Mulheres se destacam com a diversidade do empreendedorismo em Belém
Transformando adversidades em oportunidades de negócios, mulheres se reinventam em busca de fonte de renda
Transformar adversidade em oportunidade é um negócio feminino. Dão provas disso as histórias por trás de empreendimentos criativos e diversos encabeçados por mulheres, em Belém. De artesanato com biojoias a tranças afro, mulheres se reinventam em busca de fonte de renda, dando vazão para seus talentos, habilidades e saberes.
Na última quarta-feira (30), 36 empreendedoras expuseram seus serviços e produtos na "Expo Mulheres da Amazônia", evento que encerrou as programações da Secretaria de Estado das Mulheres (Semu) em alusão ao Outubro Rosa, campanha de conscientização sobre o câncer de mama. Entre as expositoras estava a artista visual e artesã Anne Loureiro, de 37 anos. Ela é coproprietária de uma papelaria criativa artesanal que busca refletir a cultura paraense em seus produtos.
Nas capas dos cadernos feitos à mão, ilustrações que traduzem cenários e traços da cultura amazônica e paraense chamam atenção. Os desenhos são todos autorais: "criamos a coleção Botânica, toda feita pelo meu esposo, a partir de papel reciclado - tudo manual - e depois criamos duas novas coleções com temas 'Pará' e 'Raízes', que representa mulheres negras, mulheres fortes - estas já desenhadas pela minha cunhada. É um negócio familiar mesmo", apresenta Anne.
Anne conta que, assim como acontece com centenas de milhares de mulheres no Brasil, entrou de cabeça no empreendedorismo após a chegada da maternidade: "eu era administradora de uma clínica de hemodiálise. Quando engravidei, não consegui mais voltar a trabalhar e decidi montar o meu negócio, junto com meu esposo, que também é artista visual, para poder ficar mais perto do nosso filho, que hoje tem três anos".
Há dois anos e meio no mercado, Anne considera que empreender é uma atividade desafiadora: "Empreender é muito difícil, pela falta de oportunidade. Estar numa feira como essa traz visibilidade, networking, mas é difícil empreender no Brasil de todas as formas. Sendo mãe e empreendedora, ainda é um pouquinho mais difícil. A gente tem casa, filho e ainda tem que produzir".
A artesã conta que divide a carga com o esposo: "um fica com o filho enquanto o outro faz alguma coisa", mas é ela a cabeça por trás do negócio: "Eu que penso as coleções e vou planejando a empresa. A gente é um negócio de família, então a gente tenta conciliar as coisas para conseguir fazer tudo a o mesmo tempo".
A sensibilidade e a oportunidade também andam juntas na história da empreendedora Natália Reis, conhecida como Nathy Muiraquitrança. Trancista há mais de 15 anos, sua profissão hoje começou de uma dor que ela identificou e decidiu transformar em beleza:
"Eu comecei a partir do momento que eu me tornei mãe. A minha filha é negra e ela não gostava do próprio cabelo. Eu vi que eu precisava fazer com que ela aceitasse o cabelo dela. Então, eu comecei a pesquisar e aprender a fazer o trançado e tornei ele a minha fonte de renda. Hoje, há mais de 15 anos, trabalho e vivo a partir das tranças", relata Nathy.
A trancista conta que correu atrás de especializações até mesmo fora do estado e, hoje em dia, se orgulha de exercer seu trabalho não apenas pelo sustento que ele garante para sua família, mas pela transformação que é capaz de gerar na vida das clientes:
"É muito importante a autoestima da mulher, não só da minha filha, mas da maior parte dos clientes que eu atendo, que chegam no salão por conta de estar triste com a aparência, estar em transição ou não ter a aceitação do próprio cabelo natural e a trança vem trazer isso, não só fortalecer mas resgatar a autoestima da mulher".
Além de diverso, sensível e criativo, o empreendedorismo feminino também é solidário - é a lição que buscam deixar as empreendedoras Liege Maia e Elma Ramos - membros da Rede de Cooperação Mãos Solidárias (Recomsol), organização que agrega pessoas para fomentar a economia solidária no Pará. Suas atividades envolvem o desenvolvimento de talentos e habilidades dos agregados para transformar em produtos e serviços que gerem renda.
Foi assim que aconteceu com a artesã Elma Ramos: "eu estou na economia solidária desde 2005, mas já tenho 30 anos fazendo artesanato. O artesanato veio para somar com a renda da minha família, mas, além dele, eu também trabalho buscando despertar em outras mulheres a questão da independência financeira".
Elma conta que, além de produzir seus materiais, dá aulas de pintura em tecido, grafismo marajoara, customização de camisetas e até confecção de mantos para a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, no período do Círio. "A gente vai fazendo esse trabalho, divulgando para outras mulheres para que elas venham também somar conosco no grupo para que a gente possa nos fortalecer", comenta.
Já Liege Maia se dedica à confecção de biojoias - trabalho que virou fonte de renda, depois que ela se aposentou por invalidez devido a um câncer: "essa renda me ajuda bastante no meu tratamento, principalmente para compra de medicamentos", conta. Com a produção das biojoias, por meio da cooperativa, Liege diz que já chegou ao reconhecimento internacional:
"Um dia uma das fundadoras da rede Recomsol nos convidou para produzir biojoias para ir para a Itália e, com isso, começamos a ser reconhecidas por lá fazendo terços, colares, pulseiras, brincos e, hoje em dia, a rede cresce fazendo vários tipos de biojoias", conta Liege, para quem o empreendedorismo é um novo fôlego de vida.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA