CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Economia criativa gera alternativa de trabalho e renda para mulheres

No Brasil, os homens recebem salários, em média, 22% maiores aos das mulheres; a economia criativa representa um caminho para diminuir essa disparidade

Eva Pires

As mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço na economia criativa, formada por atividades, produtos e serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos para a gerar trabalho e renda. Essa macroárea da economia abrange negócios dos segmentos do design, da moda, das artes, do artesanato, do teatro, da música, do cinema, da publicidade, e representa uma alternativa para mulheres como fonte de renda principal ou complementar, reinserção social, além de contribuir para reduzir a diferença de remuneração salarial entre homens e mulheres.

No Brasil, essa diferença aumentou de 20,7%, em 2017, para 22%, em 2021, entre homens e mulheres que executam as mesmas tarefas, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O motivo apontado pelo Instituto foi o impacto desigual sobre os dois grupos pela pandemia da covid-19, uma vez que ela acabou afetando mais as trabalhadoras mulheres pelo peso maior da dupla jornada.

Entretanto, a economia criativa segue apresentando uma recuperação rápida no cenário pós-pandêmico. Segundo o Observatório do Instituto Itaú Cultural, no primeiro trimestre de 2023, a área teve crescimento de 12% em comparação ao mesmo período de 2021, por meio da criação de 814 mil novos postos de trabalho.

Estudante entra no mundo da economia criativa por meio da moda em crochê

A crocheteira Elana Araújo, de 22 anos, desenvolveu interesse pelo mundo da moda desde a infância, quando ganhou sua primeira máquina de costura e começou a criar roupas para si e suas bonecas. Mas foi só na pandemia, em busca de atividades para passar o tempo em casa, que a estudante de Belém, mais conhecida como Ellan, investiu na moda em crochê. Com a crescente procura pela moda artesanal, exclusiva e sustentável, ela usou seu talento manual e criatividade para dar início a sua própria marca, a Puts Arte. Hoje, Ellan vêm expandindo seu negócio online e faz parte do grupo de mulheres inseridas na economia criativa, que lutam por um espaço mais igualitário no mercado de trabalho.

image Equilibrar o tempo entre o lado criativo e empresarial, somado com outras jornadas de trabalho, são desafios comuns nesse ramo (Foto: Ivan Duarte | O Liberal)

"Pouco depois de ter aprendido a crochetar, em 2020, recebi muito incentivo de amigos para começar a vender as peças que fazia. Meus amigos foram meus primeiros clientes e os que mais divulgaram a minha marca no início", relembra.

Para Ellan, trabalhar com moda significa ter várias fontes de inspirações, desde roupas que viu na rua, até desfiles ou redes sociais, como o Pinterest. "Me inspiro em estilos pouco comuns, como o Upcycling, que reutiliza materiais e partes de roupas para criar novos modelos. Gosto de inovar no crochê, incorporando correntes e spikes, o que ajudou a criar uma identidade própria para as peças da marca", destaca.

Atualmente, a crocheteira usa o Instagram para criar conteúdo e promover sua marca online. A jovem relata que fazer fotos e vídeos interessantes foram uma das habilidades que precisou desenvolver. "A frequência de stories ajuda a manter os clientes interessados e os reels são uma boa forma de captar novos públicos".

O desafio de competir com a indústria de moda rápida

O artesanato, por ainda ser uma prática predominantemente feminina, enfrenta desvalorização e desafios específicos. Ellan conta que um dos obstáculos é a dificuldade da clientela em aceitar os valores dos produtos, mesmo sendo exclusivos e feitos à mão. Nesse contexto, trabalhar com slow fashion, uma alternativa sustentável à moda globalizada, significa enfrentar grandes empresas que exploram trabalhadores, geralmente mulheres, e utilizam material de baixa qualidade para produzir produtos baratos em larga escala.

image A crocheteira Elana Araújo, de 22 anos, desenvolveu interesse pelo mundo da moda desde a infância (Foto: Ivan Duarte | O Liberal)

"Meu conselho para outras mulheres na moda artesanal é não seguir a lógica de cobrar mais barato para ganhar mais clientes. Tentar competir com os valores de grandes marcas é desvalorizar a própria arte. O custo material e tempo precisam ser considerados, caso o contrário, o trabalho se torna exaustivo e não compensa no fim do mês", opina.

Equilibrar o tempo entre o lado criativo e empresarial, somado com outras jornadas de trabalho, são desafios comuns nesse ramo. Muitas vezes, a sobrecarga dessas mulheres não é considerada pela sociedade. "Penso que nos acostumamos a explorar mulheres para fazerem roupas. Pessoalmente falando, além de administrar uma marca, tenho outro trabalho e faço faculdade e, frequentemente, preciso ter jogo de cintura para explicar que as peças não ficam prontas da noite para o dia", pondera.

Nos dias atuais, muitas mulheres, inclusive de Belém, estão ousando em seus estilos e utilizando peças artesanais, inspirando outras a fazerem o mesmo, é o que diz a crocheteira. Exemplos como a cantora Gaby Amarantos, que destaca-se em eventos de moda nacionais, impulsionam marcas criativas e adeptas do slow fashion. Essa tendência também ganha espaço em grandes desfiles como o São Paulo Fashion Week, evidenciando um movimento crescente em direção à moda artesanal e sustentável, apesar dos desafios ambientais ainda presentes no setor.

Instagram: @putsarte

Economista orienta mulheres a alcançarem sucesso na economia criativa

De acordo com a economista de Belém Cindy Ornela, como um dos principais pilares da economia criativa é a inovação, há uma relação direta entre a sua expansão e o desenvolvimento de novos setores econômicos. "O economista Schumpeter defende que o progresso econômico não se dá de forma linear e gradual, mas sim por meio de rupturas e revoluções tecnológicas", pondera.

A especialista afirma que a economia criativa permite que as mulheres ocupem posições de liderança. Dessa forma, esssa presença feminina crescente contribui para a diversificação do mercado, enriquecendo-o com novas perspectivas e experiências.

"Uma pesquisa do Sebrae junto a Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizada em 2022, considerou que as mulheres demonstram maior competência em implantar programas de inovação em seus negócios. Além disso, historicamente, a maior referência de microcrédito direcionado ao empreendedorismo demonstrou que a taxa de sucesso com mulheres é superior quando comparada aos negócios geridos por homens", informa.

Ainda, a economista revela quais as principais estratégias para mulheres que desejam prosperar nesse segmento da economia:

Invista em um plano de comunicação efetivo, utilizando de forma inteligente as redes sociais. Essa é uma boa ferramenta para aumentar o reconhecimento do trabalho de mulheres na economia criativa, principalmente, se direcionada a estabelecer uma conexão com as suas histórias. Isso pode gerar, inclusive, uma identificação com outras mulheres e servir como fonte de inspiração.

 Amplie o seu repertório de conhecimentos e experiências como forma de obter um diferencial competitivo, o que pode ampliar a visão estratégica de atuação quando novas oportunidades surgem. Isso pode ser feito por meio de plataformas gratuitas de educação, cursos e workshops para desenvolver suas habilidades técnicas, criativas e de gestão.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Mulher
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!