Argentina gera tensão diplomática ao anunciar construção de cerca na fronteira com a Bolívia
A medida, anunciada para conter travessias ilegais de pessoas e combater o contrabando, gerou "preocupação" nas autoridades bolivianas
Uma cidade do norte da Argentina abriu nesta segunda-feira (27) uma licitação para a instalação de uma cerca de 200 metros na fronteira com a Bolívia. A medida, anunciada para conter travessias ilegais de pessoas e combater o contrabando, gerou "preocupação" nas autoridades bolivianas.
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"Foi solicitada a construção de uma cerca linear [...] para evitar que as pessoas cheguem à cidade sem passar pela migração", declarou Adrián Zigaran, interventor da cidade de Aguas Blancas, à reportagem da AFP.
De acordo com Zigaran, a estrutura terá 2,50 metros de altura e será instalada no trajeto entre a aduana argentina e um terminal de ônibus, antes do acesso ao rio Bermejo, que forma a fronteira natural entre os dois países.
O rio Bermejo está localizado na chamada "Rota da droga", conforme classificado pelo Ministério da Segurança da Argentina. No entanto, também é utilizado por argentinos que atravessam para a cidade boliviana de Bermejo em busca de produtos mais baratos, retornando com mercadorias para revenda.
"Passam ares-condicionados, geladeiras de duas portas, eletrodomésticos de última geração, como 10 viagens por dia. A verdade é que estão rompendo o tecido comercial de Orán e do norte argentino com esse descontrole de importação de mercadoria ilegal", afirmou Zigaran.
A proposta de construção da cerca foi apresentada inicialmente em 24 de janeiro, mas a oficialização do projeto provocou reações da diplomacia boliviana.
No domingo (26), o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia emitiu um comunicado expressando "preocupação" com o anúncio. Segundo as autoridades bolivianas, questões relacionadas à fronteira devem ser resolvidas por meio de diálogo bilateral, alertando que "qualquer medida unilateral pode afetar a boa vizinhança e a convivência pacífica entre povos irmãos".
A instalação da cerca faz parte do chamado "Plano Güemes", lançado em dezembro do ano passado pelo governo de Javier Milei, com o objetivo de "combater os crimes federais".
As ações estão concentradas na província de Salta, no norte da Argentina, a cerca de 1.600 quilômetros de Buenos Aires, onde o governo intensifica os esforços para frear o tráfico de drogas e outras atividades ilícitas.