Em pronunciamento, Macron diz que nomeará um premiê 'nos próximos dias' e descarta renúncia
'O mandato que vocês me confiaram democraticamente é de 5 anos, e o cumprirei até o final", em 2027', disse Macron nesta quinta-feira (5/12)
O presidente da França, Emmanuel Macron, se dirigiu ao país nesta quinta-feira (5) em um discurso televisionado, no qual indicou que irá nomear "nos próximos dias" um primeiro-ministro para substituir o conservador Michel Barnier, destituído pelo Parlamento, e descartou renunciar, no momento em que se multiplicam os pedidos para que deixe o cargo.
"O mandato que vocês me confiaram democraticamente é de 5 anos, e o cumprirei integralmente até o final", em 2027, declarou Macron no discurso. Durante a fala, ele afirmou que "a extrema direita e a extrema esquerda se uniram" para provocar a queda de Barnier e semear "a desordem".
O próximo primeiro-ministro terá a missão de "formar um governo de interesse geral que represente todas as forças políticas de um arco de governo em que ele possa participar ou, ao menos, que se comprometa a não censurá-lo", disse.
A presidente da Assembleia Nacional, Yaël Braun-Pivet, recebida por Macron nesta quinta, espera que o novo sucessor de Barnier seja nomeado "rapidamente" para "não deixar que a incerteza se instale".
O presidente de centro-direita recebeu o premiê destituído no Palácio do Eliseu, um dia após o Parlamento votar uma moção de censura contra seu governo apresentada pela esquerda radical e apoiada pelo partido extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen.
Macron "tomou conhecimento" da destituição do premiê, afirmou o Eliseu, e especificou que Barnier e sua equipe tratavam "dos assuntos correntes até a nomeação do novo governo".
O presidente almoçou no Eliseu com o líder do partido centrista Movimento Democrático (MoDem), François Bayrou, que está entre os possíveis nomes para suceder Barnier, segundo fontes próximas.
"Beco sem saída", "círculo vicioso": a preocupação e a exaustão são evidentes entre os franceses entrevistados pela AFP. A França ficou sem governo durante várias semanas após as eleições antecipadas de julho, que resultaram em uma Assembleia Nacional (Câmara baixa) sem maiorias claras e dividida em três blocos irreconciliáveis (esquerda, centro-direita e extrema direita).
A queda de Barnier foi provocada pela rejeição de seu orçamento para 2025, que incluía medidas de austeridade consideradas inaceitáveis para a maioria legislativa, mas que ele apresentava como indispensáveis para estabilizar as finanças francesas.
A moção de censura interrompeu todo o plano financeiro do Executivo e levou à renovação automática do atual orçamento para o próximo ano.
Os mercados mantiveram-se calmos, com a Bolsa de Paris subindo ligeiramente e os rendimentos dos títulos do governo francês com tendência de baixa.
A agência de classificação financeira Moody's advertiu que a queda de Barnier "aprofunda a estagnação política" e "reduz a possibilidade de consolidar as finanças públicas".
- Quebra-cabeças -
Não há indícios de quanto tempo Macron levará para nomear o sucessor de Barnier ou qual será sua orientação política.
Entre os potenciais candidatos ao cargo estão o ministro da Defesa, Sebastien Lecornu, e o ex-premiê socialista Bernard Cazeneuve.
Tanto a esquerda como o centro ou a direita parecem estar longe de chegar a um acordo sobre um novo governo de coalizão.
Para os centristas e a direita, trabalhar com os socialistas e os ecologistas significa que estes últimos precisam se distanciar do partido de esquerda radical A França Insubmissa (LFI), com o qual formam a Nova Frente Popular (NFP), a principal força da Assembleia.
O LFI anunciou nesta quinta-feira que o seu partido censuraria qualquer primeiro-ministro que não viesse da aliança de esquerda. Mas a esquerda radical exige, sobretudo, a demissão do chefe de Estado e eleições "presidenciais antecipadas".
Socialistas e ecologistas afirmam estar dispostos a firmar compromissos com o bloco central, que se comprometeria, em contrapartida, a não censurar um governo de esquerda.
A extrema direita, que desempenha o papel de árbitro e precipitou a censura de Barnier, garante que deixará o futuro chefe de governo "trabalhar" para "reconstruir um orçamento aceitável para todos".
A votação que provocou a queda de Barnier foi a primeira moção de censura bem-sucedida desde que o governo de Georges Pompidou foi derrotado em 1962, durante a presidência de Charles de Gaulle.
O clima de incerteza na França acontece antes da reabertura, no sábado, da catedral de Notre-Dame, restaurada após o incêndio de 2019.
Entre os convidados internacionais para o evento está o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
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