Além da Ucrânia: veja 7 países ou regiões que também enfrentam guerra neste momento
Em alguns deles, os conflitos sangrentos já duram anos, deixando milhares de mortos e desalojados
Desde que começou, no dia 24 de fevereiro, a guerra entre Ucrânia e Rússia ganhou as manchetes dos principais jornais do mundo. Estima-se que o conflito já provocou centenas de mortes de civis e forçou 2 milhões de pessoas a fugirem de suas casas. Diante desse cenário, a situação humanitária no território ucraniano é considerada preocupante, porém, em outras partes do mundo, há mais mortes e sofrimento causados por guerras que não estão recebendo tanta atenção e ajuda internacional. As informações são da BBC Brasil.
"Foi surpreendente em nosso continente perceber que nem todos os conflitos armados são tratados com a mesma falta de determinação que muitos dos combates na África recebem", escreveu o jornalista argelino-canadense Maher Mezahi ao comparar a repercussão do conflito da Ucrânia com outros na Etiópia e Camarões.
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Ele observa que nos conflitos africanos há declarações de preocupação e enviados internacionais em missões, “mas nenhuma cobertura 24 horas, nenhuma declaração televisionada ao vivo de líderes globais e nenhuma oferta entusiasmada de ajuda”, declarou. "Somos todos iguais, mas uns são mais iguais que outros”, disse.
Veja outros seis países que estão em guerra
Iêmen
Classificado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a pior situação humanitária do mundo, o conflito já dura pelo menos 11 anos. No país já morreram mais de 233 mil, incluindo 131 mil por causas indiretas, como falta de alimentos, serviços de saúde e infraestrutura. Há ainda 2,3 milhões de crianças em desnutrição aguda. Falta água potável e atendimento médico à população.
O conflito tem suas raízes no fracasso de um processo político que deveria trazer estabilidade ao país após a Revolução Iemenita de 2011 - que foi parte da Primavera Árabe - que forçou o presidente autoritário de longa data, Ali Abdullah Saleh, a entregar o poder a seu vice, Abdrabbuh Mansour Hadi.
O movimento Houthi, que defende a minoria muçulmana xiita Zaidi do Iêmen e combateram uma série de rebeliões contra Saleh durante a década anterior, aproveitou-se da fraqueza do novo presidente e tomou o controle de sua região central do norte da província de Saada no início de 2014 e começaram a avançar para o sul.
Desiludidos com o governo, muitos iemenitas comuns apoiaram os houthis e no final de 2014 os rebeldes começaram a tomar a capital, Sanaa. O conflito também preocupa o Ocidente por causa da ameaça de ataques - como da Al-Qaeda ou de afiliadas do Estado Islâmico - que emanam do país à medida que se torna mais instável. Outros países da região também passaram a se envolver na guerra.
Etiópia
Na Etiópia, a guerra entre o governo central e um partido político na região de Tigré, que começou em novembro de 2020, não tem sinais de que deve acabar em breve - e estima-se que mais de 9 milhões de etíopes precisam de algum tipo de ajuda humanitária. Há relatos de crimes de guerra, como chacina de civis e estupros em massa.
O conflito também deixou 900 mil pessoas em situação de fome, segundo estimativa do governo americano.
Mianmar
A região enfrenta tensões políticas e étnicas há anos e para muitos analistas o país vive uma guerra civil, com o aumento da violência nos últimos meses.
Os militares do Tatmadaw (Exército) deram um golpe em Mianmar e assumiram o controle do país em 1º de fevereiro de 2021, após uma eleição geral vencida por ampla margem pelo partido da líder Aung San Suu Kyi (NLD).
Ativistas da oposição formaram uma campanha incitando a desobediência civil, com greves e protestos em massa contra o golpe, mas os militares resolveram dispersar os movimentos usando a violência.
A ONG humanitária International Rescue Committee estima que os conflitos que se espalharam por todo o país desde que os militares tomaram o poder já deslocaram 220 mil pessoas no ano passado. Além disso, mais de 14 milhões de pessoas (mais de 25% da população do país) precisam de algum tipo de ajuda humanitária. Acredita-se que mais de 10 mil pessoas morreram desde fevereiro do ano passado.
Haiti
Desde que o presidente do país Jovenel Moïse foi brutalmente assassinado, em julho de 2021, o país vive uma nova espiral de violência
Ariel Henry, que havia sido nomeado por Moïse como novo primeiro-ministro, assumiu interinamente o país, mas ele vem sendo contestado por diversos grupos.
Algumas gangues têm exigido que Henry renuncie, e o premiê escapou de um atentado contra sua vida em janeiro. As gangues vêm espalhando violência pelo país e são financiadas em parte pelo sequestro de estrangeiros, que se tornou um problema sério para as autoridades.
Além da crise provocada pelos conflitos, a situação humanitária da população se agravou ainda mais com um terremoto que atingiu o País em agosto, um mês após o assassinato de Moïse, matando mais de 2 mil pessoas.
Síria
Mais de 380 mil pessoas já morreram desde o início dos protestos contra o presidente Bashar al-Assad da Síria em 2011. A guerra civil de grande escala já dura mais de uma década e teve o envolvimento de potências estrangeiras - como Rússia, EUA, Reino Unido e França – que começaram a tomar partido, enviando dinheiro, armas e combatentes, e à medida que o caos piorava, organizações jihadistas extremistas com seus próprios objetivos, como o grupo extremista autodenominado Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda, também se envolveram.
Considerado um dos mais sangrentos conflitos do planeta dos últimos anos, a guerra na Síria deixou 2 milhões de pessoas com algum tipo de ferimento. Mais da metade da população do país antes da guerra (que era de 22 milhões) teve que deixar suas casas. Muitos estão dentro do país ainda, mas Líbano, Jordânia e Turquia receberam grande parte dos refugiados.
Militantes islâmicos na África
Grupos de militantes islâmicos se voltaram cada vez mais para a África, após a derrocada do Estado Islâmico em 2017 no Oriente Médio. O objetivo é tentar dominar diversas regiões de diferentes países — como Mali, Niger, Burkina Faso, Somália, Congo e Moçambique.
Os ataques de grupos militantes aumentaram significativamente no ano passado. Há denúncias de extensa destruição em todo o norte de Moçambique pelos militantes, com relatos de assassinatos, decapitações e sequestros. Em um incidente, 50 pessoas foram decapitadas em um campo de futebol em um fim de semana.
Diante da crescente insurgência, o governo moçambicano convidou conselheiros militares dos EUA para que soldados americanos treinem as forças locais.
Há temores de que esse conflito possa ser prolongado, gerando inúmeras mortes e problemas humanitários.
Afeganistão
Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA, o governo americano invadiu o país alegando que o Talibã esteve por trás dos atentados. Foram duas décadas de intensos combates e milhares de mortes, mas o grupo extremista conseguiu voltar ao poder em agosto de 2021.
Apesar do nível de violência ter caído bastante no país, ONGs alertam que o país pode enfrentar uma das mais graves crises humanitárias que já se viu por causa das sanções e isolamento impostos por grande parte do mundo.