EUA e China fecham acordo parcial e firmam trégua em guerra comercial
Acordo ainda levará semanas para ser colocado no papel e pode ser assinado em novembro no Chile
Acordo ainda levará semanas para ser colocado no papel e pode ser assinado em novembro no Chile
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira que os negociadores americanos chegaram a um "substancial" acordo com a China. Com isso, os dois países concordaram em uma trégua temporária na guerra comercial travada entre as duas potências econômicas no último ano e meio e os EUA suspenderam a imposição de novas tarifas sobre produtos chineses, agendada para o próximo dia 15.
Nos últimos dois dias, a delegação chinesa, liderada pelo vice-premiê Liu He, esteve em Washington. Segundo o presidente dos EUA, esta é a "fase um" do acordo, que ainda levará semanas para ser colocada no papel e pode ser assinada em novembro por ele e o presidente chinês, Xi Jinping, no Chile.
A China concorda em elevar para valores entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões as compras de produtos agrícolas dos EUA. O acordo também terá disposições sobre propriedade intelectual - americanos alegam que os chineses forçam transferência de tecnologia para o país. Do outro lado, os EUA suspendem a imposição de tarifas na casa de 30% sobre US$ 250 bilhões de produtos chineses.
Não houve mais detalhamento, o que fez com que as altas expectativas do mercado do início do dia esfriassem. O índice S&P 500 encerrou o dia em alta de 1,1%. O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, afirmou que há um "acordo fundamental em pontos-chave", mas disse que "ainda há uma quantidade de trabalho significativa a ser feita". No Brasil, o Ibovespa registrou valorização de 1,98%.
A próxima fase das negociações deve começar "em breve", segundo Trump. "É um grande acordo, que está sendo feito em partes." Segundo o presidente dos EUA, a previsão é de que haja duas ou três etapas. A divisão em fases permite que os dois países adiem debates sobre questões consideradas de maior complexidade. Os americanos adiantaram, por exemplo, que a discussão sobre a empresa Huawei não será feita agora.
A queda de braço incluiu frequentes imposições de tarifas americanas sobre os produtos chineses, com reação do país asiático, além de tentativas de negociação muitas vezes frustradas. Por isso, parte dos analistas duvida que o acordo possa promover mudanças estruturais nas práticas comerciais chinesas, como os americanos têm buscado conseguir.
Chad P. Bown, pesquisador do Peterson Institute for International Economics, questionou se haverá um comunicado conjunto, com detalhes dos compromissos firmados. "Esse elemento importante faltou na trégua de Trump e Xi de dezembro de 2018, assim como nas subsequentes minitréguas", escreveu o especialista em comércio exterior no Twitter. Bown destacou que se as tarifas já impostas não forem revistas, o cenário global seguirá bem diferente do anterior à guerra comercial. Segundo ele, a tarifa média dos EUA sobre produtos da China é de 21% - ante 3% de antes da escalada da disputa.
Os EUA argumentam que a China está envolvida em inúmeras práticas injustas relacionadas a tecnologia e propriedade intelectual nos EUA. A praticamente um ano das eleições presidenciais, Trump tenta chegar a um acordo sem abrir mão de sua promessa de pressão sobre a potência asiática. Parte da base eleitoral do republicano sofreu o impacto pela imposição de tarifas às importações chineses, como os produtores de soja.
Enquanto apoiadores de Trump comemoraram como um avanço relevante a negociação da primeira etapa do acordo, críticos o acusam de tentar criar uma pauta positiva em meio às notícias sobre o processo de impeachment contra ele.
"Ainda que a pausa na atual guerra comercial seja boa notícia (...), ainda há uma longa estrada pela frente", avaliou David A. Wemer, diretor associado do think tank Atlantic Council.