MENU

BUSCA

Mães Atípicas celebram histórias de luta e superação

No Pará, o Dia da Mãe Atípica destaca os desafios e a importância de políticas públicas para mães de crianças com TEA, TDAH e TOD

Jamille Marques | Especial em O Liberal

O Pará deu um passo importante no reconhecimento e valorização de mães que enfrentam desafios únicos ao criar filhos com deficiências, transtornos ou condições de saúde específicas. Instituído pela Lei nº 10.744, no dia 28 de outubro de 2024, o Dia da Mãe Atípica celebrado no dia 30 de novembro, destaca histórias de amor, resiliência e luta por direitos.

Para algumas mães, o caminho para a criação dos filhos é marcado por desafios atípicos. O Transtorno do Espectro Autista (TEA), o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Opositor Desafiador (TOD) são apenas algumas das condições que demandam muito mais do que o simples cuidado diário. Elas exigem adaptação, paciência, muito aprendizado e um forte desejo de garantir uma vida de qualidade para esses filhos.

O Processo de Diagnóstico e a Adaptação Familiar

A advogada Lorena Ranieri Tschertasch, é mãe de João Pedro, de 9 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e TDAH. Lorena compartilha que as primeiras suspeitas surgiram antes de João completar um ano. “Ele não olhava nos olhos, não acompanhava movimentos. Isso nos levou a buscar respostas e iniciar terapias desde cedo”, explica. Para ela, ser mãe atípica é uma missão: “Deus nos escolhe porque sabe que somos capazes. Precisamos ser melhores a cada dia, sem desistir, mesmo com as dificuldades”.

Lorena destaca as adaptações realizadas em casa e a importância de criar uma rotina que inclua João Pedro em atividades diárias. “No início, adaptei tudo ao mundo dele, mas percebi que o mais importante era trazê-lo para o nosso mundo. Hoje ele arruma a mesa, participa das tarefas e tem o apoio da irmã mais velha.”

Apesar de avanços pessoais, Lorena lamenta a falta de suporte público: “Nas escolas, o acompanhamento especializado ainda é insuficiente. Muitos pais acabam gastando muito em terapias particulares, o que nem sempre está ao alcance de todos” afirma.

Superando Desafios: A Importância da Terapia e da Paciência

Entre as histórias de mães atípicas, a autônoma Simone da Silva Figueiredo, cuida do neto Paulo Henrique, de 11 anos, que tem diagnóstico de Transtorno Opositor Desafiador (TOD) e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Ela assumiu essa missão após a morte da filha, há dois anos. “Foi tudo novo para mim. Além de lidar com a perda da minha filha, tive que aprender tudo sobre os transtornos dele. Precisei aprender com terapeutas e psicólogos a lidar com ele, a me manter calma, e isso impactou toda a minha rotina”, relata.

A avó relata que se mantém calma para ajudar o neto em momentos difíceis, especialmente quando ele se sente ansioso por mudanças na rotina. “Ele fica muito agitado com eventos na escola, mas aprendi a acalmá-lo com estratégias simples que as terapias ensinaram.” Para Simone, o Dia da Mãe Atípica é um marco importante: “É uma oportunidade de união entre famílias que compartilham histórias parecidas e de luta por direitos que ainda nos faltam, como medicamentos gratuitos e acesso a terapias eficazes.”

Programa Cuidar

Joana Darc, psicóloga e presidente do Programa Cuidar, acompanha de perto essas realidades. O projeto, que atende mães e familiares de pessoas em situação de dependência, busca oferecer apoio psicológico e ferramentas práticas. “Essas mulheres não enfrentam apenas os desafios do cuidado diário, mas também barreiras sociais e falta de políticas públicas adequadas”, relata.

Joana também reforça a necessidade de políticas públicas mais abrangentes: “O diagnóstico precoce e o acesso a terapias ainda são privilégios. Precisamos garantir que todos tenham as mesmas oportunidades.”

Ela também ressalta a importância do apoio emocional e psicológico para mães atípicas e seus familiares. “Essas mães são verdadeiras heroínas, mas muitas vezes negligenciadas. O programa busca não apenas apoiar as crianças, mas também fortalecer quem cuida delas, pois o bem-estar das mães é essencial para o desenvolvimento dos filhos”, afirma Joana.

A Luta por Inclusão e Políticas Públicas

Tanto Lorena quanto Simone enfatizam a falta de políticas públicas adequadas para o atendimento de crianças com necessidades especiais. “O autismo não é uma doença, mas as terapias são caras e as escolas não têm estrutura adequada”, lamenta Lorena.

Enquanto Simone, por sua vez, revela que precisa comprar medicamentos essenciais para o neto porque não estão disponíveis na rede pública. “Os medicamentos do Paulo Henrique não são fornecidos de graça, eu que compro. Ele tem TDAH e TOD, e sem a medicação, ele fica muito agitado e não consegue se concentrar nas coisas. É uma dificuldade a mais, porque o custo é alto e nem sempre temos acesso ao tratamento adequado”, afirma Simone.

O que é TEA, TDAH e TOD?

O TEA é uma condição que impacta a comunicação, interação social e comportamentos desde a infância. Enquanto o TDAH é um transtorno neurobiológico caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade. Aparece na infância e pode acompanhar a pessoa por toda a vida. Já o Transtorno Opositor Desafiador (TOD) é uma condição psiquiátrica que se caracteriza por comportamentos desafiadores e impulsivos, como desobediência, agressividade, raiva, provocação e ressentimento. O TOD é mais comum na infância e adolescência, mas pode surgir mais tarde.

A Maternidade e a Avó Atípica

Ser mãe ou avó de uma criança com necessidades especiais é, sem dúvida, uma tarefa que exige muito mais do que o comum. É necessário um grau de paciência, dedicação e amor que transcende as barreiras do convencional. As histórias de Lorena e Simone ilustram como essas mães e avós estão não apenas lidando com os transtornos, mas também buscando ser agentes de mudança, lutando por inclusão e melhores condições para seus filhos e netos. Essa luta, no entanto, precisa ir além do campo individual. É essencial que a sociedade reconheça a importância de investir em políticas públicas que atendam às necessidades dessas crianças e suas famílias, para que possam ter um futuro mais igualitário e inclusivo.

Mulher