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Tranças são tendência e sinônimo de fortalecimento da autoestima de mulheres

Além do embelezamento, as tranças representam uma fonte de renda significativa para muitas mulheres

Ana Laura Carvalho

Para muitas mulheres, as tranças são mais do que um penteado. Representam um verdadeiro empoderamento e um meio de elevar a autoestima. Esse é o caso de Flávia Soares, 36 anos, que há quatro anos se dedica profissionalmente ao trabalho de trançadeira. Flávia faz parte do Coletivo de Trançadeiras do Estado do Pará e, em entrevista ao Grupo Liberal, conta como essa paixão começou.

“Tudo começou quando eu ainda era criança, porque quando se cresce numa família preta, você meio que intuitivamente aprende a trançar. Trançamos umas às outras na família, trançamos as amigas. Eu sentia essa necessidade de me profissionalizar. Me qualifiquei, procurei um salão de estética afro que dava cursos aqui em Belém”, relembra Flávia. Hoje, ela atende clientes em casa ou no bairro do Guamá, em Belém.

A história de Flávia é um exemplo de como a profissão de trançadeira se entrelaça com a tradição e a cultura afro-brasileira. Ela se qualificou em um salão de estética afro em Belém e, desde então, vem se aprimorando constantemente. “Hoje em dia eu atendo em casa ou na casa de clientes. As técnicas de trança são variadas. O mundo das tranças é gigante e ele está crescendo cada vez mais. Para me atualizar, além de acompanhar pessoas nas redes sociais, tanto no coletivo, quanto de amigas trançadeiras, a gente troca muita experiência. Sempre tem um material novo, uma técnica nova”, explica.

O universo das tranças é vasto e cheio de inovação, observa Flávia. “Às vezes, as próprias clientes trazem essas tendências para a gente. Então, como a gente já tem a base, a gente sabe fazer uma trança solta, uma box, um entrelace. Essa atualização acontece na adaptação dessas técnicas. A gente usava muito jumbo. Cabelo orgânico, que é o cabelo cacheado que a gente aplica uma técnica de trança e costura. E tem agora o borro, que é um cabelo que a gente trança com cachos. Então, tem uma variedade de material, de insumos, cor e tamanho”, detalha Flávia.

“As tranças são um empoderamento, embelezamento e o fortalecimento da autoestima dessas mulheres que querem trabalhar e melhorar isso”, comenta.

A contadora Roberta Coelho, cliente de Flávia, destaca a importância das tranças em sua vida. “Eu gosto de tranças e tenho o hábito de trançar meu cabelo. Esse hábito começou com a minha mãe. Eu já usei cabelo rosa, cabelo azul, tranças nagôs. Já usei cabelão, coque, uma variedade de tranças. Hoje, estou optando pelo cabelo curto, por conta da idade, do calor, e eu quero algo mais prático. Eu sempre gostei de estar trançada porque a gente acorda mais bonita. Dorme de touca e acorda bonita”, revela Roberta.

Para Roberta, as tranças são também uma maneira de se reconectar com suas raízes e sua identidade. “Eu me sinto bonita. Como eu cresci dentro do movimento negro, é uma maneira de me achar bonita. Eu gosto do meu cabelo. Conta um pouco da minha história”, diz ela, reforçando o aspecto de empoderamento e afirmação cultural que as tranças proporcionam. “Dentro do movimento negro, eu tive espelho: aquelas mulheres que trançavam o cabelo. Tudo para lembrar da nossa situação histórica. Dentro do movimento negro, eu passei a admirar as mulheres e querer ser igual a elas”, completa.

Além do embelezamento, as tranças representam uma fonte de renda significativa para muitas mulheres. “Hoje em dia, as tranças não são a minha renda principal, porque eu estudo, tenho minha família. Mas muitas mulheres são essa fonte de renda única dentro de uma casa. Por exemplo: muitas mães solos trabalham e sustentam seus filhos disso. Até porque é uma atividade que tem flexibilidade. Assim como você pode ter o seu espaço, você pode trabalhar na sua casa. Muitas mulheres começam trabalhando dentro de casa”, ressalta Flávia.

Fonte de renda

Ela aconselha quem quer começar na profissão a precificar o trabalho de forma justa. “A pessoa aprende aos poucos a precificar o seu trabalho. Aos olhos da sociedade, não é algo muito barato. Uma trança simples no cabelo de uma pessoa que queira fazer uma tiara, varia de R$ 50 a R$ 150. Uma das tranças que mais saem são as box braids e dão muito trabalho. É um trabalho artesanal, manual, onde a gente coloca a nossa alma mesmo naquilo que a gente faz”, afirma.

Flávia também faz questão de desmistificar alguns mitos sobre as tranças.

“Quem tem vontade de fazer as tranças, tem que fazer. Tem que ter essa experiência. Quando uma pessoa que nunca fez me procura, eu sempre deixo claro: tranças não doem, não dão mau cheiro, não dão caspa nem piolhos. As pessoas precisam s​e desconstruir. Muitas chegam até com medo”, comenta.

Manutenção

Ela orienta suas clientes sobre a manutenção das tranças, que deve ser feita com cuidado para preservar a beleza e a saúde dos cabelos. “A gente tira essa parte da frente, que fica mais visível, que mais tem o crescimento do cabelo e vamos refazer. Para algumas técnicas não têm como fazer manutenção, porque você teria que tirar, trançar de novo, então não vale a pena. A manutenção diária que a gente indica é lavar o cabelo com shampoo, secar com o secador, se possível, e não precisa de mais nada. Se for um cabelo orgânico, cacheado, para mantê-lo, é bom passar um óleo ou uma gelatina. Não tem segredo: é lavar e secar. Quando a trança é bem feita, elas se mantêm bonitas, durante todo o período de duração, que é mais ou menos três meses”, explica Flávia.

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