou bilhões de dólares em ajuda militar, fornecendo armas de alta tecnologia, sistemas de defesa avançados e apoio logístico. Além disso, Biden trabalhou para coordenar a resposta dos aliados da OTAN e da União Europeia, impondo sanções severas à Rússia e reforçando a segurança na fronteira oriental da aliança.  Em fevereiro de 2023, ele fez uma visita a Kiev, onde reiterou seu compromisso com a soberania da Ucrânia, uma ação que Zelensky descreveu como um "momento crucial de esperança" para o país. Biden não só consolidou a linha dura contra Moscou, mas também impulsionou a agenda de fortalecimento da OTAN e a expansão da organização, com a entrada da Suécia e Finlândia na aliança como uma forma de criar um bloqueio ainda mais sólido contra a Rússia.

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Trump, em contrapartida, sempre demonstrou ceticismo em relação à Ucrânia e ao papel dos Estados Unidos na OTAN. Em seu governo, questionou abertamente os custos do apoio militar à Europa, sugerindo que os países europeus deveriam assumir uma parcela maior da responsabilidade por sua própria segurança. Suas declarações e decisões de política externa incluíram a retirada de tropas dos EUA da Alemanha e a ameaça de reduzir o apoio militar aos aliados que não aumentassem seus gastos com defesa. Para Trump, a principal prioridade em sua política externa era a contenção da China e a renegociação de acordos comerciais. Embora tenha sancionado a Rússia em resposta a ações de hacking e à interferência nas eleições de 2016, Trump evitou ações mais duras contra o Kremlin, ao mesmo tempo que expressava admiração pelo presidente russo, Vladimir Putin.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também expressou sua preocupação diante da perspectiva de um novo governo Trump. Em entrevista à BBC, ele afirmou que, embora "a Ucrânia confie na parceria com os Estados Unidos, a manutenção desse apoio depende de cada governo". Em uma declaração mais recente, quando questionado sobre a possível reeleição de Trump, Zelensky respondeu que “quem valoriza a liberdade estará do nosso lado,” uma resposta que demonstra sua esperança de que o próximo presidente norte-americano compartilhe o compromisso com a defesa da soberania da Ucrânia.

Trump promete dar prioridade a uma "política de paz" que, segundo ele, traria as partes para uma mesa de negociações em menos de 24 horas. Ele declarou várias vezes que a guerra na Ucrânia poderia ser “facilmente resolvida”, e chegou a afirmar que, se estivesse no poder, o conflito nunca teria acontecido. Contudo, suas falas são vistas por muitos analistas como uma abordagem simplista para uma crise complexa e prolongada, uma vez que as demandas da Rússia em relação à Ucrânia, incluindo o reconhecimento da anexação da Crimeia e de outras regiões, permanecem inaceitáveis para Kiev e para boa parte da comunidade internacional.

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O presidente eleito também não poupou Zelensky de críticas durante seus comícios eleitorais, chamando-o repetidamente de "o maior vendedor da Terra". Segundo o republicano, o presidente ucraniano recebeu bilhões de dólares de ajuda militar dos EUA desde o início da guerra em 2022.

"Isso não significa que eu não queira ajudá-lo, pois tenho muita pena dessas pessoas. Mas ele nunca deveria ter deixado a guerra começar. A guerra é uma derrota", disse Donald Trump.

Para a população ucraniana e seus aliados, a mudança de governo nos EUA é, portanto, uma fonte de incerteza que se soma aos desafios enfrentados no campo de batalha e na reconstrução de cidades destruídas. Nos últimos meses, a Ucrânia tem resistido ao avanço das tropas russas com o apoio das armas e dos sistemas de defesa fornecidos pelo Ocidente. Mas, sem uma garantia clara de continuidade desse auxílio, o futuro da resistência ucraniana está em jogo.

A Europa, por sua vez, também avalia suas opções. Embora o apoio europeu à Ucrânia seja forte, a capacidade de mobilizar recursos sem o auxílio dos EUA ainda é limitada. Alemanha, França e Reino Unido lideram o apoio logístico e humanitário ao conflito, mas enfrentam suas próprias limitações econômicas e políticas. A falta de uma liderança americana clara na aliança ocidental poderia forçar a Europa a rever suas políticas de segurança e defesa, possivelmente assumindo uma postura mais independente, porém menos robusta em termos de poder militar.

A mudança na presidência dos Estados Unidos vem em um momento crítico para a Ucrânia. O comandante-chefe da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi, disse que a situação na linha de frente “continua difícil” e certas áreas “exigem renovação constante de recursos de unidades ucranianas" em uma declaração no último sábado, 2.

O presidente ucraniano disse esta semana que já teve uma conversa “produtiva” com Donald Trump após a sua eleição. “Ainda não podemos saber quais serão suas ações específicas. Mas esperamos que a América se torne mais forte. Este é o tipo de América que a Europa precisa. E uma Europa forte é o que a América precisa”, disse Zelensky.

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