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Ancestrais da população humana chegaram perto da extinção, revela estudo

Crise evolutiva extinguiu cerca de 98,7% da população da época

Gabriel Bentes
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O simples fato da população humana existir hoje, e em grande quantidade, é por, talvez, uma grande sorte. Um estudo publicado na revista Science nesta quinta-feira (31/08), revela que, entre 930 mil e 813 mil anos atrás, uma crise evolutiva quase extinguiu os ancestrais dos humanos, eliminando 98,7% da população da época. Porém, graças à um pequeno grupo de espécimes, nos 117 mil anos seguintes ocorreu um crescimento demográfico, resultando uma diversidade necessária para uma expansão da população.

Uma das maiores dúvidas entre os cientistas era sobre a falta de registros do hominídeos na África e na Eurásia. "O que sabemos é que os fósseis, entre 900 mil e 600 mil anos atrás, são muito escassos, se não inexistentes, ao mesmo tempo em que, tanto antes quanto depois disso, há um número bem maior de evidências fósseis", destaca Giorgio Manzi, antropólogo da Universidade Sapienza, de Roma, e um dos autores do estudo. "O mesmo pode ser dito sobre a Eurásia. Por exemplo, na Europa, temos espécies conhecidas como Homo antecessor cerca de 800 mil anos atrás e, então, absolutamente nada até 200 mil anos.", reitera o cientista.

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Os gargalos populacionais, como são identificadas as reduções significativas no número de um grupo, são comuns. Quando um evento, como guerra, fome ou crise climática, devasta uma espécie, a queda resultante na diversidas de genética pode ser observada por meio da descendência daqueles que sobreviveram. E é assim, também, que se pôde identificar o estrangulamento da população humana no Hemisfério Norte em um tempo mais recente, há cerca de 7.000 anos.

Com uma tecnologia chamada FitCoal (sigla para processo coalescente rápido em tempo infinitesimal), pesquisadores da China, Itália e  Estados Unidos utilizaram sequências genômicas modernas de 3.154 indivíduos e compreenderam que por mais de 100 mil anos os primeiros ancestrais passaram por uma drástica queda populacional. Mudanças climáticas são os principais fatores dessa redução, segundo, segundo Manzi. A exemplo, eras glaciais desencadearam alterações na temperatura, secas severas e extinção de espécies que poderiam servir de fonte de alimento para os espécimes da época.

O especialista ressalta que, "embora essa pesquisa tenha iluminado alguns aspectos dos ancestrais do início ao médio do Pleistoceno, há muito mais perguntas a serem respondidas desde a descoberta dessa informação". Ele também considera que os resultados do estudo representa um avanço significativo. "A lacuna nos registros fósseis africanos e euroasiáticos pode ser explicada cronologicamente por esse gargalo no início da Idade da Pedra. Coincide com esse período proposto de perda significativa de evidências fósseis." aponta o especialista.

"O fato de o FitCoal poder detectar o antigo gargalo, mesmo com algumas sequências, representa um avanço", afirmou, em nota, o autor sênior Yun-Xin Fu, geneticista populacional teórico do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em Houston. "A descoberta abre um novo campo na evolução humana porque evoca muitas questões, tais como os locais onde esses indivíduos sobreviventes habitavam, como superaram as mudanças climáticas catastróficas e se a seleção natural durante o gargalo acelerou a evolução do cérebro humano", complementou, também em nota, o especialista em genômica evolutiva funcional Yi-Hsuan Pan, da East China Normal University (ECNU).

Segundo o estudo, estima-se que 65,85% da diversidade genética atual tenha sido perdida devido ao gargalo no início do Pleistoceno Médio. Os autores sustentam que tempo prolongado mais a pouca quantidade de indivíduos reprodutores ameaçaram a humanidade atual. "Porém, a queda populacional também pode ter contribuído para um evento de especiação, onde dois cromossomos ancestrais convergiram para formar o que é atualmente conhecido como cromossomo 2 nos humanos modernos", conta Manzi. "Assim, inferimos que o último ancestral comum de denisovanos, neandertais e humanos modernos foi descoberto." reitera o pesquisador.

Segundo os autores, os cientistas terão que continuar pesquisando bastante para entender como uma pequeníssima população "persistiu em condições supostamente complicadas e perigosas". Mudanças climáticas e o controle do fogo, que ajudaram a tornar o planeta mais conveniente para moradia, podem ter contribuído para um rápido crescimento populacional após essa época crítica da Terra.

"Essas descobertas são apenas o começo. Os objetivos futuros com esse conhecimento visam pintar um quadro mais completo da evolução humana durante esse período de transição do início para o Pleistoceno Médio, que, por sua vez, continuará a desvendar o mistério que é a ancestralidade e a evolução humana primitiva", ressaltou Li Haipeng, teórico geneticista populacional e biólogo computacional do Instituto de Nutrição e Saúde de Xangai, Academia Chinesa de Ciências.

(*Gabriel Bentes, estagoário sob supervisão do editor web de OLiberal.com, Felipe Saraiva)

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