Delegação de Israel viaja ao Catar para negociar próxima fase da trégua em Gaza
A primeira fase terminou em 1º de março sem um acordo sobre as etapas posteriores
Israel enviou uma delegação ao Catar, nesta segunda-feira (10), para retomar as negociações sobre a prorrogação da frágil trégua na Faixa de Gaza, estabelecida com o movimento palestino Hamas e com o qual persistem grandes divergências.
A delegação saiu de Israel no meio da tarde, indicou à AFP um responsável próximo às negociações.
A primeira fase terminou em 1º de março sem um acordo sobre as etapas posteriores, que devem acabar de maneira definitiva com a guerra desencadeada pelo ataque de Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.
A delegação israelense é liderada por um funcionário de alto escalão do Shin Bet, a agência de segurança interna, e pelo mediador responsável pelos reféns, Gal Hirsch.
"A ocupação (israelense) continua violando o acordo e se recusa a iniciar a segunda fase, revelando suas intenções de esquivar e adiar", afirmou o movimento islamista em um comunicado.
Após o fim da primeira fase, Israel bloqueia a entrega de ajuda a Gaza e no domingo anunciou o corte do fornecimento de energia elétrica ao território.
A Autoridade Palestina denunciou, nesta segunda-feira, uma "escalada no genocídio" dos habitantes de Gaza após a decisão israelense.
"Usaremos todas as ferramentas à nossa disposição para trazer os reféns de volta e garantir que o Hamas não esteja mais em Gaza", declarou o ministro da Energia israelense, Eli Cohen, após ordenar o corte da eletricidade.
Um porta-voz do Hamas, Abdul Latif Al Qanua, afirmou que cortar a energia elétrica prejudicará os reféns israelenses que permanecem em Gaza.
"A decisão de cortar a eletricidade é uma opção fracassada e representa uma ameaça para os prisioneiros (israelenses), que só serão libertados por meio de negociações", destacou em um comunicado.
A única linha de transmissão entre Israel e Gaza abastece a principal central de dessalinização do território palestino.
Ao menos 600.000 pessoas se beneficiam desta produção de água potável, disse à AFP Jonathan Crickx, porta-voz da Unicef nos Territórios Palestinos.
No entanto, embora a estação possa manter o mínimo de atividade graças a seus painéis solares, a população dependerá, a partir de agora, da água dos poços, contaminada devido à sua altíssima salinidade, ou das entregas de água das ONGs internacionais, destacou outra fonte da ONU em Gaza.
Centenas de milhares de palestinos vivem em barracas no território, onde as temperaturas à noite podem cair até 12 graus.
Izzat Al Rishq, um dos líderes do Hamas, cortar a energia elétrica em Gaza é "uma tentativa desesperada de pressionar nosso povo e sua resistência".
VEJA MAIS
- "Trégua a longo prazo" -
O Hamas deseja que a segunda fase da trégua, negociada com a mediação do Catar, Egito e Estados Unidos, inclua a troca de todos os reféns por prisioneiros palestinos, a retirada completa de Israel de Gaza, um cessar-fogo permanente e a reabertura dos pontos de passagem de fronteira para acabar com o bloqueio.
O enviado especial americano Adam Boehler, que nos últimos dias teve contatos diretos com autoridades do Hamas, disse ao canal CNN no domingo que é possível chegar a um acordo "em questão de semanas" e libertar os reféns restantes. Segundo ele, uma "trégua a longo prazo está muito próxima".
Dos 251 reféns capturados durante o ataque de 7 de outubro, 58 permanecem retidos em Gaza, incluindo 34 que o exército israelense confirmou como falecidos.
A primeira fase da trégua, que começou em 19 de janeiro, permitiu acabar temporariamente com 15 meses de conflito, uma guerra que forçou o deslocamento de quase todos os 2,4 milhões de habitantes de Gaza.
Durante este período, 25 reféns israelenses vivos e oito falecidos foram liberados em troca de quase 1.800 palestinos sob custódia israelense.
A trégua também permitiu a entrada de alimentos e assistência médica para a população.
Em Jabalya, ao norte da Faixa de Gaza, Abu Mahmud Salman, de 56 anos, reclama que "não há nada disponível", enquanto espera em uma fila para receber a farinha distribuída pela ONU
"Os mercados estão vazios (...) os preços são altos e não há renda. A situação em Gaza é difícil", disse à AFP.
O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 provocou as mortes de 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo números oficiais.
A campanha de retaliação de Israel deixou pelo menos 48.467 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, números considerados confiáveis pela ONU.